Neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, falamos com elas: as mulheres profissionais da Saúde. Médicas, fisioterapeutas, enfermeiras que vivem a realidade avassaladora da pandemia todos os dias frente a frente. Muitas delas perderam pacientes, amigos, familiares, conhecidos, mas nunca a Fé de que os dias voltaram a ser como antes.

A uma semana para completar um 1 ano desde o primeiro caso confirmado do em Mato Grosso do Sul, a pandemia nos trouxe diversas lições e mudanças radicais de rotinas. Nos ensinou a ter paciência, tranquilidade, disciplina e coragem. Confira relatos daquelas que todos os dias arriscam a vida para salvar a do próximo:

Rosane Medina Queiroz da Rocha, fisioterapeuta – Hospital Adventista do Pênfigo

“Comecei a trabalhar em 2019 com ortopedia na clínica Ortotrauma e em 2020 entrei no Hospital Adventista do Pênfigo como fisioterapeuta intensivista no CTI. Minha inspiração é o resultado da reabilitação seja ela musculoesquelética ou cardiorrespiratória em minha atuação. Devolver o paciente ao seu dia a dia após alta com o máximo de funcionalidade preservada, com seu corpo pronto para seguir em frente novamente.

Com a chegada da pandemia me vejo em um campo de trabalho totalmente diferente e com pacientes gravíssimos lutando com toda sua força para ficar bem, mas nem sempre esse final era feliz. Tivemos que lidar com muitas perdas. O cansaço toma conta com plantões um atrás do outro, muitas vezes cobrindo a escala de amigos que precisaram se ausentar por terem sido contaminados.

Mas também tiveram pacientes que me alegraram muito em sua evolução. Lembro a primeira extubação que participei e foi incrível ver o paciente respirando sozinho novamente. Foi emocionante demais, nos dias seguintes o mesmo paciente se sentando e se exercitando. Os cuidados foram redobrados para eu não me contaminar. Trabalhar toda coberta de EPIs não era nada confortável porém necessário.

Nesse um ano de pandemia agradeço a Deus por ter me sustentado e me colocado a reabilitar os pacientes tão queridos que atendi. Todos me deixaram ensinamentos maravilhosos. Aos que se foram, deixo meus sentimentos aos familiares e amigos. Acreditem, eles lutaram muito. Aos que tiveram alta e voltaram ao seu lar, continuem firmes e se exercitando, pois a vida requer muito movimento.

Deixo meu agradecimento a todas as colegas de trabalho que tenho. Vocês são mulheres incríveis que se dedicam todos os dias a cuidar de pacientes que tanto precisam. Somos incríveis, mulheres de sucesso e preparadas”.

Evandra Morinigo Alves, supervisora de de enfermagem hospitalar – Unimed Campo Grande

“Sou Enfermeira desde 2008 e trabalho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde 2009. Minha principal inspiração foi poder cuidar de pessoas, vivenciar pacientes em situações críticas e depois devolvê-los para o convívio familiar. Quando chegou a pandemia, primeiro veio o medo do desconhecido. Depois, o medo de não sobreviver e a tristeza de perder muitas pessoas. Me afastei do meu pai e da minha mãe por 3 meses.

Em 26 março recebemos o primeiro paciente com a doença. Desde Dezembro de 2019, já acompanhava o movimento dos casos no mundo e previsão de chegada ao Brasil. Me senti no dever de estudar e acompanhar pois vivenciei a Pandemia do H1N1 em 2010, e sabia que chegaria até aqui, então comecei a me preparar estudando.

Participei da tensa 1ª Intubação de no nosso Hospital. Daí por diante cada paciente, um aprendizado novo Nunca tivemos uma UTI com tantos pacientes gravíssimos e nunca a equipe foi tão exigida em esforço físico e emocional.

Na nossa UTI a força de trabalho é 55 % feminina e nunca houve tantas mulheres na saúde corajosas dispostas a dar o seu melhor. Avós que se afastaram dos netos. Enfermeiras que acabavam de voltar da licença maternidade não se afastaram da responsabilidade. Uma colega perdeu o esposo e vivenciamos o luto. Enfim, 2020 foi um ano de aprendizado, tristeza, resiliência, adaptação, reinventar-se e superar”.

