Bonequeira, palhaça e viajante. Essas eram algumas das muitas maneiras como a artista venezuelana, Julieta Hernández Martínez, de 38 anos, se apresentava. Morando no Brasil desde 2015, ela havia saído com sua bicicleta do rumo a cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela, para visitar a mãe. Em uma de suas paradas, em Manaus, dois dias antes do Natal, Julieta foi vítima de um crime bárbaro, sem qualquer possibilidade de defesa.

Em homenagem a artista, para honrar sua memória, trabalho e legado, diversos grupos se unirão em todo o Brasil, América do Sul e Europa. A ideia é fortalecer o movimento contra o feminicídio e violência contra a mulher, com o tema ‘Julieta Presente'. Em Mato Grosso do Sul, dois municípios se mobilizarão: e Campo Grande.

(Divulgação)

Fernanda Revertido, atriz, professora de histórias e coordenadora da Casa da Memória Raída, ponto de memória em , é uma das organizadoras da bicicletada no município. Ela explica que conhecia Julieta das redes sociais e era grande admiradora do trabalho de palhaçaria da artista. E foi pela plataforma, que antes lhe entregava fragmentos da vida e trabalho de quem ela admirava, que soube que amigos e familiares de Hernández estavam em busca da bonequeira.

“A gente começou a postar nos stories e nas nossas páginas, para tentar encontrar, para tentar localizá-la, para ver se outras pessoas, de outros pontos do Brasil, podiam ajudar a encontrá-la”, recorda Fernanda. “Porém, chegou a notícia muito triste da partida dela e da forma como isso aconteceu”.

Foi então que Fernanda decidiu se juntar à Rossana Lucchner, ciclista de Bonito, que também coordena um grupo de na cidade, e participar da mobilização nacional. Rossana criou o seu grupo na pandemia, junto às amigas que passavam pelo luto. Atualmente, mais de 70 mulheres integram a equipe.

“A gente teve a ideia na iniciativa de reunir e fomentar esse trabalho e fazer essa homenagem a Julieta Hernàndez, mas também ressaltando a importância de nós mulheres. A importância do ‘nós', o nosso direito de ir e vir, o nosso direito de transitar”, explica Fernanda.

“Acreditamos que essa homenagem simbólica possa não só fortalecer ainda os vínculos e laços com as mulheres do Brasil e da América Latina, mas que a gente tenha o direito de continuar sonhando e circulando por esse Brasil, pela América do Sul e por todo o mundo”.

Em Bonito, a concentração acontecerá na Praça da Liberdade, às 18h30, nesta sexta-feira (12). Já em Campo Grande, a mobilização acontecerá na Av. Afonso Pena com a Calógeras, em frente ao Relógio Central. A bicicletada na Capital está sendo organizada pela ‘Massa Crítica Campo Grande'. A homenagem também acontecerá na sexta-feira, a partir das 19h.

É possível também apoiar financeiramente a família da artista, através da conta PayPal: sophialarouge@gmail.com.

Entenda o caso

Julieta Hernández estava desaparecida desde o dia 23 de dezembro. Segundo a SSP-AM (Secretaria da do Amazonas), a artista dormia na rede, na varanda de uma pousada, quando foi surpreendida pelo dono do estabelecimento, de 32 anos. O homem ameaçou Julieta com uma faca e a obrigou fazer sexo oral. Na sequência, o dono da pousada pediu para que a namorada amarrasse os pés de Hernández e a estuprou.

Com ciúmes, a namorada jogou álcool nos dois e ateou fogo. Mesmo assim, o homem foi para cima de Julieta e a matou com uma gravata. O corpo da artista foi encontrado em uma cova a 15 metros da entrada da pousada.

Encontrá-la só foi possível após um morador da região localizar partes da bicicleta de Julieta. A polícia interrogou o casal, que acabou confessando o crime e indicando o local em que o corpo estava enterrado. Os dois foram presos em flagrante.