Sucateadas pelo SBT há anos, as novelas mexicanas tiveram toda sua dignidade destruída pelo canal de Silvio Santos. Para se ter noção, a última vez em que tudo andou nos conformes e com devido capricho para os dramalhões no canal brasileiro foi em 2010, com um leve respiro entre 2014 e 2015, mas sem promover a recuperação (ou construção) do prestígio.

Nesta segunda-feira (23), o Globoplay, plataforma de streaming da TV Globo, estreou a novela mexicana “Marimar” (1994), estrelada por Thalia e já transmitida em cinco ocasiões ao longo dos últimos 25 anos pelo SBT. A chegada ao pode parecer tardia, mas representa o resgate da moral e da reputação dos folhetins latinos em solo brasileiro. 

Desde que o SBT “se entende por gente”, as novelas mexicanas são alteradas de cabo a rabo, com traduções esdrúxulas, aberturas refeitas ou recriadas do zero de maneira completamente porca e vergonhosa, com os próprios capítulos levados ao ar da forma mais relaxada possível. Cortes abruptos e edições grotescas mancharam, ao longo dos anos, o nome dessas produções no Brasil.

Confira algumas aberturas feitas pelo SBT para “Marimar” nos últimos anos e a original:

Terreno desconhecido

Quem vê o que o SBT leva ao ar, de fato, não conhece as novelas mexicanas. Sem compromisso, o canal faz o que bem entende e costuma transmitir as histórias de qualquer jeito, sem se preocupar ou zelar pela originalidade e pela conservação das produções. 

A chegada de “Marimar” ao catálogo do Globoplay representa, justamente, o triunfo das obras da Televisa no Brasil e, principalmente, a devolução da dignidade tirada há anos pelo SBT — que opta por exibi-las de forma relapsa e assustadora, especialmente os folhetins mexicanos mais recentes, nos quais a ‘porquice' tem predominado como nunca, com edições que ultrapassam os limites do amadorismo.

Vistos como chacota, produtos “de quinta” e até, de certa forma, marginalizadas por boa parte dos brasileiros, em detrimento às produções nacionais, os dramas latinos sempre foram comparados com o jeito nacional de fazer novelas, mas o estilo mexicano dos folhetins ainda tem seu espaço no Brasil. A própria compra do Globoplay, com o pacote de novelas clássicas, reforça isso e mostra o interesse da Globo em atrair e fidelizar esse público, valorizando  as produções oferecidas — algo que o SBT jamais fez.

Capricho original agora está disponível para quem puder acessar a plataforma (Foto: Televisa)
Capricho original agora está disponível para quem puder acessar a plataforma (Foto: Televisa)

No Brasil, Marimar foi a única novela mexicana exibida na íntegra e com tudo absolutamente original pelo SBT, em 2004, durante sua segunda reprise. Entretanto, também tratou de ser a única ocasião em que isso aconteceu. Antes e depois, a obra terminou por ser uma das mais modificadas pelo canal de Silvio, especialmente em 2011 e 2013, em suas últimas reapresentações.

Novos horizontes

Agora, disponível no Globoplay, da mesma maneira como foi exibida no México em 1994, “Marimar” poderá ser acessada por novos e velhos públicos de uma forma diferente: com capricho e esmero, o oposto do que pôde ser visto em suas diversas reprises na TV aberta. Quem sabe, dessa forma, o SBT não crie vergonha na cara e pare de transmiti-las de qualquer jeito, manchando a imagem das obras latinas por aqui.

“Marimar” é a primeira do pacote que a Globo adquiriu com a Televisa. Em breve, mais clássicos mexicanos virão para ficar na plataforma. Entre eles, “Maria do Bairro”, “A Usurpadora”, “O Privilégio de Amar” e outros, abrindo as portas para produções mais novas também ganharem espaço e credibilidade no Brasil.

Capricho original agora está disponível para quem puder acessar a plataforma (Foto: Televisa)
Fãs comemoram a entrada de “Marimar” no catálogo do Globoplay e o “livramento” do SBT (Foto: Televisa)

Se conferidas em sua devida originalidade, com primor e sem edições grotescas que “queimam seu filme”, as novelas mexicanas, enfim, poderão resgatar sua dignidade no país. Quem sai ganhando com tudo isso, na realidade, são os telespectadores: dos fãs ensandecidos aos mais leigos, que passam a ter acesso a um produto da forma como ele é, sem a interferência (ou a “mão”) de terceiros que só fazem destruir e corromper seu nome.

Nas redes sociais, as comemorações já começaram.