Criança de 10 anos teria entrado de noite na chácara para levar um porco que seria usado no Natal

O suspeito de matar um menino de 10 anos, na última sexta-feira (28), em uma chácara próximo ao lixão do Jardim Noroeste, se apresentou nesta segunda-feira (1º) à Polícia Civil. Antônio Rosa de Souza, de 59 anos, que é caseiro da propriedade, disse à polícia que ouviu um barulho e que fez dois disparos, acreditando que fosse um usuário de drogas. O menino teria entrado na chácara tentando pegar um porco para o Natal.

 

De acordo com a delegada responsável pelo caso, Daniela Kades, da 3ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, a arma utilizada foi uma espingarda adaptada para munição de calibre 22. Ela teria sido emprestada do frentista José Rafael, de 30 anos. Ele trabalha no posto de combustíveis ao lado da chácara e foi quem acionou a polícia denunciando o achado do cadáver do menino.

Foi apurado que Souza matou o menino, supostamente enquanto fazia disparos para afastar um possível invasor, e chamou o frentista que foi até o local com uma lanterna e os dois identificaram que a criança havia sido atingida pelo tiro. “Ele veio correndo e eu assustei. Lá tem muito ‘noiado’. Já tinha tido furto na fazenda. Fiquei com medo”, disse Souza.

Na noite anterior ao achado do corpo, a vítima foi até a chácara onde foi morta, com mais três amigos, uma menina de 7 anos, o irmão dela, de 8 anos, e um adolescente de 13 anos, para apanhar mangas. Como havia um cachorro pitbull no local, a menina acabou sendo mordida e o grupo foi embora.

Pouco depois, a vítima voltou à chácara com o menino de 8 anos, dizendo que pegaria um dos porcos que o dono da propriedade cria, para fazer na ceia de Natal. Conforme Daniela, Souza alegou que ouviu um barulho e foi ver o que era. Ele deu um tiro para o alto e viu um vulto. Ele disse que achou que o vulto estava indo na direção dele, e atirou outra vez. O outro menino fugiu do local.

O suspeito chamou o frentista, que foi até o local com uma lanterna. Eles viram o menino e o frentista teria empurrado o menino com o pé, para ver se ele estava vivo. Isto teria causado a marca, supostamente de agressão, que o menino tinha nas costas. O frentista orientou o suspeito a fugir com a mulher e no dia seguinte, simulou ter encontrado o corpo do menino enquanto cuidava dos animais.

Como escapou do flagrante, se apresentou e não tem antecedentes, Souza vai responder ao crime de homicídio doloso em liberdade. Ele confessou ter ingerido bebidas alcoólicas antes do crime e disse que teve a casa incendiada após a morte do menino. A chácara pertence ao dono do posto de combustíveis e o frentista foi demitido. O advogado dele informou à delegada, que ele se apresentaria e entregaria a arma. Ele pode responder por porte ilegal de arma, favorecimento real, por ajudar na fuga do caseiro e até por falso testemunho.

Suspeita

No dia do homicídio, o marceneiro Idair Jose Lima, de 29 anos, tio do menino, afirmou que suspeitava que o dono da chácara onde a criança foi encontrada podia estar envolvido na morte do garoto.

O tio do menino foi quem recebeu primeiro a notícia da morte. Ele foi até o local onde o corpo foi encontrado e disse que o dono era “uma pessoa muito ruim, que não dá nada pra ninguém”. Segundo ele, no local havia um cachorro pitbull, que o proprietário já havia soltado nas pessoas.

O sumiço do carro do homem também aumentou as suspeitas do tio da criança. No local, havia uma enxada suja de sangue e o menino foi encontrado com uma lesão na cabeça.

Homicídio

O corpo do menino foi encontrado um dia antes de completar  11 anos. No dia do crime, o tio da criança, o marceneiro Idair Jose Lima, de 29 anos, disse que o sobrinho tinha problemas psicológicos e estava desaparecido desde a noite da quinta-feira (27). Segundo ele, a mãe da criança trabalha como gari e que sai todos os dias 4 horas e retorna para casa, às 18 horas.

Na quinta, ela retornou, não encontrou o filho, mas acreditou que ele pudesse estar com os amiguinhos. Na manhã desta sexta, o tio recebeu a ligação informando que o sobrinho estava morto.

Durante a tarde, o Corpo de Bombeiros e o Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência) foram acionados para atender a mãe da criança, que teve um ataque cardíaco ao receber a notícia da morte do filho.

Crueldade

A perícia conseguiu identificar pegadas subindo e descendo a montanha de lixo e também, foi encontrado um chinelo feminino. A perícia ainda identificou que o menino levou dois chutes nas costas e até a marca da sola do sapato pode ser vista na pele do garoto. Ele também apresentava várias lesões na cabeça.

O menino fazia tratamento na Escola Especial Colibri, no Santo Amaro. Ele foi vítima de estupro de vulnerável. A mãe tem, além dele, mais três filhos e está grávida de cinco meses do quarto. Neste ano, foi registrado um boletim de ocorrência por maus-tratos contra ela, em que a vítima é o filho mais novo, de 2 anos. A criança teria ficado três dias com febre, estava desnutrida, com anemia e tinha sinais de maus-tratos.