Sabemos que desde o início da novela das nove – isso lá em 2019 – a autora Manuela Dias romantiza ao extremo o ambiente educacional e principalmente a relação entre alunos e professores. Tudo é lindo e mágico nesse universo representado em “Amor de Mãe”.
Antes, quando a professora Camila (Jéssica Ellen) dialogava com alunos mega-interessados na sala de aula presencial, já era incondizente com a realidade das escolas pelo país. Agora, com as vídeochamadas dominando a forma de aprendizado, Manuela conseguiu romantizar ainda mais a situação.
“Nossa, eu vi. Como eu queria que fosse do jeito que é na novela. Quero ver quem liga a câmera ou o microfone pra falar alguma coisa. A gente dá aula sozinho e nem sabe se tem alguém ouvindo do outro lado”, relatou a professora Marluce Dias ao Jornal Midiamax.
A autora parece viver em um universo muito distante do que assola as escolas brasileiras, idealizando professores que ultrapassam a perfeição, militam e engajam causas, e fantasiando alunos interessados, preocupados e com câmeras ligadas. Uma cena em especial, exibida esta semana, chamou atenção pelo surrealismo. Foi quando a professora Camila voltou a dar aulas à distância após a falsa morte de Lurdes.
O folhetim está se passando na época em que o afro-americado George Floyd foi morto estrangulado por um policial branco que ajoelhou em seu pescoço durante uma abordagem em 2020 – acontecimento que sensibilizou o mundo inteiro. A docente da novela então levou o assunto para a ‘sala de aula’: “Quanto mais a realidade piora, mais faz sentido a gente estudar. Não é? Vocês têm acompanhado o que está acontecendo no mundo?”, questionou Camila, sentada à frente de um quadro branco escrito “Vidas Negras Importam”.
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“Quando eu vi as pessoas na rua se manifestando pelo assassinato do George Floyd eu senti que precisava dar aula pra vocês. Cada um tem sua maneira de resistir. A minha é dando aula pra vocês”, manifestou a professora.
Interativo, o aluno Garnizé de pronto respondeu: “Coé, professora vou te dar um papo, mano. Eu acho que a gente tá sempre indignado com o que acontece nos Estados Unidos mas tem que ficar bolado com o que acontece aqui no nosso país também psora”, indagou o estudante
“Por exemplo, semana passada mataram um menor dentro de casa, tá ligado? João Pedro. Menor bonitão, sorrisão, cheio de vida pela frente, e aí?”, disse Garnizé, participativo.
“Você tá certíssimo, Garnizé. Certíssimo! E é sobre isso que a gente vai falar na aula de hoje, tá? Bora?”, finalizou a docente.
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Para a professora Marluce Dias, um diálogo como esse está muito distante da realidade educacional do dia a dia. “Impossível. Desse jeito? Só em novela mesmo. Mas tá bom, a novela mostra como as coisas deveriam ser e não como são, né? Ficção é pra isso”, desabafou em entrevista ao Jornal Midiamax.
Novelas não tem qualquer compromisso com a realidade, mas “Amor de Mãe” é uma das que se anunciou como “retrato” da vida das pessoas. Não teria nenhum problema esse universo escolar mágico e fantasioso se o folhetim não bancasse o realista. Até inseriu o coronavírus na história (este também romantizado), mas segue exagerando nos toques de ludicidade ao retratar o ambiente escolar.
