Em ano violento, São Paulo registra 100ª morte de policial militar

A Polícia Militar de São Paulo registrou na manhã desta quarta-feira a 100ª morte de um policial da corporação no ano de 2012. Assim como na maioria dos casos, o PM morto na cidade de São Pedro, região de Piracicaba, também estava de folga. O soldado Gentil Roberto Brandini, 42 anos, foi encontrado morto com […]

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A Polícia Militar de São Paulo registrou na manhã desta quarta-feira a 100ª morte de um policial da corporação no ano de 2012. Assim como na maioria dos casos, o PM morto na cidade de São Pedro, região de Piracicaba, também estava de folga.

O soldado Gentil Roberto Brandini, 42 anos, foi encontrado morto com dois tiros, em um condomínio de chácaras, no bairro Nova Aurora. Um projétil atingiu sua nuca e outro nas costas. Segundo informações da Policia Militar, ele vinha recebendo ameaças há pelo menos um ano, depois de participar de uma ação que resultou na morte de um integrante de uma facção criminosa.

O número registrado hoje é bem superior ao número total de policiais mortos em 2011. Segundo a assessoria da Polícia Militar, foram contabilizados 76 homicídios em todo o ano, número dentro da média estabelecida nos últimos cinco anos. A pior onda de violência contra policiais, segundo o governo, foi em 2006, quando 105 PMs foram mortos.

Cronologia de uma guerra anunciada

A guerra declarada entre polícia e crime organizado teve início no primeiro semestre de 2012, quando seis criminosos foram mortos durante uma ação de policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), no dia 28 de maio. Segundo as primeiras informações daquela ocorrência, seis viaturas se deslocaram ao local após uma denúncia anônima de que o bando, ligado à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), estava reunido no local para traçar um plano de resgate de um preso que seria transferido do Centro de Detenção Provisória do Belém, na zona leste, para a Penitenciária II de Presidente Vescenslau, no interior do Estado.

Após uma denúncia de truculência policial e investigação da Polícia Civil, pelo menos nove policiais da Rota foram presos pela execução dos criminosos. Uma testemunha contou que três PMs – um sargento e dois soldados – chutavam o suspeito levado pela viatura até o local. Um deles chegou a atirar a queima roupa no homem. A mulher ligou para a polícia e contou em tempo real o que, segundo ela, estava acontecendo.

Dois dias depois, o bairro de Cidade Tiradentes vivia o seu primeiro toque de recolher. Moradores foram avisados de que os criminosos atacariam batalhões em represália às mortes no bairro da Penha. Em junho, o bar que funcional no local onde os criminosos foram executados pegou fogo. Segundo os proprietários, o incêndio não teve ligação com o PCC.

Onda de ataques

No mês de junho, São Paulo começou a viver a primeira grande onda de ataques a policiais e bases da PM. Os primeiros ataques foram registrados isoladamente, mas com o passar dos dias, ficou evidente de que se tratava de uma ação coordenada. O dia 20 de junho, em especial, chamou a atenção da Secretaria de Segurança Pública, pela sequência de crimes.

Na região da Vila Formosa, na zona leste, um policial militar foi morto por criminosos dentro de uma academia. Duas horas mais tarde, a cerca de 2 km de onde o PM foi morto, uma base móvel da Polícia Militar foi atacada em São Mateus. Quatro homens em um carro e um outro em uma moto pararam próximo à base e fizeram pelo menos oito disparos. No mesmo dia, outro policial morreu em troca de tiros com um criminoso em Pirituba.

A partir dessa série de eventos, a Polícia Militar começou a registrar casos sequenciais de mortes e ataques. No dia seguinte, um policial militar foi morto em um supermercado no Capão Redondo. No dia 22 de junho, um PM foi morto a tiros na região do Grajaú, quando estava indo para o trabalho. Na mesma madrugada, uma base foi atacada em Itaquera, mas nenhum policial ficou ferido. No dia 24 de junho, um policial militar foi assassinado a tiros em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. A partir de então, outros casos começaram a ser registrados em diversas cidades da Grande São Paulo, interior e Baixada Santista.

Ônibus incendiados

A partir do dia 24 de junho, a PM começou a registrar ataques a ônibus na Grande São Paulo. Um coletivo foi incendiado na esquina da avenida Salgado Filho com a rua Benjamim Harris Hunnicutt, na Vila Rio de Janeiro, em Guarulhos, mas ninguém se feriu.

