E entre um rabisco e outro, “está tudo bem”

Na página Ecos de Afetos, os rabiscos feitos à mão com caneta Bic é o que dão o designer na rede social. Mas, no final das contas, o que prende mesmo são os textos, carregados de sentimentos e um pouco de devaneios. E em meio a diversas poesias, a série que retrata o diálogo entre o Menino e o Tempo revela além de questionamentos corriqueiros, mas também a vida do próprio  autor.

Em 2008, Gustavo Tanus Martins,32 anos, enfrentou um dos maiores dilemas dentro dele: a despedida repentina do pai, que faleceu em decorrência de um traumatismo craniano. Desde então, a vida, os dias e a morte ganharam novo sentido para ele. E durante o percurso, outras mudanças permearam seu caminho e o fizeram perceber a inquietação que todos nós temos sobre o espaço e o tempo, seja o agora, o que passou ou o que ainda virá.

Natural de Ourinhos, interior de São Paulo, aos 18 anos Gustavo se mudou para Florianópolis para estudar. Se formou em Naturologia Aplicada. Depois de um tempo, engatou no curso de Pedagogia conciliando com o mestrado. E antes que terminasse a segunda graduação, embalou com o doutorado. 

E quando ele acreditou que tudo estava ajeitado na vida, eis que o destino lhe prega uma surpresa. No final de 2016, ele decide largar tudo na ilha e para se mudar para Campo Grande. Ele resolveu ouvir a voz do coração. E foi justamente nesta época, com todas essas inquietações e pensamentos soltos que surgiu a série “O Menino e o Tempo”, travando diálogos entre esses dois personagens.Em diálogos entre Menino e Tempo, autor cria série questionando dilemas da vida

Em Campo Grande desde 2017, Gustavo agora cursa Filosofia na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), enquanto conclui o doutorado em Floripa. Os planos não seguiram conforme ele desenhou no papel e no início deste ano, ele precisou enfrentar outros dilemas. Mas nas entrelinhas de cada rabisco que Gustavo faz, a mensagem é uma só: “está tudo bem”.

Confira alguns textos da série:

Pensamento da noite silenciosa

Em uma noite quieta e fria o menino pergunta, instigado, ao Tempo: 
– Quanto tempo eu tenho? 
O Tempo responde:
– Alguns dizem: todo o tempo do mundo! Eu posso afirmar: o tempo necessário.
O menino silencia, por alguns instantes tentar entender, mas não se conforma e volta a perguntar, agora um pouco mais aflito: 
– E como posso aproveitar esse tempo, Tempo? Como o tempo sabe o que é necessário? E se para mim esse tempo não for suficiente? E… 
O Tempo interrompe o menino e responde com uma voz tranquila:
– Não se aflija dessa forma, pois assim estará perdendo tempo. Não acredite na necessidade de aproveitar, ser suficiente, nas promessas…. Lembre-se que o tempo passará independente de sua vontade. Por vezes não será da forma que você esperava. Você deverá focar apenas naquilo que lhe cabe, no melhor que possa fazer para você mesmo, o resto, deixe estar, pois o tempo trará as respostas.
Mais uma vez, o menino faz silêncio. Tenta fechar os olhos, para pegar no sono. Dorme por alguns minutos, acorda novamente e pergunta, novamente ao Tempo:
– Em quanto tempo terei essas respostas? 
O Tempo, pacientemente, explica: 
– No tempo necessário, mas não esqueça de algo importante, independentemente de qualquer coisa que aconteça nesse tempo; está tudo bem! 
O menino parece tranquilizar-se e repete as palavras finais do Tempo, até cair em sono profundo:
– Está tudo bem…. Está tudo bem…. Está tudo bem….

​O Menino, o Tempo e o Amor…

O dia havia sido tumultuado, mas dessa vez a questão surgiu de repente, mas não era menos intensa e logo a pergunta veio, direta e reta: 
– O que é o Amor?
Aquela pergunta não era digna de uma resposta simples, entretanto, o Tempo, como sempre sagaz, respondeu ao menino, como sempre curioso: 
– Certa vez aprendi que amar é não querer perder a presença do Outro em minha vida. Em diálogos entre Menino e Tempo, autor cria série questionando dilemas da vida
Como de costume, o menino ficou algum tempo em silêncio, refletindo sobre aquela ideia. Dessa vez teve mais calma… Ficou em silêncio… Pensou… Pensou… Dias passaram e ele voltou a dizer:
– Então amar é querer a presença do outro?! Mas eu posso amar alguém que está distante, ou que já não posso mais ver, nem tocar?
O Tempo sorriu e retrucou:
– Exatamente isso meu menino. A presença é algo que não se esgota e por diversas vezes, ficamos longe daqueles que amamos, por percalços da vida, necessidades ou por escolhas que fazemos, isso não significa que não amamos, que não seguimos com a presença daquela pessoa, mas não esqueça uma coisa… 
O menino rapidamente interrompeu o Tempo e disse:
– Eu já sei: Está tudo bem! Está tudo bem! 
Mais uma vez o Tempo sorriu e disse:
– Isso mesmo, está tudo bem…

Próximos textos

No total, já são sete textos prontos da série “O Menino e o Tempo”, dos quais apenas alguns já foram publicados nas redes sociais do autor. Os diálogos mudam, ora o menino questiona, ora reflete, mas também ensina. Como na vida, o Tempo é sábio e paciente. Mas nesta série, cheia de devaneios, qual será o destino do tempo? 

Outros textos do autor podem ser conferidos na página do Facebook Ecos de Afetos ou pelo Instagram Ecos de Afetos.