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Você já parou para pensar como as crianças lidam com grandes tragédias?

Rafael, em meio aos voluntários, é exemplo de tantas crianças que estão passando por este momento, assim como nós. E qual é a ótica delas em momentos de caos? O que pensam? O que mais as sensibiliza? O que sentem vendo outras pessoas - incluindo outras crianças - sofrendo?
Graziela Rezende -
Rafael servindo bolo aos voluntários que enviam donativos às vítimas do RS (Iara Brandalise/Arquivo Pessoal)

O relato é pessoal porque tem tudo a ver com o contexto da matéria. Certa vez estava eu em casa, assistindo um telejornal no período noturno. Após o intervalo, a notícia de abertura era da morte do filho de um governador, em um acidente aéreo. Na sala, Gabi, minha filha, na época com 5 anos se eu não me engano, parou a brincadeira de bonecas e prestou atenção na televisão. Eu não tinha noção de como isso seria o assunto dela por dias, por meses até…

Para se ter ideia, na hora de dormir, fizemos as nossas orações, pai nosso, ave maria, santo anjo e os agradecimentos do dia. Na época, ela disse: “Boa noite mamãe e boa noite filho do governador, que agora mora com Deus”. Fiquei segundos em silêncio, até responder de volta o boa noite, pensando em como isso havia a impactado. No dia seguinte e em muitos outros, o assunto veio à tona novamente e acendi o alerta.

E ontem, vendo uma foto em um grupo nas redes sociais, no qual uma linda criança servia bolo e salgadinhos aos voluntários, que estavam trabalhando em um ponto de arrecadação para as vítimas da enchente, no Rio Grande do Sul, me vieram na mente os seguintes questionamentos: Como as crianças lidam com grandes tragédias? Qual é a ótica delas em momentos de caos? O que pensam? O que mais as sensibiliza? O que sentem vendo outras pessoas – incluindo outras crianças – sofrendo?

(Iara Brandalise/Arquivo Pessoal)

É aí que fui em busca da mãe do lindo menino que aparece na imagem. A psicóloga e advogada, Iara Brandalise, de 38 anos, disse que, mesmo estando ali no CTG (Centro de Tradições Gaúchas) Farroupilha, o pequeno Rafael, de 5 anos, não sabia exatamente do que estava acontecendo, até para não ficar impressionado.

Ao pedir para visitar a vovó, que atuava como voluntária, o menino foi ao local para brincar e correr por lá, porém, de repente passou a ajudar e a servir inúmeros voluntários. No outro dia, acompanhando mais uma vez a avó Marlene Lurdes Golin Zanin, foi seguindo o exemplo e começou a separar sapatos e a ajudar mais uma vez.

“Nós tentamos preservá-lo de determinados assuntos e por isso nem eu e nem o pai falamos muito do assunto. Apenas explicamos que teve uma chuva muito forte e que inundou muitos lugares e que muitas pessoas ficaram sem lugar pra morar. Mas, não mostramos imagens para ele não ficar impressionado”, afirmou.

Segunda a mãe, uma vez o filho ouviu uma conversa, em que as pessoas comentavam sobre o rompimento da barragem, em Brumadinho (MG) e, durante muitos meses, o assunto dele era sempre o mesmo. “Desta vez achei importante ele ver o trabalho e a vovó dele ainda estava como voluntária no CTG, então o levei. E lá ficou aprendendo a servir, a trabalhar e a ajudar. Ele também viu o pessoal fazendo as orações e enviando amor junto das roupas e mantimentos. No mais, fico alienada com eles nas notícias. Prefiro não ficar sabendo de coisas que me afetam e talvez eu não possa fazer nada”, ponderou.

(Iara Brandalise/Arquivo Pessoal)

‘Crianças são envolvidas emocionalmente’, explica psicóloga

A psicóloga Maria Albertina, que possui 24 anos de atendimento clínico com crianças, explica que elas também são envolvidas emocionalmente diante da catástrofe, como o que está ocorrendo agora no .

“Todos os meios de comunicação estão anunciando, as imagens estão na TV, com muitas falas e pedidos de ajuda. E as crianças estão atentas. Só que quanto a deixar ou não participar ou ver, acredito que isentar totalmente seria como isentá-los de sentir os sentimentos que nós, adultos, estamos sentindo e é por isso que deixá-los fora do contexto não é uma boa alternativa. O ideal, na minha visão, seria não ignorar o que estamos vivendo, trazer aos nossos filhos a realidade dos fatos, porém, precisamos ser claros nas nossas explicações e não ignorarmos as curiosidades deles”, afirmou.

Catástrofe climática no RS levou o Governo Federal a pedir que a CBF suspensa o futebol (Agência Brasil, Divulgação)
Catástrofe climática no RS levou o Governo Federal a pedir que a CBF suspenda o futebol (Agência Brasil, Divulgação)

De acordo com Albertina, é necessário saber ouvir o que eles querem saber, falar e também responder suas perguntas com linguagens adequadas.

E, caso tenham parentes, amigos próximos ou familiares, temos sim que deixar as crianças tomarem conhecimento, só que com a leveza necessária para eles irem fazendo suas “elaborações internas”.

Aqui vão alguns dicas de como agir nestas situações:

Primeiro é necessário entender que catástrofes naturais podem ocorrer e afligir familiares ou as próprias pessoas. No entanto, as crianças podem não entender muito bem porque isso acontece, pois, nem mesmo muitos adultos compreendem…

1 – Na hora de contar, saiba que a criança pode ter uma interpretação errônea sobre o assunto. Se ninguém falar nada, ela pode imaginar que o assunto não deve ser comentado e pode ficar com sentimentos ruins acumulados e com medo de abordar este tipo de assunto no futuro. Assim, seria bom começar a falar que alguma coisa triste aconteceu e perguntar se a criança ouviu ou soube de algo. Com esta abertura, veja se ela continua fazendo perguntas e está expressando os seus sentimentos. É necessário incentivar e não reprimir a criança.

2 – A maturidade é que nos ajuda a saber até onde contar e quais detalhes não precisam ser revelados, já que algumas coisas podem traumatizar, dependendo da idade. Desta forma, os pais e/ou responsáveis precisam ter entendimento para explanar o necessário. Outra situação é que talvez a criança fique sabendo de outras formas, vendo imagens que ficarão em sua mente. Neste caso, é bom responder com sinceridade, sempre se colocando no lugar da criança, de acordo com sua faixa etária.

3 – E se o filho não quer falar a respeito? Existem casos em que a criança ou o adolescente demore a falar a respeito. O luto é necessário e individual. Porém, pensar que está tudo bem e que não é mais necessário falar sobre o assunto é algo que pode ser perigoso. Após um tempo, é bom perguntar algo sobre o ocorrido para entender se realmente está tudo bem e dar abertura ao diálogo. É assim que vamos ter o “time” para saber se é o momento de falar a respeito. Uma boa dica é começar falando dos sentimentos e também se manifestar, porém, sem contar com os filhos para apoio emocional.

4 – É muito bom dar abraços e ouvir a criança, mesmo que ela vá falando sobre outros assuntos. Além disso, é bom evitar a exposição a notícias e redes sociais, mantendo a rotina e praticando a religião juntos. Assim, o filho sente segurança e confiará mais e entenderá que as coisas acontecem e que independente delas é preciso seguir em frente.

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