O delegado da Divisão de Homicídios da capital, Felipe Ettore, não descarta a possibilidade de o autor do disparo que matou o cinegrafista Gelson Domingos , durante operação policial da Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio, neste domingo, estar entre os mortos ou entre os presos durante a ação. Para o delegado, as imagens cedidas pela TV Bandeirantes, feitas por Gelson, podem ajudar a identificar o assassino. Os vídeos gravados foram encaminhados ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). De acordo com Ettore, o tiro que atingiu o cinegrafista atravessou o corpo dele e a bala não foi encontrada.
– Todo o armamento e todo o material que foi recolhido será analisado juntamente com as imagens da TV Bandeirantes – disse o delegado, explicando que o momento agora é de analisar as informações.
O repórter da TV Bandeirantes que estava com Gelson na operação, Ernani Alves, disse, durante o velório do colega de trabalho, que tem colaborado nas investigações da polícia no sentido de identificar o assassino do cinegrafista:
– Só vou descansar na hora em que o traficante que atirou no Gélson for preso. Já temos informações sobre quem efetuou o disparo. A polícia inclusive já tem o nome, e existe a possibilidade dele ser preso ainda hoje.
Familiares, amigos e jornalistas acompanham, na tarde desta segunda-feira, o velório de Gelson no Memorial do Carmo, no Caju. A mulher do cinegrafista, Edilene Domingos, pediu aos repórteres que não fizessem imagens do corpo do marido.
– É um pedido dele. Ele queria fazer a notícia e nunca virar uma. Ele sempre preferiu ficar atrás das câmeras – disse Edilene.
O irmão, Paulo Domingos, disse que o cinegrafista morreu fazendo o que mais gostava:
– Tenho muito orgulho do trabalho de Gelson. Lamento ele ser mais uma vítima da violência no Rio – declarou.
Por enquanto, não há nenhum depoimento programado para esta segunda-feira. Os nove presos neste domingo durante a operação foram apresentados na manhã desta segunda-feira na Divisão de Homicídios. Entre eles há um menor, de 15 anos. Policiais militares do 27º BPM (Santa Cruz) informaram que a favela está ocupada por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e do 2º Comando de Policiamento de Área (2º CPA). No início da tarde desta segunda, a polícia prendeu mais duas pessoas na comunidade. Marcos da Silva Cruz, de 22 anos, também conhecido como “Lango-Lango”, e Clayton da Silva Inácio, de 20 anos, seriam traficantes e foram presos no beco onde o cinegrafista foi atingido. Os dois foram levados para a 26ª DP (Todos os Santos). Com eles foram encontrados uma pistola, maconha e uma moto.
Neste domingo, foram detidos pela polícia Renato José Soares, o “BBC”, de 39 anos, gerente da venda de drogas na comunidade, já condenado por tráfico; Leandro Ferreira de Araújo, o “China”, de 30 anos, braço direito do tráfico na região, com passagens por porte de armas e drogas; Rodrigo Feliciano Raimundo, de 24 anos, com passagens por porte de armas, roubo e falsidade ideológica; André Cassiano Carneiro dos Santos, de 22 anos, com passagem por tráfico de drogas. Também foram presos Vinicius William da Silva Lopes , de 20 anos, Victor dos Santos Pires, 19, Tiago da Silva Leite, 22, Jeferson da Silva Ferreira, 20, e o menor de idade P.F.C., de 15 anos, todos sem antecedentes criminais. Com eles foram apreendidos aparelhos de radiotransmissão, maconha, cocaína e uma pistola 9mm.
Além do cinegrafista Gelson Domingos, outras quatro pessoas foram mortas durante os confrontos: Tafarel Simões da Silva, de 20 anos, já tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas; Maxsuam Gomes da Rocha, 20 anos, tinha passagem por porte de armas, tráfico e furto; Antonio Carlos Ferreira Neto, de 18 anos, que respondeu por tentativa de homicídio quando menor de idade, além de Jorge Ricardo dos Santos, 22 anos, sem antecedentes. Com os mortos foram encontrados, segundo a polícia, um fuzil calibre 556, uma pistola glock 9mm, uma pistola taurus 380, além de munição, carregadores, maconha, cocaína, crack, lança perfume e R$ 2 mil em dinheiro.
De acordo com o delegado da DH, Felipe Ettore, todos os presos responderão por tráfico e associação para o tráfico, cuja pena pode variar entre 5 e 15 anos. Victor, Tiago e Jeferson também responderão por porte de arma – nesse caso a pena pode chegar a 25 anos.
O clima na Favela de Antares, no fim desta manhã, é tenso. Segundo policiais de plantão no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da região, dois dos quatro suspeitos mortos neste domingo estão sendo velados na favela. Equipes do 27º BPM reforçam o patrulhamento no entorno da favela e, segundo informações do Serviço Reservado (P-2) do batalhão, não houve registro de tiroteios.