Na modernidade que vivemos hoje, repletos de telas e informação na palma da mão, as relações entre as pessoas passaram a ser mais distantes e imediatas. E o é um desses aspectos da vida moderna que sofre as consequências da mudança de comportamento.

Nesta sexta-feira (6/9), Dia do Sexo, conversamos com a psicóloga Ana Júlia Barbosa para refletir sobre as mudanças que o sexo sofreu com o decorrer dos anos. Além disso, coletamos alguns depoimentos e questões de leitores que serão identificados pelos números de 1 a 3 para preservar o anonimato.

O mundo líquido e os frágeis laços humanos de Zygmunt Bauman é marcado pelo vazio existencial preenchido, na prática, pelo sexo. As pessoas,em sua maioria, possuem incontáveis parceiros e o sexo casual se torna desconectado do sentimento. Além disso, o acesso mais fácil à forma uma concepção ilusória do que é o ato sexual, levando o indivíduo a frustrações.

Cada vez menos

Dia do Sexo: Como a modernidade suprimiu um ato de prazer

 

Segundo um estudo do The British Medical Journal, as pessoas têm se relacionado sexualmente cada vez menos. Menos da metade (41%) das pessoas de 16 a 44 anos fez sexo pelo menos uma vez por semana no período de um mês.

A proporção que não se relacionou no período aumentou – de 23% para 29,3% entre as mulheres e de 26% para 29,2% entre os homens entre 2001 e 2012.

Dia do Sexo: Como a modernidade suprimiu um ato de prazer
Elaborado por: Carlos Yukio | Especial para Midiamax

A proporção que relata sexo 10 ou mais vezes no mês caiu – de 20,6% para 13,2% entre as mulheres e de 20,2% para 14,4% entre os homens entre 2001 e 2012. O número médio de vezes que pessoas de 35 a 44 anos relataram fazer sexo no mês caiu de 4x para 2x entre as mulheres e de 4x para 3x entre os homens.

“Existem diversos fatores que contribuem para esse declínio. A rotina das pessoas contemporâneas, não conseguir se desligar do trabalho, preocupação com os orçamentos domésticos, filhos, stress do dia a dia. Quando as pessoas saem do serviço, elas vão para as redes sociais e para a pornografia, que podem aumentar a ansiedade e preocupação com o corpo e estimular comportamentos negativos em relação aos parceiros”, reitera a psicóloga Ana Júlia Barbosa.

Tabu

Dia do Sexo: Como a modernidade suprimiu um ato de prazer

[bs-quote quote=”O que eu quero falar é como os homens não sabem lidar com mulheres que gostam tanto de sacanagem quanto eles. Quando a gente fala que quer só transar e mais nada. Quando pedimos pra levar uns tapas. Eles ficam sem reação, quando não, broxam.

Tenho a séria impressão de que homem fala mais que gosta de sexo, do que realmente gosta. Eles têm a falsa imagem de que mulher não sente a mesma vontade de dar uma e só, sem querer algo mais.

Mas eu fico impressionada/puta com o quanto eles não sabem agir com mulheres que amam transar e falam abertamente isso. Eu penso que é porque na cabeça deles, eles sempre tem que estar no controle.” style=”style-1″ align=”center” color=”rgba(0,0,0,0.46)” author_name=”Leitora 1″ author_job=”23 anos”][/bs-quote]

Falar sobre sexo ainda é motivo de vergonha e constrangimento, mesmo sabendo que todo ser humano tem por instinto o desejo. A falta da educação sexual, apropriada para a faixa etária, é um dos motivos para essa “vergonha”.

E sem o auxílio da família ou da escola nesse direcionamento, os pré-adolescentes e adolescentes acham respostas à essa repressão sexual na e com colegas, fontes nem sempre seguras e irreais.

Embalada pelo machismo, a repressão sexual é mais presente entre as mulheres. A masturbação feminina é um tema intocável. Diferente dos homens, para as mulheres é preciso uma autorização para que descubram a masturbação, prática que ainda é vista com receio, distância ou constrangimento por boa parte da população feminina.

Redes sociais do prazer

 

Dia do Sexo: Como a modernidade suprimiu um ato de prazer

[bs-quote quote=”Vejo que as pessoas não se relacionam com as outras de verdade. É só abrir um app que tem um ‘cardápio' para você escolher entre o mais gato e gostoso, com as descrições que colocam todos dentro de uma caixinha. Diante tudo isso, percebi que não existe afeto, não existe um toque com carinho, e sim uma relação para suprir aquilo que você e seu corpo tem como necessidade, mas não o relacionar, interesse pelo outro e afeto de verdade.” style=”style-1″ align=”center” color=”rgba(0,0,0,0.45)” author_name=”Leitor 2″ author_job=”20 anos”][/bs-quote]

A redes sociais estão relacionadas com a falsa percepção da realidade e busca pela perfeição. Vemos a todos instantes pessoas malhadas e “bonitas” nas redes sociais e de repente, nos pegamos nos comparando nossas próprias vidas e vemos que ela é “normal” comparada a dos outros.

“O sexo está totalmente ligado a isso. Numa roda de amigos quando esse é o assunto, os casais falam que tem relações 4x por semana ou até todos os dias, os solteiros falam de aventuras sexuais. Todo mundo é uma marca, queremos estar dentro dos padrões que a sociedade estabelece. A vida nas redes sociais é mais interessante que a vida real. Queremos paquerar na rede social, mas nem conseguimos manter diálogo na vida real”, reitera a psicóloga.

Pornografia e a construção do sexo

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[bs-quote quote=”A minha experiência mais frustrante foi quando eu saí com um menino aqui da minha cidade e ele falava que era louco pra ficar comigo, e ele sempre se exaltava muito sabe? Ficava contando vantagem sobre ser “fodão” na cama! Um dia que fomos comemorar o aniversário de uma amiga minha, eu bebi e subiu aquele fogo.

Ele me chamou pra ir pra casa dele e fomos. Começamos a nos beijar, tiramos a roupa e quando eu subi em cima dele para começar a transar, ele gozou.

Uma hora depois tentamos de novo, e aconteceu a mesma coisa. Aí eu já tava frustrada demais, pedi pra me levar embora e nunca mais vi ele. Pior experiência da minha vida.” style=”style-1″ align=”center” color=”rgba(0,0,0,0.46)” author_name=”Leitora 3″ author_job=”22 anos”][/bs-quote]

A pornografia e o maior, e mais fácil, acesso à sexualidade sem responsabilidade pela geração que foi contemplada pela internet, fez com que grande parte dos jovens passassem a ter uma visão distorcida sobre como o sexo é na realidade, causando frustrações e anseios inalcançáveis.

Imagine que até os anos 90 o máximo de exposição à pornografia que um jovem tinha era uma revista que tinha que ser comprada em uma banca ou fitas cassetes que tinham que ser reproduzidas em televisores enormes. Hoje, qualquer smartphone conectado à internet e sem filtros parentais pode se tornar uma porta para a pornografia.

“Esses adolescentes que são expostos aos conteúdos adultos podem perder orientação durante a fase do desenvolvimento sexual. A educação ou a falta dela, é um dos maiores causadores de transtornos sexuais, pois dão origem a uma imagem distorcida que o indivíduo acaba tendo de si mesmo e do outro”, afirma a psicóloga.