Alguns arriscam candidatos, mas ninguém está satisfeito

O cenário parece ter mudado na capital sul-mato-grossense desde as últimas eleições para a administração municipal – que elege vereadores e prefeito – em 2012. Nessas eleições, o que as ruas contam é que não há tanto embate e defesa entre as pessoas, pelos candidatos. Em 2016, elas demonstram descrença e, a dois dias das eleições, indecisão. O padrão se repete em diversos grupos, dos mais velhos aos mais jovens, no bairro mais populoso e na ocupação indígena Terena.

José Pedro de Souza, 60, trabalha há anos na Praça Ary Coelho, onde vende sucos, água e outros alimentos. “Desanimadíssimo” é como ele classificou o ‘estado de espírito’ em relação às eleições deste ano. “Nunca vi uma eleição tão desanimada. Desanimada com relação a tudo, campanha e tudo mais”, afirmou o comerciante, que já tem um candidato, mas não pareceu muito certo com a escolha.

“Pra falar a verdade não tenho tanta certeza. De um lado fala que não é culpa dele, por outro lado não dá pra saber muito em quem acreditar. A maioria é desonesta mesmo”, afirma, ao final.

Torneiro mecânico aposentado, Elizeu Taveira, 73, no começo, não queria nem comentar, o desânimo era claro na expressão do rosto. “Eu já estou desanimado faz muitos anos. Campo Grande está decaindo”, avalia. Elizeu está em dúvida entre dois candidatos, mas nenhum deles é motivo de grande defesa por parte do aposentado. Ele tem até o começo do domingo para decidir. Seu Elizeu também tem o costume de votar pela manhã, entre as 8h e às 10h. “Tem menos gente”, afirma.

Para o aposentado, quem ganha as eleições este ano é um ‘candidato’ pouco comentado: o dinheiro. “Não sei o que dizer. Nós sabemos e estamos cansados de saber. Nenhum vai fazer nada. Querem dinheiro. Passa um candidato a vereador implorando voto, você acha que é por que?”, complementa.

Idosos, jovem e descrentes

Andando apressada no meio da Praça, a jovem Bruna Viviane Silva Morales, 20, parou de estudar no 1º colegial, e trabalha com pesquisas, sempre viajando pelo Brasil. Voltou a Campo Grande só para votar. Para a jovem, a apatia é o sentimento sobre a disputa por cargos municipais. “Não tenho nem acompanhado. Não tenho nenhum candidato. Tudo que falam não cumprem. Não tenho nem ritual, voto por obrigação”, definiu.

Para o aposentado Ademir Cemeschi, 65, que fez carreira em uma multinacional como gerente de vendas, o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) afetou os ‘humores’ e a crença nas eleições como parte do processo democrático. Para ele, o ‘golpe’ causou desconfiança na democracia.

“Em um país golpista como é que o que você quer que eu fique animado? Eu mesmo não acredito mais não. O que manda no Brasil é o poder econômico. Vou votar e tenho um candidato, mas sei que não vai ganhar, mas é o melhor de todos”, explica o aposentado, que prefere votar bem cedinho, para ter o resto do dia livre.

Muito jovem, com apenas 16 anos, Rodrigo Souza precisou tirar o título de eleitor por conta do trabalho. Apesar da pouca idade, Rodrigo explica que analisa os candidatos, em especial aqueles que já ocuparam cargos políticos. Ele afirma que, com as investigações de corrupção que ocorrem no Estado e no Brasil desde 2015, ficou mais difícil escolher.

“Com tudo que vem acontecendo desde o ano passado está difícil escolher. Também tem muita gente que começou obras e projetos e não terminou, estou olhando isso. A população tem que tomar mais a frente, fiscalizar, ser criteriosa”, defende.

Outra jovem, Stephany Beatriz, 20, vai votar pela primeira vez esse ano. A estudante está desanimada, e ainda mais por ser a primeira eleição que vai votar e não conseguir ver em nenhum candidato, algo que a motive. “Não tem partido bom. Eles não representam nada, parece que todos têm algum problema ou roubam. Eu queria estar mais animada, por ser a primeira vez”, contou a jovem. Stephany pretende votar de manhã, o motivo é o trabalho.

