Muito além da divulgação das roupas, o objetivo também é mostrar representatividade e ativismo. Nas fotos que apresentam os looks nas redes sociais, não é por acaso que 87% são com modelos negros.

“Quando paro para analisar o cenário da moda, sempre questiono: tudo muito maravilhoso, mas, cadê os pretos nesse casting?”, pontua a empresária Ângela Batista Xavier, 25 anos, que administra a conta do Brechó Meio Fio, de Campo Grande.
Do black power ao rastafari, da cabeça os pés a cultura afro é ressaltada nas fotos – e tudo com muito orgulho. “Para compor os editoriais do brechó, busco convidar modelos negros, com objetivo de mostrar a beleza dos nossos traços, cabelos e da nossa identidade”, diz a empresária.
E a luta de Ângela, muito mais do que as vendas, é ganhar a clientela que apoia o ativismo, a luta contra o preconceito e mais representatividade nos tantos setores que ainda limitam a participação dos negros. “Infelizmente, temos pouca visibilidade na moda. Nas passarelas somos poucos, por preferência ao padrão estético já estabelecido”, comenta.
Sobre o SPFW (São Paulo Fashion Week) de 2018, a jornalista de moda Ana Carolina Pinheiro publicou na coluna “Garotas Negras”, da revista Capricho, o desapontamento em relação à presença dos negros nas passarelas. Ela disse que conseguiu contar em duas mãos a quantidade de negros que estavam no evento e o quanto nunca se acostumou com este fato.
No mesmo texto, ela descreve uma situação que passou na sala de imprensa, como repórter negra. “Na sala de imprensa, por exemplo, você encontra um ou dois jornalistas e fotógrafos negros. Uma vez cheguei a ser “confundida” com a pessoa que servia as bebidas, mas, na verdade, estava sentada escrevendo, assim como o profissional que pediu para que eu pegasse uma água”, relata Ana Carolina, ressaltando o quanto a representatividade dos negros na moda ainda anda a passos lentos.
Cenário urbano
Os looks também passam longe das combinações tradicionais e resgatam a referência street style. Portanto, nada mais justo que as fotos sejam tiradas nas ruas. E o fundo escolhido para as imagens é sempre o cenário urbano da Capital Morena, em pontos bastante conhecidos ou não.
“O conceito é explorar os variados estilos a partir da fotografia que compõe o cenário da cidade. Verificando as composições que os modelos vestem, algumas vezes fugimos do padrão propositalmente. Ou seja, hora um modelo veste uma composição mais clássica, outra mais romântica. Entretanto, mesmo apostando nessas mudanças de estilo, o que nos chama atenção é o street style”, explica Ângela.