Hong Kong em combustão: entenda o conflito político que mobilizou trabalhadores e estudantes chineses
A população de Hong Kong participando de manifestações quase todos os dias, a televisão mostra coletivas de imprensa e comenta o número de detidos.
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Apesar de ser um centro de alta tecnologia, a China é um país que a cada dia se torna menos democratizado. Liberdade política e de expressão não é algo natural por lá, a ponto de que, quando uma manifestação acontece, são raras as notícias sobre o assunto, já que existe um controle da mídia e redes sociais.
Aplicativos comuns em várias partes do mundo, como o WhatsApp, são proibidos para os chineses, e qualquer tipo de protesto que vá contra o governo não é noticiado nos meios de comunicação tradicionais, como a TV.
Ao menos, essa era a situação em meados de 2019. Agora, com a população de Hong Kong participando de manifestações quase todos os dias, a televisão mostra coletivas de imprensa e comenta o número de detidos.
O problema é que essa divulgação não tem o intuito de promover o direito de expressão. Muito pelo contrário, o objetivo é convencer quem era apolítico de que a “linha dura” que a China adota para manter o país em ordem é a única correta.
Lei da Extradição
Proposto em fevereiro de 2019, o projeto da Lei de Extradição tem como principal objetivo impedir que a cidade de Hong Kong seja um refúgio para os fugitivos. Isso, é claro, foi o divulgado para a imprensa e, para os que não estavam acompanhando as manifestações, pareceria uma boa ideia.
A questão é que a Lei da Extradição não estaria de olho apenas nos fugitivos que cometeram algum crime e decidiram se “esconder” em Hong Kong, mas, sim, em qualquer pessoa que está em busca de um local na China que tenha um pouco mais de liberdade.
Apesar do controle das redes sociais, as notícias começaram a se espalhar, especialmente pelo WeChat — que na China é um comunicador instantâneo, semelhante ao WhatsApp, liberado para uso.
Começou então uma guerra silenciosa entre a mídia tradicional, veiculando que os manifestantes de Hong Kong eram agressivos e estavam sendo influenciados por “forças estrangeiras” — especialmente dos Estados Unidos — e o que era compartilhado nas redes sociais.
As poucas pessoas que tinham acesso a um VPN — rede privada individual usada também para burlar o controle da internet da China — sabiam o que realmente estava acontecendo. A Lei da Extradição podia ser sentida pelo povo chinês como uma nova forma de controlar e até mesmo calar a população.
Nacionalismo às avessas e ódio crescente
As manifestações de Hong Kong vêm sendo noticiadas de forma tão negativa que os chineses que não conseguem acesso às informações, que não são controladas pelo país, acabam acreditando que os manifestantes são ruins e que estão indo contra a própria China.
Um nacionalismo às avessas, que incentiva o ódio, vem surgindo e crescendo, a ponto de terem existido casos de violência contra honcongueses que supostamente estão “estragando o país”.
Mesmo pessoas que antes eram mais observadoras e tinham o hábito de discutir e tentar entender o que estava acontecendo parecem ter comprado a ideia que o Estado quer entregar. O silêncio reina, mas não há como saber se é por medo da repressão ou pela própria censura.
São poucos os que percebem o que realmente está acontecendo e entendem as manifestações. Entendem que Hong Kong está apenas lutando por sua liberdade de expressão e que isso não tem nada a ver com interferências externas.
O acesso à informação dificultaria para a China manter todo o regime fechado e a “mão de ferro” que aplica atualmente. Para evitar que as manifestações se espalhem pelo país, o melhor é investir nesse suposto nacionalismo, mesmo que isso signifique incitar o ódio contra quem está apenas lutando por seus direitos.
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