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Comportamento

Quaresma e os diferentes jejuns escolhidos em preparação para a Páscoa

Além de privação, é tempo oração e caridade
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Além de privação, é tempo oração e caridade

Tradicionalmente, o jejum realizado por católicos em todo o mundo durante a Quaresma é o de carne, mas existem fiéis que adequaram o mandamento e escolheram outros tipos de privação, como doces e até redes sociais. Entretanto o propósito continua o mesmo: a busca pela espiritualidade e se tornar uma pessoa melhor.

A sugestão do padre Carlos Alberto Pereira, vigário da paróquia Sagrado Coração de Jesus, é que as pessoas façam jejum de acordo com o que podem fazer. Segundo ele, normalmente a privação é de alimentos, bebidas, falar muito, uso do celular, computador, redes sociais e televisão. “Tem que ser algo que gosta muito, algo que vai sentir falta. A igreja amadureceu muito nisso, tem pessoas que não podem se privar de alimentos por causa da saúde”, explica.

O arcebispo de Dom Dimas Laras Barbosa confirma que “não existe instrução oficial na e o jejum depende da criatividade das pessoas. Quaresma é tempo de abstinência e jejum. Tradicionalmente, o jejum é de comida, se abster de carne, mas, como exemplo, na Amazônia, onde as pessoas já não consomem carne, os padres recomendam abstinência de peixe. A ideia da abstinência de doce, da língua ‒  muito difícil e útil ‒ são conselhos que padres dão por iniciativa própria e depende da realidade de suas paróquias”, avalia.

Quaresma e os diferentes jejuns escolhidos em preparação para a Páscoa

Da carne às redes sociais

Depois dos 16 anos, quando já estava crismada e foi coroinha na paróquia onde participa, a contadora Jaqueline Alves Garcia, hoje com 28 anos, passou a se dedicar ao jejum e oração nos 40 dias que antecedem a . “Comecei a guardar a quaresma quando tive maturidade maior na fé. Todo ano faço jejum. Não é sempre o mesmo. Mas sempre respeito os três quesitos: jejum, oração e caridade”, conta.

Em alguns anos, ela se privou de carne, em outros de pão e neste ano vai deixar de comer doces. Jaqueline relata que “quando se propõe fazer algo, as provações são maiores e dá mais vontade consumir, se estressa mais, acontecem coisas para tentar tirar o foco do jejum. Mas a gente se coloca em oração e consegue chegar até o final. Acho que é pra provar nossa fé”, salienta.

Jaqueline vai deixar de comer doces. (Pixabay)​Quando finalmente o período termina, Jaqueline diz que percebe que realmente aquilo do qual ela se privou realmente não fazia tanta falta assim. “Não é uma coisa que não vive sem. É uma dependência que não é uma coisa boa. É um período quando a gente se aprofunda, e as leituras da Quaresma são propícias para isso e a gente coloca bem pequeno no colo de Deus”, conclui.

Conforme as palavras do padre Carlos Alberto, quem guarda a Quaresma “ganha principalmente uma intimidade com Deus” e a percepção de que “neste mundo não precisamos de todas as coisas que queremos para sermos feliz. A privação nos mostra que aquilo não vai nos tirar a paz, alegria ou felicidade”, ensina.

Este foi o entendimento do funcionário público Giovany Dutra, de 33 anos, em anos anteriores quando deixou de tomar café. “Sempre tomei muito café, mas quando a quaresma acabou eu nem percebi e a necessidade havia diminuído”, relata. Mas neste ano, ele foi inspirado pela namorada a, nestes 40 dias, se desligar do mundo virtual. “Desde ontem [terça-feira] já desinstalei o aplicativo do meu celular. Percebi que perdia pelo menos duas horas e meia por dia no Facebook. Neste tempo, posso me dedicar à oração e a ajudar outras pessoas”, pontua.

Giovany vai ficar 40 dias sem Facebook. (Pixabay)O sacrifício oferecido por Giovany é, como ele diz, “uma vontade do meu coração” e não é moeda de troca a procura de bênçãos. Entretanto ele acredita que no final do período vai estar fortalecido na questão do tempo gasto. “Acredito que quando voltar, eu tenha um equilíbrio melhor sobre a rede social”, e acrescenta que as privações a que se submetem os fiéis na Quaresma devem ter um propósito. “Jejum sem propósito não é jejum, é dieta”, enfatiza.

Devoto de São Miguel Arcanjo, o funcionário público atribui ao jejum realizado na Quaresma do santo, um emprego que esperava muito. “Consegui o registro nesse emprego no dia de São Miguel, 29 de setembro”, relembra. Para Giovany, o período é uma forma de agradecer e reforçar a crença no Salvador. “É como se estivéssemos dizendo: ‘os 40 dias de jejum de Jesus Cristo e a Paixão não foram atoa. A gente acredita que você está aqui, que você ressucitou’. Queremos fazer algo em agradecimento, sem receber algo em troca”, conclui.

Adepta do jejum tradicional, a dona de casa Maria José Chianezi de Sá, de 63 anos, se abstém de carne por três vezes na semana durante a Quaresma e incrementa as refeições com legumes e vegetais. “O costume vem da minha bisavó. Foi passando de filho para filho. Eu sigo a tradição que meu pai deixou”, relembra.

Talvez para Maria José, o sacrifício seja ainda maior, pois precisa preparar carne mesmo nos dias que não irá consumir, pois o filho de 23 anos ainda não é adepto da tradição. “Depois que passa a Quaresma sinto que estou aliviada, que fiz alguma coisa, pedindo perdão a Deus por pecados que a gente cometeu”, comenta Maria José e relata que há pessoas riem debocham da fé. “Se essas pessoas fizessem, livraria de muitas coisas. Vem de Deus, dá proteção”, acrescenta.

Para Dom Dimas, apesas das mudanças, a Quaresma sendo um “tempo de preparação para páscoa, continua conservando sua importância e centralidade. Tem a oração, o jejum e obras de misericórdia que são formas adequadas de guardar a Quaresma. Considerando que este ano a Igreja nos convida a refletir caminhos para superar a violência, e em Cristos somos irmãos, a principal mensagem é meditarmos a cada dia na bem aventurança ‒ ‘bem aventurados os que constroem a paz, pois deles é o reino de Deus’”, finaliza.

Colaborou Mariana Lopes.

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