Ações do Gaeco prendem diretores e reforçam indícios denunciados há anos

Há pelo menos oito anos o IPCG (Instituto Penal de Campo Grande) vem sendo alvo constante de denúncias de corrupção e esquemas de tráfico de drogas envolvendo agentes penitenciários, diretoria e presos. Neste mês, investigações do Gaeco sobre os mais diversos crimes no estabelecimento penal levaram à prisão do diretor Flúlvio Ramires da Silva e de outros três servidores, durante a Operação Chip.

Em 2009 as primeiras matérias relatando suposto esquema de corrupção do IPCG foram publicadas pelo Jornal Midiamax. Na época, a Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) abriu investigação para apurar a negociação de regalias entre agentes penitenciários e os ‘líderes do presídio’.

Aparelhos de DVDs, uma fábrica de bebida artesanal, o livre comércio de drogas, transações em dinheiro e até uma academia clandestina frequentada pelos presos, foram encontradas na investigação. Os agentes ainda negociavam autorizações de visitas e até transferência de celas. Pelo peço indicado pelos servidores os internos conseguiam praticamente qualquer coisa.

Desde dessa época também, as denúncias de entrada de materiais ilícitos pela cantina do presídio são feitas pelos próprios internos. Celulares, alimentos, porções de drogas, cigarros e bebidas, eram vendidos muito acima do preço de mercado. Em fevereiro deste ano, o esquema foi novamente denunciado ao Midiamax.

Para funcionar, o esquema envolvia os servidores, a suposta facilitação da diretoria do IPCG e presos considerados líderes no estabelecimento penal. No tráfico, segundo as denúncias, agente penitenciários seriam os responsáveis por pegar a droga na rua e entregar nas mãos dos presos certos dentro da unidade, tudo mediante ao pagamento de propina.

Na cantina, a droga era revendida pelo triplo do preço adquirido ‘na rua’. Os traficantes do presídio ainda precisavam pagar propina para o diretor, que ‘fazia vista grossa’ para o esquema. O procedimento se repedia em vários outros produtos, principalmente com celulares.

Foi justamente para apurar essas informações que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou as duas fases da Operação Chip. Durante as investigações, os promotores de justiça confirmaram as ilegalidades: corrupção ativa e passiva, peculato, inserção de celulares nos presídios, tráfico e associação ao tráfico de drogas.

Na primeira fase, os agentes do Gaeco, apreenderam 47 celulares, 23 deles na casa do agente penitenciário Cleiton Paulino de Souza. Os aparelhos estariam embalados e prontos para serem levados aos detentos. Na residência foram encontrados também uma balança de precisão e R$ 8,6 mil.

No Instituo Penal foram encontrados os 24 celulares, 24 carregadores, 19 fones de ouvido, sete chips de celular, 562 gramas de maconha, 626 gramas de cocaína, além de alimentos que não poderiam ser comercializados dentro da unidade em razão de irregularidades nas embalagens. Além de Cleiton, o diretor da unidade Flúlvio Ramires também foi preso, por porte ilegal de arma, mas foi liberado depois de pagar fiança.Denúncias de 2009 revelam suspeita de 'corrupção crônica' na Agepen

Nesta segunda-feira a segunda fase da operação foi realizada e resultou na prisão preventiva de Fúlvio e outros três agentes, um deles detido desde a primeira ação do Gaeco.

Vida pregressa

Flúlvio Ramires da Silva assumiu a direção do IPCG em 2014. Mas, antes disso, ele foi diretor do Estabelecimento Penal de Segurança Média de Dois Irmãos do Buriti, de onde foi afastado após denúncias de favorecimento a presos da unidade.

Em 2012, o Midiamax publicou matéria sobre um preso que cumpria pena por tráfico de drogas na unidade de Dois Irmãos e teria divulgado fotos feitas fazendo um churrasco dentro da cela. As imagens, feitas com um celular, foram postadas no profile do Orkut de Paulo Barbosa Feitosa, o Paulinho.

Ele e outros dois internos foram ouvidos e confessaram que as atitudes de favorecimento tinham participação de agentes penitenciários da unidade. Falaram ainda que o diretor sabia da churrasqueira, que na maior parte do tempo, ficava escondida na cantina do presídio.

Também em Dois Irmãos do Buriti, desta vez no ano de 2011, quando Flúvio ainda era diretor, um esquema de distribuição de celulares a presos foi relatado por um dos detentos. Na época e caso foi ‘abafado’ pela diretoria.