Ator e cineasta conta o que viu e ouviu por aqui 

“Quando os Estados se dividiram, nós tivemos de criar tudo o que já havia em Cuiabá. Campo Grande teve que se instalar como Capital e para isso, foi preciso correr muito. Forças políticas foram se organizando, pleiteando verbas federais, abrindo estradas, fazendo asfalto, abrindo instituições, construindo prédios, hotéis… Foi preciso correr atrás do tempo perdido”.

No dia 11 de outubro de 1977, o então presidente da República Ernesto Geisel assinava a Lei Complementar nº 31 que criava o Estado de Mato Grosso do Sul, com Capital em Campo Grande. De lá pra cá muita coisa mudou. Quem hoje tem a oportunidade de percorrer pelos 79 municípios do 6° maior Estado em território do país, e depara-se com cidades equipadas, cada uma a sua maneira, muitas regiões do lado sul do então Mato Grosso, já foram ‘território esquecido’ em infraestrutura, política, cultura. Tivemos de criar nossa história.

“A Capital era Cuiabá, então, por aqui as coisas ainda eram muito primitivas, e tentava-se imitar o que já existia por lá”. As lembranças que aos poucos retornam a mente são do ator e cineasta Mhiguel Horta, de 59 anos.

Filho de um corumbaense com uma alagoana que veio muito cedo para essas bandas, Mhiguel acompanhou de perto o processo de criação, desenvolvimento, até por fim, perceber que o então recém-nascido Mato Grosso do Sul deixara de engatinhar e havia aprendido a andar, mesmo em meio as falhas, típicas de um Estado adolescente ainda em processo de formação.

Antes da separação, o ator lembra que nesta região, a coisa só andava quando existia vontade política. A melhor época para a parte sul do Estado, segundo ele, foi durante a administração do governador Pedro Pedrossian, pelo fato de o líder político ter nascido em Miranda.

“Foi na época do Pedrossian que criou-se o Parque dos Poderes, Estádio Morenão, UFMS. Acredito que estes investimentos se devem ao fato de ele ser de Miranda. Mas de uma maneira geral, investimentos por aqui, só mesmo quando havia interesse político, caso contrário, o foco era a região de Cuiabá, lá era o grande centro”, relata.

O ‘esquecimento’ com a parte baixa do Estado não era nada favorável ao artista que, não por uma questão de ego, mas para servir de termômetros, precisava do aplauso e atenção do público. “O centro cultural era Cuiabá, eles tinham toda uma tradição de preservação cultural, por causa disso muita gente daqui ia pra lá. Lá os teatros lotavam enquanto aqui tudo era muito primitivo”, explica.

A criação

“Em 77 eu estava aqui. Lembro de ver em uma imagem preto e branco na tela da televisão, a imagem do presidente Ernesto Geisel assinando o documento que autorizou a criação de Mato Grosso do Sul”.

As imagens vistas por Mhiguel no televisor ainda sem cores, tiveram significado bem maior que se imaginava. A parte norte perdeu arrecadação, áreas pelas quais muitos mato-grossenses tinham apreço, como Corumbá, por exemplo, agora se tornara território de Mato Grosso do Sul

“Enquanto nós comemorávamos a criação, para os mato-grossenses a separação foi um parto, dou. Historicamente eles eram donos de regiões importantes e que eles se identificavam e isso foi perdido”, explica.

A princípio o sentimento foi de nostalgia, se Mato Grosso perdeu, o recém-criado Mato Grosso do Sul também tinha que ganhar. Era momento de arregaçar as mangas e construir a próprias história.

“Com o tempo as coisas foram acontecendo, surgindo, se desenvolvendo. A separação era necessária e se pararmos para analisar, havia certa estranheza entra o ponto norte e sul, não havia simpatia, temos muitas particularidades diversas, entre sotaques, influências e costumes. Tanto que até hoje existem piadinhas e certas birrinhas entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Hoje, 39 anos depois, á não existe o peso ou dependência do lado norte. Escrevemos e construindo nossa história e isso é notório todas as vezes em que prontamente corrigimos. “É Mato Grosso do SUUUL”.

Divisão

Criado em 1977, MS fazia parte do então estado do Mato Grosso (MT). Em 1974, o Governo Federal, estabeleceu a legislação básica para a criação de novos estados e territórios. Em 1977, o presidente Ernesto Geisel assinava a Lei Complementar nº 31 criando o estado de Mato Grosso do Sul, com capital em Campo Grande. O primeiro governador de MS foi o engenheiro Harry Amorim Costa, nomeado no dia em 31 de março de 1978.

Os principais motivos para a criação de MS foi o tamanho de MT, uma área extensa para comportar uma administração eficaz e a diferenciação ecológica entre as duas áreas. Para a população de Campo Grande e do sul do MT, na época, a divisão foi uma festa e criou grande expectativa. Para quem trabalhou e acompanhou de perto toda a movimentação política é uma emoção relembrar de um fato que começou a escrever a história de Mato Grosso do Sul.