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Comportamento

Traição, ética e fidelidade: as consequências do isolamento social na vida dos casais

Desde os primórdios da civilização, a traição esteve presente no relacionamento humano. Foi assim em 1817, quando o imperador do Brasil, Dom Pedro I, se casou com Maria Leopoldina. Com o tempo, seus casos de infidelidade eram notórios, ao ponto de trair sua esposa com a Marquesa de Santos. No início dos anos 2000, a […]
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Desde os primórdios da civilização, a traição esteve presente no relacionamento humano. Foi assim em 1817, quando o imperador do Brasil, Dom Pedro I, se casou com Maria Leopoldina. Com o tempo, seus casos de infidelidade eram notórios, ao ponto de trair sua esposa com a Marquesa de Santos. No início dos anos 2000, a história se repetiu com o casal mais famoso de , Jennifer Aniston, foi traída pelo seu ex-marido, o ator . E atualmente com a pandemia do coronavírus e o isolamento social, o assunto volta a ser centro de discussão entre muita gente.

Conforme dados do site Ashley Madison, especializado em relacionamentos entre pessoas casadas com objetivo de trair em sigilo, durante a quarentena, o Brasil registrou um aumento de 4.226 cadastros entre 21 de março e 1º de julho. No ranking global, o país ficou atrás apenas dos Estados Unidos. Para especialistas da Capital, o assunto vai muito além do questionamento da fidelidade, revelando mudanças significativas no comportamento dos casais em isolamento.

De acordo com a mestre em psicologia, Flávia Milanez, de 30 anos, o isolamento social trouxe uma rotina muito diferente e intensa, mudando a relação de espaço tempo entre os casais. “Atividades do dia a dia que antes eram feitas separadamente agora estão todas misturadas,  trabalho, relacionamento conjugal, filhos, estudos, cuidados com a casa o que está trazendo na convivência, entre casais por exemplo, questões que antes eram encobertas, muitas vezes por não querer saber e nem enfrentar”, pontuou.

Traição, ética e fidelidade: as consequências do isolamento social na vida dos casais
(Flávia Milanez, mestre em psicologia/ Foto: arquivo pessoal)

Para ela, existem muitos fatores que podem ter potencializado a traição no período de quarentena, pelo fato da pandemia ter influenciado em questões psíquicas.  “Ter de lidar com nós mesmos e com o outro com uma frequência e de uma forma que não acontecia antes, faz esbarrar o tempo todo em questões do outro com quem se convive, bem como com a própria solidão”, explicou.

O fato de encarar as suas questões e a da parceira(o) com mais frequência , faz levantar alguns questionamentos.  “Sobre o próprio desejo, sobre quem se é, sobre quem é a pessoa com quem escolheu como parceira(o) e por quê escolheu, entre outras questões significativas da vida.  O que antes não era levado em consideração, hoje é trazido à tona”, finalizou.

A psicóloga também buscou esclarecer a necessidade da traição entre alguns casais, que mesmo depois do interesse mútuo acabar, não rompem o relacionamento.  “A traição está relacionada à inúmeros fatores, como por exemplo pode estar ligada a questões inconscientes relacionadas com a história individual de cada um. Colocar um ponto final no relacionamento implica em abrir mão de um lugar que em certa medida existe um conforto e uma certeza, o que leva a uma dificuldade no rompimento”,detalhou.

Moral, ética e fidelidade

Tiago Duque, de 42  anos,  é doutor em Ciências Sociais e professor da , além de ser  líder de um grupo de pesquisa em gênero, sexualidade e diferenças, denominado Impróprias. Conforme ele disse, existem várias possibilidades de lidar com a relação afetiva em tempos de pandemia, e nem sempre elas levam à traição, tudo depende do histórico da experiência dos casais antes da pandemia.

“Em alguns casos, os casais se mantêm compulsoriamente monogâmicos, para cumprir com o que pedem as autoridades sanitárias, mas é importante desvincular a fidelidade como termo somente da monogamia. Pessoas que constroem relações abertas consensuais, que podem se relacionar sexualmente com outras pessoas, são fieis seus combinados e regras, mas não são monogâmicos”, explicou.

Para o doutor, não podemos avaliar as relações afetivas por uma única ideia de moral e uma única ideia de ética. É preciso olhar para isso no plural, existem várias noções e perspectivas éticas e morais, que as pessoas negociam constroem e mudam em diferentes relações sociais.  “Para algumas pessoas é justo trair porque foi traída, então ali a traição deixa de ser uma ideia imoral, para fazer parte de uma noção de justiça,” Pontuou.

Traição, ética e fidelidade: as consequências do isolamento social na vida dos casais
(Tiago Duque, doutor em Ciências Sociais / Foto: arquivo pessoal)

O professor levanta outro questionamento, um membro do casal que contrata uma prostituta (o), pode ser considerado um traidor em alguns casos. Já um profissional do sexo, pode ter uma relação monogâmica fora da profissão, porque não é algo recreativo e sim profissional.

“O que caracteriza a traição não é o ato em si, mas o sentido que as pessoas dão a ela. Uma coisa é relação fora do mercado do sexo, outra é relação fora do compromisso, monogamia é o sentido que as pessoas dão a relação” explicou.

Conforme o doutor, a fidelidade é sustentada porque existe a possibilidade da traição amorosa, a valorização de uma depende da proibição da outra. O desejo de trair escapa a determinadas regras culturais, vistas como legítimas, que dão importância ao fato de ser fiel.  Sem essas normas, ninguém cobraria a fidelidade.

“Não se trada de pensar que não existam casais fiéis, sim, existem e são muitos. Mas moralmente, o fantasma da traição é que mantém a expectativa de que vale a pena manter-se monogâmico”, finalizou o raciocínio.

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