Pelo menos 61 pessoas morreram e 670 foram feridas em combates que começaram no sábado entre o Exército regular e paramilitares no Sudão. Três dos cinco civis mortos eram funcionários do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo o Sindicato dos Médicos do Sudão. O governo não divulgou informações sobre vítimas do conflito.

Homens em veículos blindados, aviões de combate e caminhões com metralhadoras se enfrentaram durante todo o dia de ontem em Cartum, capital do país, e na vizinha Omdurman, onde os embates têm sido frequentes.

Os confrontos envolvem tropas de dois generais, que eram aliados: Abdel-Fattah Burhan, comandante das Forças Armadas, e o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe do grupo Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês). Ambos orquestraram em conjunto um golpe militar que ocorreu em outubro de 2021 e agora disputam a hegemonia do poder. Nos últimos meses, organismos internacionais intermediaram um acordo entre os comandantes e partidos políticos para restabelecer a sem sucesso.

Ontem, os dois lados deram declarações dizendo que não estavam mais dispostos a negociar, indício de que o terceiro maior país da África, com 45,5 milhões de habitantes e 1,8 milhão de km² de área, pode mergulhar de vez em uma guerra civil.

PAUSA HUMANITÁRIA

Volker Perthes, enviado da ONU para o Sudão, disse ontem que tanto Burhan quanto Dagalo concordaram com uma pausa humanitária de três horas nos combates no final da tarde de ontem, mas a violência continuou a tomar conta da capital logo na sequência. O cessar-fogo teve o objetivo de permitir que caminhões de comida entrassem em Cartum e ocorreu em razão da morte dos três funcionários da PMA.

Desde o final do sábado, a pressão diplomática para o fim dos combates aumentou. Ontem, em comunicado, a Liga Árabe, na qual o Sudão é integrante, pediu o fim dos enfrentamentos. O principal conselho da União Africana (UA) pediu um cessar-fogo imediato “sem concessões”.

Representantes diplomáticos dos Estados Unidos e da (UE) também exigiram o fim dos combates. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que falou ontem com os ministros das Relações Exteriores da e dos Emirados Árabes Unidos.

A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos têm influência considerável no Sudão, uma nação de maioria muçulmana que precisa do dinheiro de aliados para tentar manter sua instável economia.

CONFLITOS

Há quatro anos, descontentes com uma inflação muito alta, sudaneses foram às ruas e derrubaram o ditador Omar al-Bashir. Um governo civil assumiu o poder em 2019, mas foi derrubado em 2021 por um golpe liderado por Burhan e Hemedti.

“É muito cedo para dizer que efeito a luta atual terá no futuro do Sudão”, disse Kholood Khair, diretor fundador do think tank Confluence Advisory, com sede em Cartum. “Primeiro precisamos de um cessar-fogo, depois um processo político para acalmar as coisas entre os generais. Então, talvez um governo civil”, afirmou o especialista.

Ativistas culpam Burhan e Dagalo por abusos contra manifestantes pró-democracia nos últimos quatro anos, incluindo a destruição de um acampamento do lado de fora do quartel-general militar em Cartum em junho de 2019, que matou pelo menos 120 pessoas. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.