Após a prisão do lavrador de 20 anos suspeito de matar o jovem João Antônio Donati, 18, em Inhumas, na Região Metropolitana de Goiânia, a Polícia Civil descartou que motivação do crime tenha sido homofobia. “Para nós não há dúvida de que foi ele o autor. Agora nosso objetivo é esclarecer se a motivação do crime realmente foi a que ele alegou, de um desentendimento, mas a homofobia nós descartamos”, afirmou ao G1 na manhã deste sábado (13) o delegado responsável pelo caso, Humberto Teófilo.

João, que era homossexual, foi morto por asfixia na madrugada da última quarta-feira (10). Segundo a polícia, ao ser preso, na sexta-feira (12), o suspeito confessou o crime e afirmou que teve um desentendimento com a vítima após uma relação sexual.

De acordo com o delegado, na próxima semana serão colhidos depoimentos de pessoas próximas à vítima e ao suspeito. “Vamos verificar se eles já se conheciam, se realmente houve esse desentendimento”, explica o delegado.

Segundo afirmou Humberto Teófilo, o lavrador está preso no presídio de Inhumas.

Asfixia

Um laudo do Instituto Médico Legal (IML), concluído na quinta-feira (11), aponta que João lutou com o agressor antes de morrer e que ele possuía diversas marcas de hematoma pelo corpo. O documento concluiu também que a vítima morreu asfixiada e que não havia nenhuma fratura no corpo.

A polícia chegou até o suspeito depois de encontrar a identidade deles próxima de onde o corpo foi acahado. De acordo com o delegado, o jovem foi detido em uma fazenda de Inhumas, onde trabalhava em uma plantação de tomates. Em depoimento, ele disse que manteve uma relação sexual com João no mesmo terreno onde ocorreu o crime.

O suspeito também disse à polícia que não é homossexual, mas que já se relacionou com outros homens. O lavrador afirmou que não conhecia a vítima.

Carona

O rapaz, cujo nome de batismo é João Antônio Pereira Barbosa, trabalhava há cerca de duas semanas como garçom em um bar na cidade. Apesar de cumprir expediente de sexta-feira a domingo, o jovem foi ao local na noite de terça-feira (9). Após permanecer um tempo no local, os donos do estabelecimento pediram a um cliente que deixasse João em casa. “Quando foi por volta da 1 hora, fechamos o bar e meu marido pediu que um cliente desse carona a ele. Essa foi a última vez que o vimos com vida”, lamentou a comerciante Graça de Maria.

Segundo os proprietários, o cliente do bar já prestou depoimento à Polícia Civil. “Ele disse que levou o João até a esquina da rua onde ele morava e que ele estava muito apressado, como se fosse encontrar alguém. No entanto, não o viu com ninguém”, relatou Graça.

O dono do bar, Jesus Hermínio, diz que a vitima era uma pessoa “excepcional” e que não mereceria sofrer com tamanha violência. “Ele era um bom menino, de extrema confiança. Muito educado e trabalhador. É muito triste sequer imaginar que ele tenha sido vitima de homofobia”, destacou.

Crime

O corpo do rapaz foi encontrado com marcas de violência no terreno baldio por volta das 6h30 de quarta-feira (10). “Ele tinha diversos hematomas pelo corpo, no olho, no nariz. E como não tinha nenhuma fratura, pode indicar que alguém ficou segurando o rapaz enquanto ele não conseguia respirar. Mas só as investigações podem esclarecer certinho como se deu toda essa dinâmica do crime”, disse o delegado ao G1, no dia seguinte ao crime. Ele afirmou que não foi pedido nenhum outro laudo em relação ao corpo da vítima.

Teófilo informou que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República entrou em contato para pedir informações sobre o caso e cobrar atenção à investigação. Em nota, o órgão também manifestou “suas mais profundas condolências à família e aos amigos de João Antônio, apelando às autoridades do estado para que deem ao caso a devida atenção”.

A mulher que encontrou o corpo de João diz que está “apavorada” com o crime. “Primeiro achei que se tratava de um bêbado dormindo no meio do mato, mas só ao chegar mais perto vi que era um garoto, que já estava morto. Desde então estou muito assustada”, relatou a mulher, que não quis ser identificada.