Primeiro protesto de motoristas do Uber na França faz Governo mediar o conflito

15.000 condutores inscritos no app

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15.000 condutores inscritos no app

“Por trás de cada serviço low cost existe um trabalhador low cost”. A frase é de uma jornalista que acompanha o bem-sucedido desenvolvimento do aplicativo Uber na França, mas os motoristas que prestam serviço através dessa plataforma a fizeram sua. Desde quinta-feira, (15), eles bloqueiam com seus carros os acessos aos aeroportos e às entradas de Paris para exigir mínimas condições sociais e de remuneração. O Governo tenta mediar o conflito e nesta segunda-feira (20),  se reuniu com representantes dos trabalhadores, que deram uma trégua às mobilizações.

Até agora, o surgimento do Uber e seus veículos com motorista havia provocado manifestações furiosas por parte dos taxistas, que no ano passado também bloquearam os aeroportos parisienses porque seu faturamento caiu entre 10% e 30% em dois anos por causa da bem-sucedida plataforma. Hoje são os mais de 15.000 motoristas inscritos nesse aplicativo que protestam para explicar as deploráveis condições em que realizam um serviço muito bem avaliado pelos usuários.

O que desencadeou as manifestações foi a decisão unilateral da empresa, com sede em São Francisco, de aumentar, no dia 8 de dezembro, de 20% para 25% as comissões que cobra por cada viagem feita pelos motoristas. Estes são autônomos, trabalham até 12 ou 14 horas por dia e, depois de pagar impostos e taxas, ganham apenas uma média de cerca de 1.200 euros (cerca de 4.200 reais) por mês e não têm nenhuma cobertura social ou direito a descanso remunerado.

Quem dá essas informações é Sayah Baaroun, líder do principal sindicato desses trabalhadores, na maioria jovens de bairros desfavorecidos que compraram carros a prazo ou os alugam para trabalhar para a plataforma em tempo integral ou parcial.

“Explico muito fácil: 70 horas de trabalho por semana (o limite legal na França é de 35 horas) por 1.000 euros limpos por mês (o salário mínimo é de 1.466 euros)”, diz Baaroun na porta do Ministério dos Transportes, onde na segunda-feira o secretário de Estado Alain Vidalies o convocou, assim como os representantes Uber na França, para tentar mediar o conflito.

A poucos metros do líder sindical, os gritos de “Fora Uber!” e os gestos ameaçadores de alguns manifestantes permitem que Grégoire Kopp, o encarregado de comunicação da plataforma, diga apenas algumas palavras: “Estamos felizes de estar aqui”, rodeado de policiais para protegê-lo.

A empresa diz que os motoristas ganham mais. A multinacional argumenta que são apenas “uns 200 ou 300” manifestantes que protestam e que fez três denúncias de agressões e ameaças contra motoristas que trabalhavam durante os protestos e contra diretores da empresa. A plataforma diz que os motoristas ganham 13% a mais do que antes (essa foi a porcentagem de aumento no preço da corrida) e que na França gera um bilhão de negócios por ano que ainda pode triplicar se tudo se desenvolver sem problemas.

Às reivindicações dos manifestantes se junta outra queixa que consideram “humilhante”. Trata-se do direito que a plataforma se atribui de desconectar todo motorista que renunciar a uma corrida ou que não seja considerado apto, em determinado momento, porque não mantém nenhuma relação contratual com eles.Em outubro, a justiça britânica decidiu que os motoristas do Uber não são autônomos, mas funcionários da plataforma e, portanto, têm o direito de receber o salário mínimo, feriados e dias de descanso remunerado. O veredito é objeto de recurso. A empresa também teve de acordar o pagamento de cem milhões de dólares aos seus motoristas da Califórnia e de Massachusetts para que estes continuem contribuindo como trabalhadores autônomos.

 

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