Viviane Gomes Macedo Soares, fisioterapeuta – Hospital Militar de Área de Campo Grande

“Eu escolhi fazer fisioterapia depois que me tornei mãe, quando meu filho necessitou fazer fisioterapia respiratória, e eu fiquei encantada ao ver a melhora dele. Com o incentivo de um amigo fiz o Enem e ganhei uma bolsa do , entrei na faculdade em 2010 e já sabia que eu queria ser fisioterapeuta intensivista.

Inúmeras foram as mudanças na pandemia. Sem escola, mãe de três filhos, ajudar nas tarefas escolares e trabalhar. Estudar sobre o novo vírus, toda semana um artigo novo, o que fazer, o que não fazer… A cada plantão uma preocupação ao voltar para casa movida pelo medo de contaminar os filhos.

A rotina é intensa e exaustiva. Mexe com nosso emocional! Não perdi colegas, mas perdemos pacientes… aqueles que achei que sobreviveriam, não resistiram. Mas também aqueles que achei que não sobreviveriam, conseguiram. Sempre é triste a perda de um paciente, mas nesse último ano a tristeza se mistura com o medo!

Somos protagonistas, onde eu trabalho a maioria são mulheres da saúde. Estamos na assistência, no administrativo e na chefia. E nesses 5 anos trabalhando na saúde, me deparei com grandes mulheres, verdadeiras guerreiras com histórias de superação e admiração. Por sermos mulheres, nossas escolhas nunca são fáceis. Sempre somos julgadas!

Eu mesma para chegar até aqui, tive que fazer escolhas. Pensando no melhor para meus filhos, e o meu ex-marido e pai deles querendo ajudar, decidi que morariam com o pai até eu me formar. Fui e ainda sou julgada por minha decisão.

Não me tornei menos mãe, ou menos mulher, pela minha escolha, e vejo que eu lutei a batalha que eu precisava, e venho me tornando a minha melhor versão! Tudo que eu tenho hoje, veio das minhas escolhas, da certeza que eu tinha que estudar, de não desistir mesmo quando tudo parecia que iria desabar. Venci o preconceito, os julgamentos, a depressão, e sou grata a minha profissão, ser fisioterapeuta foi a melhor escolha que fiz!”

Silvana Mendonça Demeis, médica – Unimed Campo Grande

“Sou médica há 30 anos, desde 1992, logo que me formei. Minha principal motivação sempre foi a de querer ajudar e salvar vidas. A pandemia mudou muito a nossa rotina, estamos tratando de uma doença terrível que contamina muitos ao mesmo tempo, o que leva à exaustão de toda a equipe.

Tivemos medo, ansiedade, mas nunca vontade de parar. Sempre quis atender, orientar e salvar as pessoas que estavam contaminadas. Muito sacrifício foi exigido. As roupas de proteção não são confortáveis. A exaustão de horas de plantões foi uma constante. Sempre foi uma preocupação a possibilidade de ser contaminado e contaminar os familiares.

O ano de 2020 nos trouxe muitas experiências. Essa pandemia nos exigiu muito de conhecimento, esforço e dedicação. Nós não tínhamos que nos preocupar só com os pacientes, mas também com os familiares, que sofriam à distância. O isolamento é uma das principais orientações sanitárias para a doença.

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(Reprodução, Arquivo Pessoal)

Vimos pacientes morrerem, outros serem curados. Vimos colegas e enfermeiros morrerem, e outros serem curados. Não foram dias fáceis e em 2021 a nossa batalha continua. Todas as mulheres têm papel crucial em tudo que fazem. E nós da Saúde, que estamos no enfrentamento da pandemia, somos dedicadas, cuidadosas e corajosas.

A principal característica das mulheres da saúde é a empatia. Se colocar no lugar do outro, das famílias e pedir a Deus que conforte a todos e nos proteja. Que bom que temos o dia 8 de Março para comemorarmos o Dia Internacional das Mulheres. Tenho orgulho de ser mulher, mãe, companheira, médica e de estar na luta sendo um instrumento de esperança.

Desejo e espero que essa pandemia nos traga mais empatia e humanização e que saibamos, todos, que nossa vida é um sopro. Que estamos de passagem e podemos fazer o melhor durante ela. Desejo a todos felicidade, coragem, e sobretudo, muita Fé”.


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