O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta quinta-feira, 4, ao primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que o apoio americano dependerá da proteção dos civis na Faixa de Gaza, condicionando pela primeira vez o cheque em branco dado pela Casa Branca ao governo israelense. Em um telefonema tenso de 30 minutos, Biden também pediu um “cessar-fogo imediato”, o que até pouco tempo era inconcebível.

Biden vem sofrendo pressão da ala mais progressista do Partido Democrata e da comunidade árabe-americana, que acusa a Casa Branca de cumplicidade com os ataques israelenses que já mataram mais de 33 mil palestinos – o último, na segunda-feira, matou sete voluntários da ONG World Central Kitchen (WCK).

O eleitorado árabe-americano representa uma parte ínfima do total de votos, mas em Michigan eles são cerca de 250 mil eleitores. Em 2016, Donald Trump venceu Hillary Clinton no Estado por apenas 11 mil votos (0,23%) e levou os 16 delegados estaduais para o colégio eleitoral. Para a campanha democrata, qualquer deslize pode ser fatal.

Até agora, no entanto, o presidente americano vem tentando jogar dos dois lados. Apesar da pressão sobre Netanyahu e do discurso duro, ele vem vetando constantemente resoluções na ONU que contrariam o governo israelense. Em março, o Conselho de Segurança finalmente aprovou um texto – graças à abstenção dos americanos – que pedia a libertação dos reféns israelenses, mais ajuda humanitária a Gaza e um cessar-fogo.

Ajuda

Quatro dias depois, Biden aprovou o envio de 1,8 mil bombas Mark 84 de 900 quilos para Israel. Em 2023, segundo o Council on Foreign Relations, os EUA enviaram US$ 3,8 bilhões em armas aos israelenses – o acordo entre os dois países prevê o uso do dinheiro para comprar equipamento americano ou pagar por serviços e treinamento.

Na segunda-feira, 1º, mesmo dia em que Israel matou os sete voluntários da WCK, ataque que o governo americano chamou de “inaceitável”, os EUA anunciaram o envio de um novo carregamento de 2 mil bombas para Israel – mil do modelo Mark 82 (MK-82) e outras mil bombas menores, segundo o Washington Post.

Ontem, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, minimizou a ajuda aprovada recentemente. “Com exceção dos dois meses após o ataque, não enviamos ajuda militar a Israel”, disse. “O que vimos nesta semana é o resultado de um processo de venda que levará anos.”

Mudança

Os sinais de impaciência, no entanto, começam a aparecer. Nas últimas semanas, os pedidos americanos para que Israel não ataque Rafah, refúgio de mais de 1 milhão de palestinos, foram solenemente ignorados por Netanyahu.

Ontem, o secretário de Estado Antony Blinken declarou em tom de ameaça, pela primeira vez, que os EUA retirarão seu apoio a Israel se as exigências de proteção aos civis em Gaza não forem atendidas. “Se não houver mudanças, mudaremos nossa política”, afirmou.

Até o ex-presidente Donald Trump tem dado sinais de ansiedade. “Israel precisa acabar com isso e voltar à normalidade. Não sei se estou gostando da maneira como eles estão fazendo isso”, disse ontem o republicano, um aliado incondicional de Netanyahu

O premiê não comentou o telefonema de ontem. Ele mesmo enfrenta problemas internos: protestos de rua, insatisfação dentro da coalizão de governo e pedidos de eleições antecipadas de membros do gabinete de guerra, como o ex-general Benny Gantz, que pediu uma votação em setembro. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)