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Evolução das borboletas: nas redes, LGBTQIAPN+ relatam emoções de ‘sair do armário’

Neste Dia Internacional do Orgulho LGBT, convidamos a refletir sobre o peso que o ato de se assumir carrega
Idaicy Solano -
orgulho
Bandeira do Brasil com arco-íris. (Arquivo, Jornal Midiamax)

Uma sigla que só cresce. LGBTQIAPN+ é a designação mais atual para o grupo que compreende lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros, transexuais, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais e pessoas não binárias. Em comum, cada integrante deste grupo vive um grande desafio: sair do armário.

O momento em que a performance de identidade de gênero ou da sexualidade passa a ser oficial é comumente comparado ao ato de desabrochar, a uma metamorfose, mas que depende de muitos fatores, sejam emocionais, sociais ou econômicos, para ocorrer em segurança.

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Não é por menos que, nos últimos meses, uma trend chamada ‘processo evolutivo das borboletas’ se popularizou entre os integrantes dessa comunidade e emocionou a internet com milhares de relatos relembrando a época em que se assumiram para os pais. A trend consistia em compartilhar o processo de aceitação da família, especialmente pais e mães, que aprenderam a superar o preconceito e aceitar seus filhos, mesmo após uma rejeição inicial. 

Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, o Jornal Midiamax traz relato descrevendo o peso que se assumir carrega. Traz, também, a perspectiva do quanto o apoio familiar segue como divisor de águas, capaz de curar as feridas de crianças que cresceram reprimidas e ouvindo do mundo que não pertenciam a ele. 

Confira compilado de vídeos sobre a trend:

Por que ‘sair do armário’ dá tanto medo?

Segundo dados mais recentes divulgados pelo 18º Anuário Brasileiro de Segurança pública, houve um aumento de 42% em homicídios cometidos contra a população LGBT entre os anos de 2022 e 2023. Os números apontam que 2014 pessoas homossexuais e transexuais foram vítimas de assassinato, enquanto mais de 3 mil foram vítimas de lesão corporal dolosa e 354 de estupros.

Ceará, Maranhão e Minas Gerais foram os estados com maior número de homicídios, registrando 44, 34 e 32 casos respectivamente. Já Minas Gerais, Pernambuco e Ceará lideraram as ocorrências de lesão corporal, com 596, 585 e 498 casos respectivamente. lidera nos registros de estupros, com 57 casos, ficando atrás de Pernambuco (50) e Minas Gerais (40).

Além disso, o relatório expõe que alguns estados nem sequer contabilizam os casos de crimes motivados pela homofobia, como no caso de .

‘Eu não conseguia mudar quem eu sou, então passei a aceitar

A fase da adolescência foi a mais delicada, para o autônomo Guilherme Cigerza, de 25 anos. O jovem relata que tinha certeza de que não seria aceito pela família quando se assumisse LGBT. Os anos que deveriam ser de autodescoberta e liberdade acabaram por se tornar um período imerso em angústia, no qual ele se preparou para o pior. E não somente em relação à família, como também à forma que o mundo olharia para ele.  

O jovem relembra que chegou a viver uma vida dupla, uma com a família, e outra completamente diferente com os amigos, para quem já era assumido como homem gay. Guilherme revela que também chegou a engatar um namoro escondido. 

“Depois de passar por muitos conflitos internos, de chorar e pedir a Deus para não ser assim, eu vi que não adiantava de nada, que eu não conseguia mudar quem eu sou. Então passei a aceitar, a validar o que eu sentia e ver que não tinha escapatória. Era aquilo. Era eu. Não podia fingir ser outra pessoa. Isso é uma coisa que mexe muito com a autoestima. Aceitar-se, no fim das contas, é o único caminho, mesmo sabendo que o seu valor pode ser totalmente comprometido assim que você mostra quem é de verdade. É um sentimento muito angustiante. Mas isso a gente engole e aprende a viver a vida nessas condições”, pontua.

O medo da rejeição

Guilherme relata que percebeu haver algo ‘diferente’ em si desde a infância, ao notar que padrões heteronormativos não se repetiam com ele. Apesar da pouca idade, o jovem relata que já tinha consciência do que estaria por vir e optou por reprimir, na esperança de que fosse algo passageiro. 

