Não há dúvidas de que Guillermo Del Toro seja um dos nomes mais fascinantes e únicos trabalhando atualmente em Hollywood. O cineasta mexicano vem de uma paixão inconfundível por monstros trágicos e filmes de terror, e tomou o americano como palco para alguns de seus experimentos mais interessantes e memoráveis.

Com a estreia de seu mais novo filme nos cinemas se aproximando, faremos uma retrospectiva com todos os trabalhos de Del Toro como diretor nos EUA, que começam no mundo dos quadrinhos e culminam com uma esmagadora passagem pelo que você confere na SKY através do número SKY.

Confira abaixo.

Blade II (2002)

Dando sequência ao primeiro grande sucesso da Marvel nos cinemas, Del Toro ganha carta branca para fazer um filme verdadeiramente radical. Se o primeiro Blade era bem mais centrado em um drama com toques de terror, o segundo é uma aventura dark e com excelentes cenas de ação, já demonstrando seu grande apreço por equipes sobrenaturais e criaturas da noite com um visual caprichado. É um dos mais subestimados e divertidos longas que contam com o selo da Marvel, sendo um marco para o personagem de Wesley Snipes em toda a cultura pop.

Hellboy (2004)

Após a bem-sucedida investida no mundo dos quadrinhos com o segundo filme do caçador de vampiros da Marvel, Del Toro volta o olhar para um outro personagem das páginas coloridas. Dessa vez, algo bem mais próximo de suas aspirações góticas e lovecraftianas, levando o monstruoso Hellboy para as telas, em um filme sombrio e bem mais voltado para o horror, mas que cativa pelo carisma irresistível do ótimo Ron Perlman no papel titular, um demônio resgatado por soldados da Segunda Guerra Mundial e posteriormente treinado para ser um agente que protege o mundo de forças sobrenaturais.

O Labirinto do Fauno (2006)

Passando bastante tempo no pipocão de Hollywoodiano com longas extravagantes, Del Toro enfim realiza seu projeto mais passional. De volta ao idioma espanhol, O Labirinto do Fauno é um filme profundamente artístico e alegórico, contando – em forma de fábula sombria – a história de uma jovem menina que descobre uma terra sinistra habitada por criaturas fantásticas, tudo isso ao pano de fundo e uma guerra perturbadora na Espanha. É o filme mais único de toda a sua carreira, e que oferece alguns dos melhores designs de monstros graças ao trabalho do excepcional Doug Jones, irreconhecível por trás de maquiagens e prostéticos de diferentes criaturas.

Hellboy II – O Exército Dourado (2008)

Voltando para se divertir em Hollywood, o segundo Hellboy é aquele tipo de continuação que supera o original em praticamente todos os aspectos. Ainda que mantenha os elementos de terror, é um filme mais leve e divertido do que o anterior, apostando em um universo bem mais rico e personagens fantásticos, que colocam a iminência de uma guerra de elfos como principal conflito. É a direção mais estilosa de Del Toro, que desenvolve as emoções de Hellboy ainda mais – ainda que o maior ladrão de cenas seja o engraçadíssimo poltergeist vivido por Seth MacFarlane. Pessoalmente, é meu preferido de toda a sua carreira.

Círculo de Fogo (2013)

Praticamente um hino de louvor nerd. Sem qualquer pretensão ou almejo de ser algo a mais do que se propõem a ser, Círculo de Fogo é um grande filme de bonecos. Inspirado por animes e o gênero kaiju japonês, temos a simplista história de humanos que usam robôs gigantes para batalhar com monstros colossais ao longo do planeta, no que garante um espetáculo colorido impressionante e que é incapaz de deixar alguém entediado. Não espere nada dos personagens humanos ou de seus dramas, e divirta-se com a pancadaria digital sensacional.

A Colina Escarlate (2015)

Depois de tanto flertar com elementos de terror gótico em Hollywood, Del Toro mergulha de cabeça no gênero, em mais uma história original; e agora envolvendo fantasmas. Mas ainda que a proposta seja interessante e os elementos visuais sejam caprichados como sempre, A Colina Escarlate se perde em sua confusão tonal, onde o terror gótico perde espaço para um drama familiar/romance trágico que pouco convence ou encanta, apesar dos esforços do elenco encabeçado por Mia Wasikowska. O filme mais decepcionante de toda a sua carreira.

A Forma da Água (2018)

O filme que finalmente deu o Oscar para Guillermo Del Toro, e que acaba representando seu trabalho mais maduro, de certa forma. É a junção de uma clássica história de espionagem na Guerra Fria da década de 50 com… um romance escaldante entre uma mulher muda e um homem-peixe fugitivo de um laboratório, representando (assim como O Labirinto do Fauno) mais uma fábula sombria e com elementos típicos de sua carreira. É um bom filme, e que novamente surpreende por seu cuidado estético acima do comum, mas que não representa tão bem o fator mais fantástico do cineasta.

O Beco do Pesadelo (2021)

Estando no topo do mundo após faturar 3 Oscars com A Forma da Água, Del Toro retorna com uma escolha incomum: o remake de um filme da década de 40, que adapta a história bem bizarra de um golpista sobrenatural envolvido com um de aberrações. Surpreendentemente, O Beco do Pesadelo acaba se mostrando como a melhor e mais caprichada investida do diretor em filmes mais “sérios”, especialmente por não contar com nenhum elemento realmente sobrenatural, apenas concentrando-se no gênero noir, movido pela excepcional performance de Bradley Cooper como um protagonista difícil e imprevisível. Uma bela surpresa e um ponto fora da curva em sua carreira.