Um túnel verdinho, instagramável, logo na entrada do bairro Jardim Oliveira I, em Campo Grande, e que surpreende quem faz a curva à direita, na Avenida Lúdio Martins Coelho, passando pelo que antes era a ponte do córrego.

‘De cara’, o ar refresca e é possível apreciar a beleza da natureza na rua João Ribeiro Guimarães e, com sorte, até presenciar animais cruzando ali, como quatis e cotias, por exemplo.

(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)
(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)

No entanto, não se engane: a planta presente ali é dominadora e, inclusive, é uma praga presente na capital sul-mato-grossense e que não pode estar presente nas margens de córrego e nascentes.

Trata-se da leucena que, usada em processos naturais de restauração, de maneira equivocada, se espalhou impedindo o crescimento de outras espécies.

“Aqui eu vejo muito animal cruzando: quati, cotia, até cobra já vi atravessando o túnel. Moro aqui há 12 anos. O ar aqui é bem fresco, vem deste túnel natural e a gente sente até mais friozinho. A única coisa triste é que tem gente que vem de noite jogar lixo aqui. O povo não respeita”, disse o barbeiro João de Deus, conhecido como ‘Deusinho’, de 53 anos.

O militar da reserva Pedro de Oliveira, de 65 anos, ressaltou que o túnel é um atrativo, o qual traz uma boa impressão por estar na entrada do bairro. No entanto, compartilha da mesma opinião que João.

“Precisamos de mais atenção aqui. Acho que deviam aparar os galhos e deixar mais aplausível às nossas vistas. Estou há oito anos aqui e, desde o início, é isso que eu penso”, disse.

O que a leucena faz às margens de córregos e nascentes?

(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)
(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)

A leucena é uma planta que compete com outras espécies. Segundo especialistas, ela libera substâncias secundárias – alelopatia – e, sendo assim, não nasce nada ao redor, principalmente quando está em áreas de calçamento.

“Ela faz ali uma sombra, mas, é principalmente por ter este crescimento super rápido, cresce mais rápido que as outras e é super profícua. Ou seja, permanece por muito tempo ali. Se você corta, a semente brota novamente. No passado, se formos recordar, ela chegou no nosso cotidiano na década de 80, conforme até estudos relatados pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], sendo usadas no entorno para recuperação de voçorocas, em processos de erosão”, afirmou ao Jornal Midiamax o biólogo, professor doutor em ecologia e conservação, José Milton Longo.

(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)
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Na ocasião, segundo o biólogo, foram distribuídos saquinhos de semente. “Ignoraram que poderia se tornar invasora e se dispersra na beira de estradas, córregos e em todo o cenário urbano, como temos ali na Avenida Ricardo Brandão, por exemplo, formando uma alameda bonita, mas, que não deve se plantar e nem fomentar o cultivo da leucena, nem mesmo em processos naturais de restauração”, argumentou.

(Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)
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Recentemente, por conta desta planta, já foi feito um trabalho de recuperação na região da nascente do ceroula e na praça do preto velho. “Na minha opinião, não houve a disseminação de informações e esclarecimentos para a população e, por isso, muitos não entenderam o que estava sendo feito ali. As leucenas prejudicaram os ipês e todas as outras espécies da rua e agora tem que ir manejando e plantando outras”, comentou.

Outro exemplo da leucena em Campo Grande, é nas proximidades do Ginásio Morenão.

“Ali tem uma floresta só de leucena, que se espalhou pelos fundos dos vales e foi dominando facilmente e daí é uma planta de fácil manuseio, com raiz super profunda e resistente e com banco de sementes que faz e germina muito”, finalizou.