Angel Magalhães é deficiente física e custou conseguir até mesmo informações

Desde fevereiro, a fotógrafa e youtuber Angel Magalhães, 24 anos, corre atrás de informações sobre ingressos e área reservada para deficientes físicos nos shows realizados durante a  2018, em Campo Grande. Contudo, o que ela colecionou durante esses quase dois meses foram desinformações e expectativas frustradas. Além de chegar ao Parque Laucídio Coelho, na noite deste sábado (7), e não encontrar nenhuma estrutura de .

“Eu não consegui nem sequer obter informações por nenhum meio. Liguei inúmeras vezes e ninguém me atendeu. Mandei mensagem pelo Instagram em diversos perfis, pelo  Facebook, pelo WhatsApp e nada. Fui até o prédio da produtora e estava  fechado – quando era para  estar aberto. Teve até um dia que minha cunhada foi lá para ver se conseguia informações e não deixaram ela subir.  Aí, tentamos de novo em outro dia, mas ninguém nunca sabia nada com certeza”, conta Angel.

Mesmo sem uma informação preliminar, Angel resolveu ir ao show deste sábado (7), na ​”Festa das Patroas”, com a cantora Marília Mendonça e a dupla Maiara e Maraisa. Mesmo dia que há cinco anos ela marca no calendário a data do acidente de moto que a fez amputar a perna esquerda.

“Uma amiga minha cadeirante havia ido à nos anos anteriores e me disse que havia área para deficientes físicos e que já na entrada o pessoal da organização encaminhava para lá”, comenta Angel. Contudo, nem de perto foi isso que aconteceu com ela neste final de semana.

Logo na entrada, ela foi barrada na questão do ingresso. “Precisei ir conversar com uma mulher para então liberarem minha passagem sem que eu precisasse pagar”, diz. A gratuidade de entrada em eventos culturais e esportivos para pessoas com deficiência, bem como para o acompanhante, é garantida por lei.

Segunda etapa da saga

Depois de conseguir ter o direito de acesso à exposição, Angel começou a segunda etapa da saga em busca da área reservada aos deficientes físicos para assistir aos shows. 

“No show da Marilia Mendonça, começou a lotar muito o espaço, foi um empurra empurra, e estava difícil para eu ficar no meio da multidão. Fui atrás dos seguranças para saber onde ficava a tal área reservada. Ou seja, perdi metade do show dela atrás disso. Rodei, rodei e não encontrei informação nenhuma.. Até que um segurança me falou que não existia mesmo esse espaço”, recorda a youtuber.

Angel ainda ficou até o final do show da dupla Maiara e Maraisa, em consideração às amigas que estavam com ela. Mas relata o desafio que foi para ela se equilibrar nas muletas e ficar a todo tempo atenta para não cair com o vai e vem das pessoas no local. 

“É muito frustrante sair de casa para ir curtir algo e quando lá vê que não há nenhuma estrutura para te receber. Chegou uma hora que sentei no meio da pista, porque não aguentei de dor. Mas eu ainda estou de muleta, é cansativo, dói, mas consegui aproveitar alguma coisa. Mas imagina um cadeirante?! Simplesmente não assiste ao show se não for em um espaço apropriado, com o tanto de gente na frente dele”, diz Angel.

Este foi o primeiro show que Angel foi depois que sofreu o acidente. E o que ela esperava encontrar era o mínimo de dignidade para poder aproveitar o evento como qualquer outra pessoa do pública, de acordo com as necessidades dela que deveriam ser garantidas por lei.

Gratidão e invisibilidade

Depois de 5 anos do acidente, Angel agradece por estar viva e por tudo o que aprender neste tempo, principalmente a superação que chegou através da aceitação. Porém, ela também diz sobre a luta diária por respeito e visibilidade.

“Aprendi que todos os meus direitos eu preciso conquistar no grito, pois a pessoa com deficiência ainda é muito invisível. Apesar de terem sido 5 anos muito bons, foram anos que percebi que eu mesma precisava ir atrás dos meus direitos. E ontem eu senti isso mais na pele do que nunca”, desabafa.

Angel tem um canal no Youtube, chamado Vlog da Mini, no qual ela fala sobre motivação e aceitação. No Instagram – @angelcmagalhaes – ela também conversa com as pessoas e fala sobre a rotina dela com a deficiência física.

A reportagem do Midiamax entrou em contato com a Duts Produções e Eventos, através do número de telefone indicado no site, porém, a chamada não foi atendida.

Confira na íntegra o relato da youtuber no Instagram:

“Eu fiquei aproximadamente de 7 a 8 anos sem ir em nenhum show! Até chegar a #expogrande2018 , os shows me interessaram eai começou uma saga de despreparo e frustração.
Desde a abertura da vendas de ingressos eu tentei entrar em contato com a @dutspromocoesvia redes sociais, telefone e até indo lá, foram meses de tentativa frustrado. A questão era simples: deficiente paga? Existe área reservada? Caso exista como faço pra acessar?
Meses sendo totalmente ignorada por uma estrutura gigantesca! Liguei na @dutspromocoes , na @acrissulms, mandei mensagens, passei em seus escritórios e tudo em vão.
Resolvi ir na sorte, amigos meus que foram em anos anteriores afirmaram existir uma área pra deficiente, até chegar lá hoje, no show da @mariliamendoncacantora e @maiaraemaraisa na @festadaspatroas e dar de cara com um despreparo sem fim.
Foram mais de 10 seguranças questionados sobre a tal área reservada onde ninguém sabia me informar, até que uma me afirmou “esse ano não temos, eu sinto muito”.
Que grande e desagradável surpresa minha, ir e ficar rodando a toa atrás de algo que nem existia mais.
No vídeo de hoje, eu falo sobre como eu entendi sobre a invisibilidade da pessoa com deficiência e hoje a @dutspromocoes me fez sentir isso na pele. 
Eu ainda queria curtir mais 2 shows ao qual já nem tenho mais ânimo. Camarote? Não me compensa comprar também sabendo que o acesso é apenas via escada.
Uma vergonha uma exposição, que completa 80 anos, não conseguir atender todo o seu público. Uma vergonha ter que passar por isso. 
Expogrande 80 anos sendo ótima pra quem? Dando convites e cortesias e esquecendo de atender 100% de seu publico.
Parabéns pelo PÉSSIMO trabalho e preparo @dutspromocoes @expogrande2018 @dumaluf e obrigada por me fazer passar por essa experiência, no dia em que completo 5 anos de acidente, para aprender que direito tem que se pedir na base do grito, pq se depender de empresas e estruturas como a de vocês, as pessoas com deficiência tão bem enroladas mesmo!”