‘Encerrar a exposição está fora de cogitação’, diz diretora do Marco
Mostra está sofrendo tentativa de censura e será reclassificada
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Mostra está sofrendo tentativa de censura e será reclassificada
A exposição ‘Cadafalso’, da artista mineira Alessandra Cunha, atualmente em plena exibição no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul), não será encerrada antes do prazo do próximo domingo (17), quando termina a segunda temporada de exposições do museu. Na tentativa de não sofrer mais represálias por parte dos deputados estaduais que chegaram a registrar boletim de ocorrência contra o museu e contra a artista, supostamente por ‘apologia ao crime’, o Marco irá reclassificar a mostra de 12 para 18 anos.
“Esse tipo de ataque tem a ver com a necessidade de exposição dessas pessoas”, acredita Lúcia Monte Serrat Alves Bueno, diretora do Marco. “Lamento muito que eles tenham pego uma obra que tem uma crítica muito clara e tenham tirado de contexto, por pessoas que nunca vão a um museu de fato. Mas encerrar a exposição está fora de cogitação”, enfatizou em entrevista ao Midiamax.
Segundo o gerente de patrimônio histórico e cultural da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Caciano Lima, não existiu a razão alegada para ter sido realizado até mesmo um boletim de ocorrência. “Não havia razão para que se duvidasse do caráter ou da integridade dessa exposição. Não há razão para esses ataques. Todas as obras possuem um imenso cuidado na hora de serem apresentadas ao público”, pontuou.
Alguns dos quadros de Alessandra mostram cicatrizes, e outros trazem a representação de frases ao contrário sobre a violência do machismo, conforme a própria artista disse à nossa reportagem. Uma das imagens, a que deu mais polêmica, retrata uma criança acuada com a representação de órgãos masculinos, e chama-se ‘Pedofilia’. “Eu representei uma criança acuada, diante da violência. É isso mesmo. É para causar reflexão. Mas esta foi a primeira vez que isso aconteceu na contramão, que as pessoas não entenderam. Normalmente, as pessoas compreendem que se trata de uma crítica”, apontou.
‘Habemus censura’
Esta não é a primeira vez que obras de arte são censuradas por motivos relacionados à “moral e bons costumes” em Campo Grande. Em 2006, a série “Habemus Cocam”, do artista Evandro Prado, que retratava uma mistura de imagens iconográficas, de santos e Jesus, com a estética da Coca-cola, uma das maiores corporações do mundo, chegou a ser perseguida. E o interessante é que na noite desta quinta-feira (14), no Palácio Popular da Cultura, um dos quadros de “Habemus Cocam” será exposto junto a outros 39 quadros de artistas que representam a história das artes plásticas em Mato Grosso do Sul.
“Era impossível não incluir Evandro nessa mostra pois ele representa a nossa história”, enfatiza Lúcia. Segundo ela, não é uma afronta à polêmica que está acontecendo agora, e sim um lembrete sobre a riqueza dos nossos artistas. A obra de Evandro faz parte do acervo fixo de obras do Marco.
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Há quem discorde do museu. “Não discordo dos deputados. Acho que merecia uma censura pelo estilo das imagens. Porém, fico admirado de eles só terem descoberto essa mostra quase dois dias antes de ser encerrada”, acredita o personal trainer Heitor de Maia, 33 anos.
Uma comitiva, composta pelos deputados Paulo Siufi (PMDB), Coronel Davi (PSC) e Herculano Borges (SD) acusa a artista de apologia à pedofilia, e pontuou que as imagens deveriam ter proibição de acesso a crianças e adolescentes, porque seriam” uma agressão á família, moral e aos bons costumes”. Segundo informações apuradas pela reportagem, uma investigação sobre as obras será conduzida pelo titular da DEPCA (Delegacia Especializada na Proteção da Criança e do Adolescente), o delegado Paulo Sergio Lauretto.
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