Fabiola Yañez vai detalhar numa audiência nesta terça-feira (13) os episódios dos diversos tipos de violência aos quais foi submetida durante oito anos de convivência com o ex-presidente Alberto Fernández.

Na declaração escrita antecipada à qual a RFI teve acesso, a ex-primeira-dama revela episódios diários de violência reprodutiva, institucional, verbal, física e doméstica, além de constantes traições, acusando o médico presidencial de encobrir o inchaço no olho direito, consequência de um soco para ela “calar a boca”.

Às 15 horas de Madri (10 da manhã em Brasília), a ex-primeira-dama argentina, Fabiola Yañez, estará no consulado argentino na capital espanhola para uma declaração à Justiça, através de audiência virtual para o processo penal por violência de gênero contra o ex-presidente Alberto Fernández (2019-2023).

Desde o final do mandato do seu ex-marido, em 10 de dezembro passado, Fabiola Yañez vive na Espanha numa espécie de refúgio do ambiente tóxico no qual se tornou para ela a vida na Argentina, controlada pelo ex-presidente.

Na declaração por zoom desta terça-feira, Yañez dará informações precisas como nomes, datas e locais ao Ministério Público que comprovem as denúncias descritas um dia antes através de uma declaração escrita à qual a RFI teve acesso.

Ao longo de 20 páginas, Fabiola Yañez pede que os atos de violência com lesões leves sejam classificados como “lesões graves, duplamente agravadas pelo vínculo e cometidas no contexto de violência de gênero com abuso de poder e de autoridade”, além de incluir a acusação de “ameaças coativas” contra o ex-presidente, quem tem promovido um “terrorismo psicológico” com constante “assédio telefônico com mensagens intimidatórias”.

“Esclareço que os tipos de lesões são de índole grave porque deixaram sequelas de danos psicológicos que me impediram de exercer as minhas funções e a minha vida normal por mais de 30 dias”, sublinha.

“O maltrato (assédio, desprezo, agressões, golpes) era uma constante que, por uso frequente, deixou-me sequelas de caráter psicológico que me obrigaram, em diferentes períodos de tempo, a tratamentos psicológicos e psiquiátricos, inclusive com medicamentos”.

Violência Reprodutiva

No seu relato, Fabiola Yañez revela que Alberto Fernández a “empurrou para cometer um aborto” porque “ele não estava pronto” para ser pai. Episódios como esse, desconhecidos para os argentinos, deixaram-lhe traumas psicológicos, classificados como “violência reprodutiva”.

A figura jurídica da “violência reprodutiva” é uma forma de violência de gênero em atos que “limitam ou que coagem uma pessoa em relação à sua capacidade reprodutiva, afetando a sua autonomia sobre decisões fundamentais como de ter filhos ou não”.

“Comecei um namoro com o denunciado, no princípio sem convivência, há mais de 14 anos. Numa viagem a Paris, em 14 de maio de 2016, ele me propôs um compromisso”, conta Fabiola, esclarecendo que “antes mesmo da convivência, o assédio psicológico era constante”.

“Eu devia permanecer atenta às suas chamadas telefônicas que se repetiam a ponto de eu não poder interagir com terceiros e ter uma vida normal, como sair com amigas porque eu tinha de responder às suas mensagens a cada três minutos”, descreve para justificar que, por isso, “deixou de sair e de ver os amigos”.

“(Alberto Fernández) tinha uma obsessão: se eu saísse era porque eu o enganava. O insólito disso era que, enquanto eu ficava em casa com uma amiga para ele saciar a sua sede de controle, ele saía para estar com outras mulheres; o que eu descobri no final”, compara.