‘Galinha gorda não bota ovo’: pacientes relatam maiores absurdos que já ouviram de médicos em Campo Grande
“Dá vontade de chorar, é tão humilhante”: após caso de ofensa médica repercutir na Capital, moradores trazem à tona situações vivenciadas em consultórios
João Ramos –
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Encorajados após uma moradora expor nas redes sociais ofensas que teria ouvido de um médico, pacientes que residem em Campo Grande (MS) decidiram trazer à tona experiências negativas com esses profissionais da saúde.
Em desabafo e impulsionados pela denúncia inicial, os campo-grandenses revelaram ao Jornal Midiamax situações classificadas como humilhantes e que, até então, tiveram apenas as paredes dos consultórios como testemunha.
A história que deu origem à onda de relatos ocorreu na última semana, quando, aos prantos, uma dona de casa disse ter procurado uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com suspeita de infecção urinária, mas ouviu do médico que seu problema era estar “gorda”.
As “palavras descuidadas” usadas pelo profissional magoaram profundamente a mulher de 40 anos, que se sentiu constrangida diante da atitude do clínico. O caso gerou debate e, assim, mais situações vivenciadas em consultórios chegaram até a reportagem.
Remédio no açougue
“Isso é muito triste, eu levei meu filho ao médico, no particular, e ele mandou eu ir comprar o remédio no açougue. Eu estava mal porque descobri que meu filho era alérgico a muitas coisas e só queria saber se o remédio era manipulado, aí ele mandou eu ir no açougue. Aquelas palavras me doem até hoje”, lamenta uma mãe.
Médico deu gargalhada e disse: “me poupe”
Mais um caso, desta vez envolvendo o desejo da maternidade, mexeu com outra paciente. “Pior fui eu que fui no 24 horas do Aero Rancho. Passando mal, pedi um exame de gravidez, pois estou com sintomas. O médico deu uma gargalhada e disse: ‘me poupe, uma mulher com 41 anos achar que está grávida. Isso é impossível, você não engravida mais pela idade’. Pensa meu psicológico como ficou. E eu querendo muito ter um filho”, desabafa.
“Galinha gorda não bota ovo”
Rindo de nervosa, outra moradora revela: “Já ouvi de um ginecologista que ‘galinha gorda não bota ovo’. Tem que rir pra não chorar”.
“Manda seu marido gozar fora”, ouviu mulher com depressão
Nem mesmo pacientes com depressão escapam do “trato” médico a grosso modo. “Eu estava em uma crise depressiva e fazendo acompanhamento com psiquiatra. Chorei e disse para ele que não via alegria e nem sentido de viver, que estava conversando com meu marido para, quem sabe, constituirmos uma família, pois com um filho nossa casa teria alegria”, recorda.
Ela só não imaginava que o médico lhe diria: “Você não tem capacidade de ter filhos agora, manda seu marido gozar fora e não põe uma criança no mundo“.
Dor de ouvido por estar “gorda”
Outra paciente desabafa dizendo ter sido reduzida a seu peso. “Já aconteceu comigo. O médico me atendeu aqui no 24h do Coophavila e disse que a minha dor de ouvido era porque eu estava gorda. Eu sou realmente gorda, porém só queria que ele me medicasse, mas ele bateu na tecla que eu estava gorda e por isso que estava com dor de ouvido. Saí de lá mal, mas deixei pra lá“, expõe.
“Dá vontade de chorar, é tão humilhante”
“A falta de empatia é muito triste, palavras podem sim machucar. Minha mãe estava com depressão e a levamos para acompanhamento. O médico ficou com deboche o tempo todo e não levou a sério“, relata mais uma, indignada.
Por fim, outra paciente diz não entender o que leva um profissional que deveria prestar suporte a agir dessa maneira. “Já ouvi algo que não tenho coragem de contar. Dá vontade de chorar só de lembrar, é tão humilhante. Eu não entendo porque eles fazem isso, sendo que se estamos lá é para buscar ajuda”, lastima.
“Quem vai a um consultório busca ajuda e orientação, não ofensas”, comenta psicóloga
Os principais depoimentos costumam ser de mulheres, que jamais esquecem os “absurdos” ouvidos nos consultórios em um momento que precisavam apenas de amparo e atendimento humanizado. Para a psicóloga Paula Silva, isso ocorre porque pacientes do gênero feminino podem ser vistas como alvos fáceis para o “descarrego” emocional dos clínicos.
“As mulheres muitas vezes são enxergadas como ‘sexo frágil’ e o machismo estrutural da nossa sociedade as coloca como vulneráveis em consultas médicas. Não é incomum que profissionais passem do ponto com as palavras, descarreguem seu machismo sobre as pacientes, seja com alguma opinião sobre o corpo ou as menosprezando como pessoas e subestimando suas inteligências”, avalia a especialista em traumas emocionais.
De acordo com a psicóloga, o humor do médico na data da consulta pode interferir no tratamento. “Às vezes, eles não estão em um dia bom e, ao se deparar com uma pessoa fragilizada, acabam descontando, como ocorre em qualquer setor de atendimento. Só que a pessoa que vai a um consultório está lá buscando ajuda, orientação e não ser ofendida ou diminuída“, salienta.
“Ver uma mulher ali, geralmente sozinha, pode fazer esses profissionais se sentirem superiores e ‘à vontade’ para serem como são quando estão em casa. Mas é importante lembrarmos que esse tipo de situação não acontece só com pessoas do sexo feminino, os homens também ouvem muita coisa, mas preferem abstrair, levar na brincadeira, fingir que não ouviram, além de não contar pra ninguém por vergonha – muito também por conta da estrutura machista da sociedade. O medo de ser visto como um homem ‘frágil’ por ter ficado ofendido com um médico acaba silenciando esses pacientes“, reforça.
Código de Ética Médica veda esses comportamentos
Conforme o Código de Ética do Conselho Federal de Medicina, no capítulo quarto, voltado aos direitos humanos, é vedado ao médico “tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto“.
No capítulo quinto, sobre a relação com pacientes, o Código de Ética médica enfatiza que é vedado: “Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais”.
O que fazer quando se sentir ofendido por um médico?
Além de elencar as atitudes impróprias, a lista de protocolos éticos da medicina explica o que deve ser feito por pacientes que presenciem qualquer situação do tipo.
“Caso ocorram quaisquer atos lesivos à personalidade e à saúde física ou mental dos pacientes confiados ao médico, este estará obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao Conselho Regional de Medicina“, orienta o documento.
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