Acusação deve insistir que os réus sejam julgados por homicídio doloso

O juiz Carlos Alberto Garcete ouviu na tarde desta segunda-feira (30) os acusados pela morte do adolescente Wesner Moreira da Silva, de 17 anos, em fevereiro deste ano, Thiago Giovani de Marco Sena, de 20 anos, e Willian Henrique Larrea de 30 anos. Esta foi a última audiência do caso antes de decisão que pode levar acusados ao júri.

Os réus chegaram e saíram da audiência escoltados por militares do Batalhão de Choque da Polícia Militar, conforme pedida da defesa, que alegou que clientes teriam sido ameaçados por manifestantes.

Willian foi primeiro a narrar os fatos do dia do crime. Ele relata que haviam lanchado e em seguida iniciado a lavagem de uma caminhonete. Conforme depoimento, precisou ir ao banheiro e teve a porta aberta por Wesner, que bateu em suas costas e correu, iniciando uma perseguição. Ele relatou que o adolescente teria caído ao chão, momento em que o pegou no ombro e o desceu em pé. Thiago teria se aproximado e batido o ar em cima da roupa do adolescente que na mesma hora passou mal.

“Perguntei se ele estava bem ele disse que estava com dor de barriga, vomitou e ficou inchado. Peguei o carro e fomos levar ele no meu hospital. Ele foi vomitando no meu colo. Fomos para o hospital e disseram que ele seria entubado. Jamais imaginei que perderia ele, éramos amigos, jamais imaginei que ia chegar na proporção que chegou”, relatou.

Willian pontuou que Thiago não pediu para Wesner ser segurado. “Brincadeira com a mangueira do compressor era direto. Ele (Wesner) também fazia. Chegava perto e batia. Eu sabia que era perigoso no ouvido e no olho, mas era comum bater com a mangueira no corpo um do outro.

'Não achei que ar pudesse matar', diz dono de lava-jato em última audiência

Thiago iniciou depoimento dizendo que não viu o início da brincadeira, mas que Willian teria dito, enquanto segurava Wesner, que queria descontar algo.

“O Willian disse, vamos descontar o que ele fez para gente. Saí debaixo do carro, ele colocou o Wesner na frente e eu encostei o ar na região das nádegas dele e ele já disse ai minha barriga” e vomitou”, relatou o réu, que repetiu a versão do percurso até o hospital.

O dono do lava-jato lembrou que após deixar o jovem no CRS Tiradentes, buscou a mãe do Wesner e levou até a Santa Casa, já que o adolescente já havia sido transferido. “No caminho contei o que tinha acontecido, pedi perdão e estive junto na Santa Casa o tempo todo, só saí porque a família estava alterada e nervosa. Em seguida fui me apresentar na polícia”, disse.

O acusado pontuou que não tinha consciência de que a pressão do ar poderia transpassar um short jeans de tecido grosso. “Se eu soubesse que pudesse acontecer isso jamais faria. Senso crítico diz que se você apertar no ouvido ou no olho pode machucar, mas não imaginei que o ar pudesse penetrar e causar a morte”, disse Thiago.

Thiago afirmou ainda que não tinha instrução sobre a utilização do compressor. “Se existe um manual por negligência minha não tive acesso. Se Willian foi orientado, foi em outro lugar”, disse.

Defesa da família de Wesner

Samuel Trindade, assistente de acusação do MPE (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), disse ao jornal Midiamax que a alegação de que o compressor não foi introduzido não convence, diante das lesões provocadas e nenhuma marca no vestuário do adolescente;

A acusação deve insistir que os réus sejam julgados por homicídio doloso.

Próximos passos

O juiz Carlos Alberto Garcete deve solicitar ao Instituto de Criminalista os resultados de exames pendentes, que ainda devem ser anexados aos autos. O prazo é de cinco dias.

Após o prazo o processo entra na fase de alegações finais, em que defesa e acusação tem prazo de cinco dias para apresentar alegações finais. A partir daí o magistrado define se réus vão a júri.

Caso

Wesner deu entrada na Santa Casa de Campo Grande no dia 3 de fevereiro em estado grave, após ter sido agredido com uma mangueira de compressor por seu patrão e um funcionário do lava-jato onde trabalhava.

Ele precisou passar por uma cirurgia que retirou 20 centímetros do intestino. Depois disso, chegou a apresentar melhora no quadro de saúde, mas voltou a ter hemorragia e foi levado para a CTI (Centro de Tratamento Intensivo) novamente. No dia 14 de fevereiro ele não resistiu e morreu.

Logo após sua morte, a polícia pediu a prisão preventiva dos dois envolvidos, o que foi negado pelo juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, da 1ª Vara do Tribunal de Júri de Campo Grande. Ele alegou que o delegado Paulo Sérgio Lauretto não trouxe “fundamentação quanto à concreta necessidade da prisão preventiva dos envolvidos”.

No dia 3 de março, com faixas e cartazes pedindo justiça, cerca de 30 pessoas entre familiares e amigos de Wesner protestaram em frente ao Fórum de Campo Grande. Eles reivindicam agilidade no processo judicial.