Na noite seguinte, um ônibus foi pego em uma emboscada na zona leste de São Paulo. Após receber sinal de um jovem em um ponto, o motorista foi surpreso por outros três que surgiram atrás de um muro. O veículo estava vazio e o motorista saiu correndo ao perceber a ação dos criminosos. No dia 26 de junho, veio o primeiro grande ataque e três ônibus foram queimados na região do Tremembé, na zona norte da capital.

Apesar da crescente onda de violência, a Secretaria de Segurança Pública continuava tratando os casos como ações isoladas, descartando o envolvimento do Primeiro Comando da Capital.

Chacinas

Após o início dos ataques contra policiais e a ônibus, a PM começou a registrar um aumento em crimes com características de execução e as primeiras chacinas começaram a aparecer. No dia 25 de junho, um grupo de quatro jovens foi encontrado baleado na em Poá, na Grande São Paulo. Segundo a polícia, por volta das 21h30, homens passaram atirando. As vítimas foram socorridas ao Pronto-Socorro Municipal, mas não resistiram aos ferimentos.

Na madrugada do dia 12 de julho, oito pessoas foram mortas após uma sequência de ataques na cidade de Osasco, logo após a final da Copa do Brasil de futebol, vencida pelo Palmeiras. Segundo a polícia, os atiradores aproveitaram a queima de fogos para efetuar os disparos. Em outubro e novembro, o número de execuções de civis aumentou consideravelmente e, segundo último balanço divulgado pela PM (não englobando o mês de novembro), outubro foi o mês mais violento do ano, com 176 homicídios apenas na capital.

Ações questionadas

Policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), enfrentaram uma quadrilha no dia 11 de setembro. No total, oito acusados de compor um “tribunal” do crime organizado que julgava um homem acusado de estupro, foram mortos na operação. O homem que era julgado pelos bandidos também foi alvejado e não sobreviveu. Outros oito suspeitos foram presos pelos policiais. Na ocasião, o ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Luiz Gonzaga Dantas, disse que a ouvidoria investigaria a ação, além de acompanhar as investigações no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O Ministério Público também acompanha o inquérito policial sobre a ação da Rota.

Em novembro, a PM determinou a prisão de cinco policiais suspeitos de matar um servente na periferia da zona sul da capital. Um vídeo feito por um vizinho mostra o servente Paulo Batista do Nascimento, 25 anos, sendo cercado por policiais em uma rua do bairro do Campo Limpo. As imagens confirmam que ele foi agredido. No vídeo, é possível ver o servente levando um tapa e um chute dos policiais antes de ser levado para o carro da polícia.

Em seguida, um policial aparece com os braços erguidos em posição de tiro. Não é visto nenhum disparo, mas depois de um barulho parecido com um tiro, as imagens mostram a movimentação de alguns agentes. No boletim de ocorrência, os PMs relataram que o corpo foi encontrado em uma viela pelos policiais.

Resposta do governo

Em outubro, a Polícia Militar deu início à Operação Saturação para combater o crime organizado em várias regiões da capital, em Guarulhos e na cidade de Ribeirão Preto. Em novembro, o ministro José Eduardo Cardozo e o governador Geraldo Alckmin anunciaram que as esferas estadual e federal teriam uma agência integrada de combate ao crime organizado.

A reunião definiu ações de “asfixiamento financeiro” das organizações criminosas responsáveis pelos ataques e também a futura transferência das lideranças envolvidas em mortes de policiais para presídios federais.

Dias depois, o governador de São Paulo reconheceu pela primeira vez dificuldades na segurança pública por conta da onda de homicídios vivida em São Paulo nos últimos meses. No dia 21 de novembro, o então o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, pediu exoneração do cargo. Em seu lugar, assumiu o ex-procurador geral de Justiça do Estado de São Paulo, Fernando Grella.

Cinco dias depois, foram divulgados os nomes dos novos comandantes das polícias Civil e Militar de São Paulo. O Comando Geral da Polícia Militar foi assumido pelo coronel Benedito Roberto Meira, atual chefe da Casa Militar do Governo do Estado. Já a Polícia Civil passou a ser comandada pelo delegado classe especial Luiz Maurício Souza Blazeck.

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