Jornais estrangeiros destacaram “carnaval” e “hostilidade”

A votação do último domingo (17) sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) foi manchete dos principais jornais do mundo nesta segunda-feira (18). A maioria dos veículos chamou atenção para o fato de o processo ser conduzido por políticos envolvidos em casos de corrupção.

Para o Washington Post (EUA), o processo é parte de um momento de “impressionante mudança na sorte de um país onde tudo parecia ir bem alguns anos atrás”.

O francês Le Monde destacou que cada deputado teve seus “10 segundos de celebridade”, aproveitando o momento para o que o jornal chamou de “posturas teatrais”, com objetivo de deixarem suas marcas na história.

O Wall Street Journal, jornal mais vendido dos EUA, destaca que “quatro dos oito presidentes eleitos no Brasil desde 1950 não conseguiram completar seu mandato”, avaliando o momento como um teste para a jovem democracia brasileira.

Para o The Guardian, Dilma foi derrotada “por um Congresso hostil e manchado por corrupção”. Segundo o jornal britânico, Cunha é o “marionetista por trás da novela do impeachment”.

Também foram citadas as acusações contra Cunha e a homenagem do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ao torturador Carlos Brilhante Ulstra, responsável por diversos assassinatos e estupros durante a ditadura militar.

O diário inglês ainda ressaltou a incoerência das legendas brasileiras, como o PMB (Partido da Mulher Brasileira) que só possui homens na bancada e o PPS (Partido Popular Socialista) que, segundo o tabloide, “é um dos mais direitistas” no Congresso.

A revista semanal alemã Die Zeit declara que “a votação mais parecia um carnaval” e ressalta que um “desavisado não teria ideia da gravidade da situação”. A publicação lembra que “”nesse dia decisivo para o destino político da sétima maior economia do mundo, o que se viu foram horas de deputados aos berros, que se abraçavam, tiravam selfies e entoavam canções”.

O argentino La Nación chama a atenção para os ânimos exaltados de ambos os lados, dizendo que o cenário é “mais próprio a um campo de futebol do que a um dos momentos mais importantes da história”.

Para o New York Times (EUA), em um eventual mandato, Michel Temer (PMDB) poderia também “enfrentar um possível impeachment pelas mesmas acusações feitas contra Rousseff”.

O jornal nova-iorquino ainda ressalta que Eduardo Cunha é um “político poderoso” e um “evangélico que gosta de usar o Twitter para difundir versículos da Bíblia”, além de ter “usado contas em bancos suíços para esconder milhões de dólares em propina”.

Para o espanhol El País, a maioria dos deputados que votou pelo afastamento da presidente “pareceu se esquecer dos verdadeiros motivos em discussão”, por terem usado de argumentos envolvendo religião e família para justificar seus votos.

O jornal ainda menciona que um governo Temer não tiraria o país da crise política, já que enfrentaria a forte oposição do PT, que segundo o diário espanhol, é “conhecido por sua habilidade em mobilizar sindicatos e movimentos sociais em protestos nas ruas”.

O alemão Süddeutsche Zeitung destaca que “inúmeros parlamentares que impulsionaram o impeachment de Dilma são alvos de processo por corrupção”, enquanto que “contra Dilma, nenhum ato de corrupção foi provado”.