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Conhece a Ictiolinguística? Projeto do Bioparque identifica animais por meio da sinergia

Projeto, desenvolvido desde 2023, visa uma maior inclusão dos visitantes surdos que passam pelo Bioparque
Monique Faria -
Maria Fernanda Balestieri e Shirley Vilhalva. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Quem já esteve no Bioparque Pantanal sabe que cada animal do acervo é identificado com o nome da espécie, facilitando o aprendizado dos visitantes. Mas, você já pensou em como eles são identificados na língua de sinais?

Pensando em uma maior inclusão dos visitantes surdos que passam pelo local, o Bioparque realiza um projeto de catalogação de sinais de libras, desde junho de 2023, que identifica os animais. Chamado Ictiolinguística, o projeto une o estudo dos peixes (ictiologia) com o estudo da linguagem (linguística).

De acordo com a diretora-geral do Bioparque, Maria Fernanda Balestieri, o projeto surgiu de um dos pilares que sustentam o local, que é a inclusão. A proposta é deixar o espaço mais acessível de experiência e conhecimento para todos.

“Dentro dos pilares que subsidiam o Bioparque tem a inclusão e a pesquisa. No pilar inclusão temos um programa chamado Bioparque Para Todos Iguais nas Diferenças, onde nós buscamos proporcionar um turismo acessível para todos, dentro das particularidades de cada pessoa que vem aqui no Bioparque, seja ela surda, deficiente visual, neurodivergente”, explica.

Maria Fernanda Balestieri. (Henrique Arakaki, Midiamax)

Projeto é desenvolvido por pesquisadora surda

À frente do projeto, está a professora Shirley Vilhalva, doutora em Linguística Aplicada. Ela trabalha com a sinergia dos animais, analisando o comportamento e características marcantes de cada um deles para chegar em um sinal que os identifiquem na língua de sinais, na brasileira e também na indígena.

“Ela se reúne com nossa equipe, pega características, vai para a frente do tanque, faz toda uma análise sinergética de como aquele animal se comporta, as características físicas dele para então chegar num sinal que pode representar ele”, explica a diretora do Bioparque.

A equipe do projeto grava a sinalização, realizada por Shirley, em vídeo. Logo em seguida, se inicia a segunda etapa do projeto, que é a validação com outros surdos. Esse processo é feito de uma forma lexical para, assim, chegar ao sinal que o identifique.

Análise sinergética e de características

Para dar início ao processo de criação dos sinais, a professora Shirley Vilhalva faz a análise sinergética dos peixes. Essa primeira etapa envolve observar e sentir a energia e movimentos do animal para, então, chegar em um sinal que possa identificar a espécie.

Shirley não desenvolve a sinalização de forma lexical, portanto uma banca de validação, composta por outros surdos faz a segunda etapa do projeto, que é elaborar o sinal final, com base no léxico, ou seja, no conjunto de palavras existente na língua portuguesa.

A pesquisadora explicou como funciona a sinergia e o processo de sinalização para a equipe do Jornal Midiamax, com auxílio da intérprete Beatriz Marques.

“Eu não fico pensando na forma lexical, é todo um processo diferente em que eu vou visualizar o animal porque nós surdos somos muito visuais. O sinal lexical é diferente porque ele não tem esse sentimento. Eu vou visualizar e vou participar ali daquele acontecimento. Como ele movimenta a boca, qual o movimento do corpo do peixe, se ele raspa a pedra no fundo, se ele suga”, detalha.

Para fazer essa observação detalhada dos peixes, Shirley chegou à uma estratégia que fizesse com que os peixes se conectassem com ela e não se escondessem no aquário.

“Sempre você vai olhar e os peixes saem de perto de você. É como se eles fugissem. Com o tempo acabei percebendo: eu preciso sentir os animais, conhecer como que é a sinergia. Então eu comecei a observar, fazer o movimento com a minha mão para conhecer esse animal”, explica.

Shirley Vilhalva. (Henrique Arakaki, Midiamax)

É magia ou estratégia?

Quem observa Shirley fazendo a sinergia com os animais pode até achar que ela é um tipo de ‘encantadora’ de animais, mas a pesquisadora explica que não é bem isso que acontece.

“Algumas pessoas pensam que é magia, que é uma coisa diferente, xamânica, realizada de uma forma diferente. Na realidade não é isso. É um processo que exige muita pesquisa”, ressalta.

Além de muito estudo, Shirley foi adaptando os métodos de pesquisa para que conseguisse realizar uma observação mais completa dos animais, captando a atenção deles pelo tempo necessário.

“Eu sou surda, então eu tenho mais atenção do que as outras pessoas. Eu preciso fazer movimentos para eles [os peixes] se aproximarem de mim. Eles pensam que vou dar comida, então não tem magia. É só uma estratégia que acaba acontecendo ali. O animal percebe e vem até você”, completa.

Glossário vai catalogar sinais

De 380 animais do acervo, Shirley já sinalizou 67 deles. Como explicou a professora, alguns peixes já possuem sinais oriundos dos países que vieram e, mesmo esses animais, serão sinalizados pelo Bioparque.

“Estamos pensando em sinais para o Bioparque, e são sinais diferentes porque a gente vai criar um glossário próprio, organizado, e o objetivo principal é ter os sinais dessas espécies que não tem sinais ainda. Se tiver um sinal, dois, três de um mesmo peixe, não tem problema porque a gente tem várias línguas, várias possibilidades, a gente tem variações linguísticas”, comenta.

O intuito do projeto é criar um glossário, ao final das pesquisas, que possa ajudar os visitantes do Bioparque, assim como alunos em escolas e universidades. “É um trabalho prévio que depois a gente vai expandir, vai sim apresentar para a comunidade, vai levar para as escolas, para as faculdades, as universidades, e esse é o objetivo”, explica Shirley.

Projeto Ictiolinguística. (Henrique Arakaki, Midiamax)

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