Estudos explicam que posicionamento político dos países direciona decisão

Repetida como um mantra por governos de todo o mundo, a frase “Nós não negociamos com terroristas” perdeu o impacto de um axioma, uma verdade inquestionável e universalmente válida. A explosão do terror perpetrado por grupos fanáticos, especialmente a partir do início do século 21, tem exigido traquejo e flexibilidade de chefes de Estados em guerra contra o extremismo. Há quem diga que, desde a libertação do sargento norte-americano Bowe Bergdahl — solto em abril do ano passado depois de ser mantido em cativeiro pelo movimento radical Talibã por quase cinco anos —, Washington tenha alterado fundamentalmente a abordagem política no trato da questão. Em troca do soldado, cinco militantes talibãs deixaram a prisão de Guantánamo, em Cuba.

Peter Mansoor, coronel reformado do Exército dos Estados Unidos e professor de história militar da Universidade do Estado de Ohio, afirma que a decisão de negociar com grupos terroristas se relaciona com a soberania de cada país. “Alguns governos realmente mantêm a palavra e não negociam. Outros estão mais dispostos a trocar prisioneiros ou a pagar resgates para a libertação de reféns”, contou ao Correio, em entrevista por e-mail. “Eles (os governos) precisam fazê-lo, no entanto, sabendo que pagamentos de recompensas a sequestradores resultam em mais capturas de reféns no futuro. Nesse sentido, uma troca de prisioneiros militares é algo mais aceitável que usar civis como peões no jogo terrorista”, conclui Mansoor.

Queimado vivo pelo Estado Islâmico (EI), o piloto jordaniano Moaz Al-Kassasbeh não teve a mesma sorte de Bergdahl. Tampouco escaparam de ser assassinados os cidadãos japoneses Haruna Yukawa e Kenji Goto, brutalmente decapitados, em janeiro. Os jihadistas pediram a Tóquio US$ 200 milhões em troca dos dois reféns. Depois de executarem Yukawa, exigiram da Jordânia a libertação da terrorista iraquiana Sajida al-Rishawi. Em contrapartida, soltariam Goto e Moaz. No entanto, Goto teve o mesmo destino do compatriota e Moaz tinha sido morto com uma crueldade sem precedentes antes mesmo das negociações serem abertas.