Capitão de barco de migrantes que naufragou é condenado a 18 anos de prisão na Itália

Condenação de ajudante foi de 5 anos 

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Condenação de ajudante foi de 5 anos 

O responsável pelo naufrágio de um barco pesqueiro que matou 800 migrantes em abril de 2015 foi condenado pela justiça italiana a 18 anos de prisão nesta terça-feira (13). Segundo os juízes de Catânia, na Sicília, essa foi uma das piores tragédias das últimas décadas no Mar Mediterrâneo.

Na noite de 18 de abril de 2015, o pesqueiro, procedente da Líbia, naufragou depois de ter batido contra um navio de carga português que foi ao seu encontro para ajudar. Sobreviveram apenas 28 pessoas, que afirmaram que havia ao menos 800 passageiros no barco.

Junto com o capitão, o tunisiano Mohammed Ali Malek, seu ajudante, o sírio Mahmoud Bikhit, foi condenado a cinco anos de prisão. O capitão também foi condenado por múltiplo homicídio culposo e naufrágio.

O julgamento, que ocorreu de forma rápida, com audiências a portas fechadas e quase total indiferença dos meios de comunicação italianos, foi concluído com uma condenação exemplar e uma indenização de 9 milhões de euros.

Os dois acusados, que negaram qualquer responsabilidade na tragédia e afirmam que são simples migrantes, foram julgados por incentivar a imigração ilegal.

Manobras

Segundo a acusação, as manobras erráticas de Malek contribuíram significativamente para o naufrágio da embarcação.

De acordo com os testemunhos dos sobreviventes, Malek estava diante do timão quando o pesqueiro, sobrecarregado, afundou em poucos minutos depois de atingir o cargueiro português que tentava resgatá-lo.

“Não são traficantes de seres humanos. O responsável do barco costuma ser designado ao partir. Dão a ele um telefone celular, uma bússola, e são proibidos, sob pena de morte, de dar meia volta”, explicou à AFP o advogado de Malek, Massimo Ferrante.

Durante o julgamento, Ferrante pediu que as manobras realizadas pelo navio português fossem examinadas, mas os juízes de Catânia exoneraram rapidamente a equipe do cargueiro de qualquer responsabilidade na tragédia.

As histórias chocantes dos sobreviventes provocaram uma onda de indignação e obrigaram a União Europeia a reforçar significativamente sua presença diante da costa da Líbia, de onde partem a maioria dos migrantes, razão pela qual atualmente ela é patrulhada por barcos militares europeus.

A pedido do então chefe de governo, Matteo Renzi, a marinha italiana recuperou no fim de junho os restos do naufrágio do pesqueiro, que estava a 370 metros de profundidade, uma operação inédita que custou 10 milhões de euros e deverá permitir identificar todos os mortos.

Enterro digno

A ideia da Itália é criar uma rede europeia para identificar os imigrantes ilegais que perdem a vida durante a travessia do Mediterrâneo e dar a eles um enterro digno, de modo que a Europa se lembre “dos valores que realmente importam”, prometeu Renzi na época.

Junto com as 24 vítimas enterradas em Malta após a tragédia, os 219 corpos resgatados nos dias posteriores ao naufrágio e os restos encontrados pelas equipes forenses dentro da embarcação, a soma de mortos supera as 800 pessoas, segundo as autoridades.

Para os bombeiros italianos, que consideravam que a embarcação não podia transportar mais de 250 pessoas, a comoção foi notável quando encheram 458 sacos com os cadáveres encontrados no porão, na sala de máquinas e até na pequena abertura que guarda a corrente da âncora na parte dianteira do pesqueiro.

Os documentos encontrados nos bolsos dos cadáveres demonstraram que eram provenientes de Sudão, Somália, Mali, Gâmbia, Etiópia, Senegal, Costa do Marfim, Eritreia, Guiné Bissau e Bangladesh.

Ao divulgar estes números em outubro passado, Vittorio Piscitelli, comissário extraordinário para as pessoas desaparecidas na Itália, manifestou sua indignação. “Como 900 pessoas puderam entrar neste barco? Era impossível que chegassem vivas!”, lamentou.

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