Junto Stephany, Cleyton Batista Santos, 21, também vai votar pela primeira vez. Assim como a jovem, ele não tem candidato. “Quem é o mais novo? Você sabe? Acho que vou votar em alguém que nunca saiu candidato antes”, afirmam. “Passa muita coisa na propaganda, muita coisa ruim. Não tenho nenhum candidato. Tem que analisar, alguns têm passado”, comenta.

Ocupação indígena

Na ocupação Terena na Vila Romanda – onde vivem cerca de 55 famílias -, o olhar para o período eleitoral é outro. Nas pessoas que vivem ali, impera uma sensação de que nenhum dos candidatos olha, fala ou conhece a fundo, a questão indígena. A descrença ali, já parece vir de outros tempos.

O casal Gesli Sobrinho Marcos, 35 e Nerivaldo Mamedi, 40, vai votar por obrigação. Nerivaldo vivia de aluguel no bairro Nova Campo Grande, valor que pesava no orçamento do Terena, funcionário em um frigorfíco, ocupação que emprega alguns dos moradores do local.

“Eu vou votar porque tem que votar. Porque mudar não muda. Troca o prefeito e continua a mesma coisa”, conta Nerivaldo, explicando que, dos 15 candidatos, apenas 1 visitou a comunidade para apresentar propostas.

“O resto não vai na aldeia não, nem fala de indígena em propaganda. Os candidatos vão falar e nem lembram dos indígenas”, critica.

Sérgio Fernandes, 35, está desempregado – trabalhava no frigorífico. Sérgio está ‘desanimado’, mas acredita que as eleições possam mudar o cenário. “Tem que mudar”, afirma. Edna, 34, também trabalha na mesma empresa. “Promessas são muitas né. As palavras são boas”, afirma.

Edna também critica a falta de perspectiva quanto aos indígenas pelos candidatos. “Nenhuma proposta pra gente. Nem o prefeito veio, correu de nós. Tentamos dialogar, tentamos achar até a sombra dos candidatos e não encontramos. Tem um candidato que fala da gente mas é só de longe, nunca pisou de verdade pra ver como é”.

No bairro mais populoso, mais desânimo

O desânimo com os candidatos impera no bairro mais populoso da capital, o Aero Rancho. Nem no ‘Boteco do Chapéu’, propriedade de Lorival Rodrigues de Nascimento, 60, os ânimos melhoram. Lorival – que vive no lugar há 30 anos -, afirma que a região melhorou muito, e tece elogios. Este ano, no entanto, indeciso, ele não compra briga por nenhum candidato.

“Olha, eu estou bem indeciso. É minha filha, o negócio está feio. Está demais a bagunça, nunca vi isso, 15 candidatos brigando pela Prefeitura”, comenta. “No café da manhã é meu voto, pra eu ficar mais tempo dentro de casa”, complementa.

Valdeci Queiroz, 28, mora há 8 anos no Aero Rancho. Ele trabalha com divulgação comercial, e avalia que essas eleições estão ‘completamente diferentes’. “Está devagar, parado demais. Mudou tudo. O sistema da política, o modo de interagir. Para falar a verdade pra mim essas eleições ‘tanto faz’”, explica ele, contando que candidato certo será o vereador, porque alguém da família está concorrendo.

Ex-assentado, Nivaldo Santos, 45, trabalha na construção civil e este ano, está decepcionado com o cenário político de modo geral. O trabalhador costumava votar pela legenda, no PT, mas afirma que cortou os vínculos, por decepções com o partido. “Teve apoio o movimento [Movimento Sem Terra], mas aprenderam a roubar e pegaram gosto”, comenta.

“Eu estou completamente desanimado. Eu penso muito nos pobres, emprego diminuiu muito. Para mim todos os candidatos são iguais, não valem nada. Prometem de um jeito e fazem de outro. Este ano vou votar no que tiver menos chances, o que estiver com menos intenção de voto”, conclui.