Muitos locais na cidade passam despercebidos aos olhos de quem vive em uma Capital, e Campo Grande não fica de fora. Paredes, madeiras, prédios e objetos, minúsculos ou monumentais, imortalizados pelo tempo e transformados em patrimônios históricos andam na corda bamba entre a preservação e a inutilidade.

Na contra-maré, o Grupo autônomo TransLAB.URB do Rio Grande do Sul, propôs, por 35 dias, um ciclo de atividades (Grupos de Trabalhos, Oficinas, Aulas Abertas, Exibições de Filmes,etc) para reaproximar a população da cidade da , visando a construção de diretrizes para um novo parque e equipamentos públicos, com uma área total de 94 mil metros quadrados.

“Dentro dessa ideia a gente propõe essa ocupação por 5 semanas nesse contexto de ‘laboratório cidadão', uma ideia de repensar o uso de equipamento público, não ser só algo que a população é passiva, que não consegue propor coisas. A ideia é que as pessoas se tornem ativas e que ocupem visando seu desenvolvimento pessoal (…) sediar encontro de grupos que podem pensar as soluções para outros problemas, aulas abertas e questões outras”, explica Leonardo Marquéz, membro do Grupo.

História

O Conjunto Ferroviário, também conhecido por Esplanada dos Ferroviários, é um centro cultural que está localizado no antigo terminal ferroviário da cidade de Campo Grande. Antiga Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (N.O.B.), pertenceu a Novoeste, e à ALL. Atualmente pertence à Prefeitura de Campo Grande, comprada da ALL. A teve uma importância enorme para o desenvolvimento do Estado.

Inaugurada oficialmente no dia 14 de outubro de 1914, compreende a Estação de Ferro Noroeste Brasil – NOB – e os prédios que a circundam. Com sua industrial de influência inglesa, é uma das poucas cujas características originais ainda se mantêm no Brasil.

Grupo faz laboratório efêmero para ressignificar a Esplanada Ferroviária
(Reprodução, TransLAB.URB)

A Estação Ferroviária foi a leilão no dia 5 de março de 1996, passando então à administração da empresa Noel Group, que assumiu no dia 1 de julho de 1996. Após a privatização, foi desativado o trem de passageiros. Em 2004 a estrada de ferro teve seus trilhos arrancados do centro da cidade porque atrapalhava o trânsito.

Experimentação

Orientado por um planejamento que busca mobilizar uma amostragem de habitantes e/ou usuários(as) em potencial da região, o Laboratório Urbano Efêmero agrega pessoas que representam setores diversos da cidade. Sob o conceito denominado Hélice Quádrupla, estão os grupos: Sociedade Civil, Academia, Iniciativa Privada e Administração Pública.

Durante a execução dos projetos, as dinâmicas aplicadas nas atividades permitem que esses grupos articulem-se entre si de modo a pensar em uma possível continuidade para os arranjos ali formados. Na prática, isso se traduz em distintas perspectivas contribuindo para o debate sobre o uso dos espaços.

  • Mercado Municipal

Entre as diversas experimentações do Grupo está a discussão sobre o Urbanismo Tático na região do Mercado Municipal, o Mercadão, que tinha uma demanda antiga de sua Associação de Comerciantes sobre a falta de espaços de permanência e nem de consumo, além da desconexão do Mercado das Índias, demarcado pelos carros do estacionamento.

Para tal, o Grupo de Trabalho, aberto e formado por estudantes, professores, voluntários, foi ao local e coletou dados entre entrevistas e percepções sobre os acessos e necessidades da utilização do espaço. Na intervenção efêmera, foram feitas pinturas e demarcações no chão do estacionamento, das 18h às 23h, com cal (que sai com a chuva mostrando o caráter experimental do laboratório na prática) para validar as hipóteses de psicologia comportamental de quem utiliza o espaço e como ele é respeitado.

  • Exorcismos Urbanos

Outra ação que chama atenção é a de Exorcismos Urbanos. Através da exploração noturna e do uso da arte como filtro lúdico da visão, a atividade propõe uma renovação no olhar dos lugares chamados de “abandonados”, neste caso área do Rotunda, mas que facilmente poderia ser transplantada para a Antiga Rodoviária ou Praça Aquidauana, por exemplo.

A ideia é construir uma nova narrativa para os anti-lugares das cidades, geralmente estigmatizados, mas que podem sim acolher diversas manifestações urbanas. Com uma oficina de máscaras, uma caminhada noturna e um ensaio fotográfico, se propõe uma camada sensível de percepção do território.

Como Participar?

Entre os dias 19 de agosto e 23 de setembro de 2019 o Lab Campo Grande está aberto às pessoas, buscando promover o sentido de pertencimento e reconhecimento do lugar. Essa identificação possibilita levantar vontades e desejos para o co-desenho de espaços e programas de interesse público e de uso comum da Esplanada Ferroviária.

Os membros do grupo reiteram a necessidade de que a população continue utilizando o espaço mesmo após o fim do projeto laboratorial proporcionado pelo Lab Campo Grande, seja por utilização dos patrimônios não só como objeto de observação, mas de observação e local para discussões de interesse público.

Se você faz parte de um projeto ou iniciativa e quer participar da programação, basta preencher o formulário ou ir pessoalmente até o Lab Campo Grande, no Armazém Cultural da Esplanada Ferroviária. Neste mesmo formulário você também pode indicar outro projetos que você conhece. Veja a programação completa AQUI.