“Sentia atração pelos símbolos masculinos, o que era comum de acontecer com as meninas. Isso me apavorava e eu pensava, com muito medo, nas consequências que isso iria trazer para o meu futuro. Porém, como ainda não era época de experimentações, resolvi reprimir essa sensação e deixar para meu ‘eu do futuro’ lidar, torcendo muito para que estivesse enganado, porque eu não queria trazer problemas para mim nem a minha família”, detalha. 

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Dessa forma, o jovem conta que viveu parte da infância e da adolescência buscando reforçar sua masculinidade ao desempenhar atividades consideradas ‘de meninos’, como jogar . No entanto, embora tentasse esconder, reprimir o que sentia por dentro não impedia de transparecer quem ele é verdadeiramente. 

“As manifestações da expressão, sejam na fala, ou nos gestos, ou no jeito de agir, de forma geral, traziam censura, traziam um olhar esquisito da família, e eu já me sentia, muitas vezes, inadequado. Então, eu vivi de forma muito reprimida, infelizmente. E, conforme fui ficando mais velho, ficava cada vez mais difícil, porque chegava mais perto do momento de experimentar as coisas, eu ficava desesperado conforme eu ia envelhecendo”, descreve. 

A carta 

Infelizmente, o direito de se assumir somente quando estivesse pronto para encarar as ‘consequências’ foi tirado de Guilherme. Após romper com o namorado, o ex decidiu escrever uma carta ao pai do jovem, na semana em que ele completou 15 anos, revelando sobre sua sexualidade. “Fui tirado à força [do armário] e foi horrível, foi muito feio. A minha mãe me apoiou e eu fiquei muito aliviado por ainda ter o amor dela. Mas o meu pai… foi, a partir daí, que vieram épocas muito difíceis”. 

Guilherme conta que seu pai teve uma criação muito rígida, principalmente em relação a assuntos como sexualidade, e tinha opiniões ‘duras’ em relação a pessoas LGBTQIAPN+. Quando a carta chegou, Guilherme ainda não estava pronto para lidar com tudo que se seguiria. Tanto ele quanto o pai precisaram aprender a evoluir, como as borboletas. 

“Ele se sentia traído por mim, por fazer essas coisas escondidas, mas, ao mesmo tempo, ele não queria aceitar quem eu era. Cheguei a ir, por vontade dele, a psicólogo, para curar ‘isso que eu tenho’. Porém, quem deveria estar na terapia, na verdade, era ele e não eu. Foi um momento que eu só tinha que esperar e ver o que aconteceria”, expressa. 

A evolução das borboletas 

Guilherme sentiu que poderia respirar aliviado em relação à sexualidade aos 19 anos, quando a situação finalmente se acalmou. No entanto, para isso acontecer, ele expressa que foi necessária muita força de vontade, para escolher o amor e a família, em vez do preconceito. Esse processo não aconteceu da noite para o dia. Foi necessário reaprender e passar por cima de toda uma construção cultural e estrutural de toda uma vida. 

“A pessoa que ele era antes, o jeito que ele agia, as coisas que ele falava em relação aos gays, por exemplo, é muito diferente de hoje. Isso foi mérito dele, da força de vontade dele. Ele escolheu a família acima dos seus próprios preconceitos. Hoje sou muito grato pela pessoa que ele se transformou e pela família acolhedora que hoje tenho.”

A história de Guilherme, assim como muitas outras compartilhadas nas redes sociais, representa o duro caminho das pedras que muitas pessoas LGBTQIAPN+ precisam passar quando decidem ter a coragem de assumir quem realmente são. O que para muitos pode parecer natural, como sair, namorar e abrir o coração para o autoconhecimento, pode ser um agente de medo, receio e travas para quem não tem os privilégios da heteronormatividade. 

“Eu acho que o conselho que o ‘meu eu criança’ deveria ouvir do ‘meu eu do futuro’ seria ‘alimente não os medos do abandono e do desamparo, mas sim a certeza de que você vai ter força para seguir sozinho e contará sempre com o amor de quem te ama de verdade, e sempre haverá essas pessoas’”, finaliza Guilherme.

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