ÁUDIO: antes de execução, CV teria dito que iria ‘assar’ o PCC em presídio

Ação foi comparada com o Complexo de Pedrinhas

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Ação foi comparada com o Complexo de Pedrinhas

“O salve já foi dado pra torar tudo os PCC, os cara tá só esperando a melhor hora”. Este é um trecho de áudio datado de 3 de fevereiro deste ano, que a princípio foi enviado de um preso ligado ao CV (Comando Vermelho) para outro, da facção rival. Mais do que ameaças, no último dia 14, Richard Alexandre Lianho, de 25 anos, foi executado em uma reafirmação do tentado poder da facção paulista PCC sobre o CV, uma briga que não tem data para acabar.

Antes de ser morto a tiros e ter os braços e pescoço cortados, Richard foi forçado pelos assassinos a mandar um aviso para aqueles, que assim como ele, são integrantes do CV: “pra todo mundo, todo o CV que está aí, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na penitenciária aí, na rua, pra sair tudo jogado que o que está acontecendo comigo pode acontecer com você também”. O crime brutal foi filmado e divulgado pelos suspeitos, já presos pela polícia.

Essa ‘guerra’ entre facções criminosas dentro e fora dos presídios de Mato Grosso do Sul é exposta através de ameaças entre lideranças dos grupos. O áudio, encaminhado com exclusividade ao Jornal Midiamax, mostra a força que teria o CV em Dourados. ‘Maricota’ ou ‘Mexicano’ seria o detento por trás do áudio enviado a um membro do PCC.

No áudio, ele fala sobre o drone que pousou no PED (Presídio Estadual de Dourados) no dia 3 de janeiro. O PCC assumiu ter feito o pouso do aparelho no presídio, que seria apenas para entrega de celulares, no entanto, no áudio, ‘Maricota’ diz que os presos do CV chegaram a abrir portas e que só não “fritaram” os presos do PCC porque os agentes penitenciários impediram.

O preso afirma que os membros do CV têm 300 litros de tíner, que seria um álcool artesanal, para “assar” os internos do PCC. Em outro áudio, o interno chega a falar que presos que trabalham na cozinha também teriam participação no massacre ao PCC no PED. Ele chega a dizer que seria “pior do que em Pedrinhas”, presídio no Maranhão, onde detentos colocaram fogo nos colchões durante rebelião em setembro de 2016.

Confira o áudio:

 

‘Maricota’

“Rasga essa peita enquanto é tempo”, fala o preso no áudio. A reportagem apurou que tal preso estaria em um dos estabelecimentos penais de Campo Grande e que desde 1998 está atrás das grades, a princípio por roubo. Quase 20 anos depois, ele permanece detido por ter cometido outros crimes dentro da cadeia, como assaltar um detento em 2010, quando estava em um presídio de Dourados.

Aproximadamente dois anos depois, o mesmo preso foi autuado por comandar um esquema de tráfico de drogas dentro da unidade penal. Pessoas ligadas ao funcionamento do presídio afirmaram ao Midiamax que ‘Maricota’ teria trazido para o Mato Grosso do Sul uma nova facção, o Cerol Fino. A facção é relativamente nova e teria pouco mais de 20 membros em Campo Grande, mas seria ligada ao Comando Vermelho.

Expulso do PCC

Pessoas que já trabalharam em estabelecimentos penais e fontes ligadas à polícia confirmaram a existência da facção Cerol Fino. A informação é de que ‘Maricota’ teria sido expulso do PCC por cobrar propina de outros presos. Isso aconteceu em 2007 e na época ele chegou a apontar lideranças da facção no presídio de Dourados, onde estava preso.

Dois meses depois, lembrando a rebelião ocorrida em 2006, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) transferiu tais lideranças para Presídios Federais, na tentativa de impedir nova rebelião. Alguns anos depois, em 2015, ‘Maricota’ teria se filiado ao Cerol Fino, trazendo a facção para Mato Grosso do Sul e se filiando ao Comando Vermelho.

Agepen investiga facções

Em nota, a Agepen informou que o setor de inteligência acompanha a movimentação de todas as “lideranças negativas que existam em suas unidades”. A agência garante que monitora para se antecipar quanto às ações criminosas que possam prejudicar “o bom andamento da disciplina nos presídios”. Confira a nota na íntegra:

“A AGEPEN, por sua gerência de inteligência, acompanha os movimentos de todas as lideranças negativas que existam em suas unidades, para antecipar-se à quaisquer ações criminosas que possam prejudicar o bom andamento da disciplina nos presídios, mas não comenta as informações internas que possui a respeito, por se tratar de matérias sigilosas e que dizem respeito à segurança. Supostas ameaças entre presos que são relatadas a direção das unidades, ou por elas detectadas, são imediatamente avaliadas, tomando-se as providências necessárias para evitar-se que as ocorrências se concretizem. Da mesma forma, a Agepen avalia sempre a segurança de seus servidores, que obedecem aos melhores procedimentos de segurança disponíveis.”

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