Confira mais uma reportagem do mês LGBT
O mês que celebra o orgulho LGBT está aí, cada vez mais “fora do armário”, e não somente é o momento de abordar questões ligadas à preconceito, quanto é de extrema importância entender que as camadas desse preconceito são muitas. E, se falarmos sobre mulheres lésbicas, a questão se complica em relação a um machismo que existe institucionalizado na sociedade.
A funcionária pública Amanda* relata que sofreu uma situação relacionada ao machismo quando se assumiu lésbica, aos 18 anos, em Campo Grande. “Meus pais são bastante religiosos, eu frequentava a Igreja junto com eles mas não aguentava mais esconder que só me interessava por meninas. Quando contei a eles, meu pai disse que ‘não queria filha masculinizada’ e que eu deveria esconder isso socialmente. Depois de um tempo, acabei saindo da casa deles e indo morar sozinha”, descreve.
Hoje, com 32 anos, ela afirma que esperava que o único preconceito seria esse, sobre ser “masculina” ou não. “Pouco tempo depois que me assumi estava em uma festa com uma namorada, e um homem se aproximou de nós e falou ‘quero participar’. Ele realmente se achou no direito de se incluir e invadir nosso espaço. Ficamos com medo e nos afastamos”, relembra.
“O machismo, o racismo, a lesbofobia, a bifobia e outras formas discriminatórias interagem diretamente entre si, produzindo e reproduzindo relações de poder que ditam qual o papel da mulher na sociedade. Quando uma mulher desafia o papel que lhe é imposto, como é o caso das lésbicas e bis, ao transgredirem a norma heterossexual, acaba sofrendo uma violência ‘diluída’ que vem de diversas frentes”, descreve Ticiane Figueiredo, advogada, especialista em Direito Civil.
Segundo a advogada, a mulher lésbica constantemente é fetichizada na sociedade. “O machista e lesbofóbico não se conforma em não ver na lésbica a mulher que será submissa a ele sexual e socialmente”, acredita. Esses momentos de “fetichização” e machismo são constantes na vida de lésbicas de modo geral. “Fora o que escutamos com muita frequência, como ‘só é sapatão por ainda não ter achado homem’, e outros absurdos. Nós somos estereotipadas e o machismo agrava, e muito, essa situação”, frisa Amanda*.
Violência ‘corretiva’
Que o estupro é visto em diversas culturas, inclusive na nossa, como uma forma de punição machista, levada ao extremo, não é nenhuma novidade. Porém, se você é uma mulher lésbica, você pode estar sujeita ao “estupro corretivo”, uma forma machista e estarrecedora de violência, explicada como “castigo pela negação da mulher à masculinidade do homem”. Geralmente frases como “você precisa de um homem para se curar de ser sapatão” são a porta de entrada que entregam a ameaça da violência.
MidiaMAIS
A psicóloga Ariane Silva Moraes acredita que essa imagem hiperssexualizada das mulheres lésbicas se deve também a como a sociedade e a indústria tratam a imagem das mulheres de modo geral. “A mulher é vista como um objeto, cobrada de servir ao homem, de satisfazê-lo em detrimento de sua existência como mulher. E a mulher lésbica segue esse paradigma, de que ela existe para servir o homem tanto quanto as mulheres heterossexuais. Os filmes da indústria do sexo mostram isso. É uma culpa social”, analisa. “Tenho medo de sair em público com a minha namorada, por medo de violência”, enfatiza Amanda*.
* A fonte pediu para não ser identificada nesta reportagem.