No espaço que antes era poesia, teatro floriu com herança da mãe de Lígia Prieto
Foram 56 anos de vida para a poetiza Nildes Tristão Prieto se entregar às palavras e assumir que dentro dela pulsava um coração artista. Até então, ela assinava no campo profissional como “dentista”, ofício que exerceu desde a juventude e no qual era formada. Mas do dia que jogou tudo para o alto para viver da […]
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Foram 56 anos de vida para a poetiza Nildes Tristão Prieto se entregar às palavras e assumir que dentro dela pulsava um coração artista. Até então, ela assinava no campo profissional como “dentista”, ofício que exerceu desde a juventude e no qual era formada. Mas do dia que jogou tudo para o alto para viver da arte até o último suspiro que deu, foram apenas quatro meses.
Quem conta a história de Nildes é a filha dela, a atriz Lígia Prieto, fundadora do Grupo Casa. Nas lembranças, ela recorda do quanto a mãe sufocou a arte dentro de si e o quanto sofria por isso. “Na família, era impossível ser artista, isso não era considerado profissão. Então, ela seguiu a carreira de dentista”, lembra Lígia.
Mas em 2013, Nildes resolveu dar um basta no preconceito e deixou transbordar toda a poesia que escreveu e guardou por anos. Lígia lembra certinho a data. Foi em 28 de maio que a mãe dela inaugurou a Casa da Poesia Alda Garcia, em homenagem à escritora que a “formou”.
O espaço foi criado em uma sala da casa de Nildes, bem ao lado do cômodo que funcionava o consultório odontológico dela. E Lígia se lembra de cada pedacinho montado pela mãe, do tapete à poltrona. O local era utilizado para leitura, escrita e declamação.
Quase um mês depois de realizar o sonho de se dedicar integralmente à poesia e abrir um espaço todo voltado á arte, Nildes descobriu a leucemia em junho daquele ano. Mas nem a doença e o tratamento a fizeram parar de escrever.
“Eu escrevia cartas para ela todos os dias. Ela lia e respondia. Apesar de tudo, eu estava feliz de ela ter realizado o sonho, de ter se entregado ao que ela tanto amava”, conta Lígia, que na época morava no Rio de Janeiro estudante teatro e palhaçaria.
Nildes faleceu em setembro de 2013 e teve um funeral cheio de alegria e arte, assim como ela era. “Foi uma festa de poesia, música. Chamei um monte de amigos artistas, cantamos, foi lindo”, recorda Lígia.
Arte perpetuada
Em 2014, Lígia voltou para Campo Grande, lado do marido, o ator Fernando Lima, com o projeto de dar continuidade ao sonho da mãe e não deixou que a arte da Casa da Poesia acabasse. E foi assim que nasceu o Grupo Casa. Vale lembrar que a residência foi onde a atriz morou dos 15 aos 18 anos.
Aos poucos, o espaço foi se transformando em casa, escola, teatro e um palco sem limites para a criação e manifestações artísticas. Desde então, a luta foi grande e cheia de nuances, mas com um objetivo que vem se consolidando cada dia mais o “viver teatro”.
Hoje, a sede do grupo é também o lar de alguns dos membros da companhia. No espaço, Lígia e Fernando abriram ainda uma escola de teatro, com turmas para crianças e adultos. Com cerca de 100 alunos, o Grupo Casa traz a oportunidade de sentir e respirar arte, em um ambiente que faz da viva alquimia e da paixão pelo teatro, um lugar com aroma de amor.
Destas turmas saíram o membros que integram o Grupo Casa e juntos formam, na verdade, uma grande família. Na sede, eles se dividem nas mais diversas funções, desde dar aulas, compor figurinos, divulgar peças, alimentar os cãezinhos da casa, até comprar produtos de limpeza e ajudar na reforma do local.
“Esse é um espaço que temos e tomamos como nosso. É uma resistência, vira nossa história e tem um pouco de nós em cada parede. Temos a liberdade de fazer o que a gente acredita que realmente importa”, afirma Lígia.
Para ela, a partir do momento em que todos são capazes de participar de todas as etapas do processo, todos falam a mesma língua. “Não é cumprir uma função. É uma existência de forma plena e faz a gente viver isso, ser capaz de se representar e representar o grupo. E isso faz com que seja visível a nossa ligação em cena”, declara a atriz.
Tem espetáculo “em casa”
Em agosto, o Grupo Casa está com espetáculo em cartaz na sede da companhia. Com estreia em julho, a peça “A Vida é Sonho” segue com apresentações durante este mês, nos dias 16, 17, 18, 23 e 25, às 20h. As sessões são com lugares limitados, atmosfera romântica e intimista.
Em “A Vida é Sonho”, Segismundo (Gabriel Brito) representa o humano que está em luta consigo mesmo, buscando a si próprio. Ao nascer é trancafiado numa torre, onde vive enclausurado até a idade adulta. Seu destino começa a mudar quando chega Rosaura (Ligia Prieto), acompanhada do palhaço Clarín (Febraro de Oliveira).
Ela veio de longe e está ali por vingança. Esta é a primeira vez que Segismundo tem contato com outro ser humano além de seu mentor Clotaldo (Roberto Lima). Logo ao sair do confinamento, o príncipe Segismundo se mostra brutal e impulsivo, iniciando o cumprimento de seus desígnios de maldade temidos por seu pai, o rei Basílio (Fernando Lopes Lima). Também participam do elenco Thaisa Contar (Estrela), João Celos (Astolfo) e Kelly Figueiredo.
O texto é um corte-cola sobre o texto de Calderón de La Barca, assinado pelo dramaturgo Fernando Lopes Lima, que também dirige a peça ao lado da atriz Lígia Prieto, ambos fundadores do Grupo Casa. O espetáculo é encenado em um palco em 360° para dar uma oportunidade de percepção especial ao seu público.
O projeto foi contemplado no edital FOMTEATRO (Programa de Fomento ao Teatro), da Prefeitura Municipal de Campo Grande – MS.
Serviço
As apresentações acontecem na sede do Grupo Casa, que fica na Travessa Tabelião Nelson Pereira Seba, nº 8, Chácara Cachoeira. Os ingressos custam R$ 10. Mais informações pelo telefone 3326-0222.
Para reservar os ingressos: https://www.teatrogrupocasa.com.br/a-vida-e-sonho.
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