Procurar na internet mudas de ipê-púrpura é se acostumar a ver a palavra “esgotado” ao lado. Muito raro, produz exuberante florada de coloração escura em tom roxo, tendo como cores primárias o vermelho e o azul. Assim, quem o contempla está diante a um presente da natureza, já que, infelizmente, corre o risco de já estar entre as espécies em extinção.

Em Campo Grande, no entanto, o privilegiado se chama Geraldo Duarte Ferreira, de 64 anos. No jardim de sua casa, no bairro Arnaldo Estevão de Figueiredo, o jornalista cultiva a raridade há 15 anos, enviando lindas fotos aos amigos, além de hibiscos e outras centenas de plantas que tornam fresca e embelezam a entrada do seu imóvel.

Outras espécies cultivadas por Geraldo (Alicce Rodrigues/Arquivo Pessoal)

“Eu sempre gostei de plantas, desde pequeno. Nasci em Aquidauana e trouxe esse hábito para cá, isso tem 30 anos. Aqui tem o ipê-púrpura, graviola, hibisco, brinco-de-princesa e muitas outras espécies. Me dedico uma duas horas aqui diariamente, é bem terapêutico. Vejo o que está murcho, o que precisa limpar e ainda recebo a visita do beija-flor, do pardal e sanhaçu cinzento, entre outros”, contou Geraldo ao MidiaMAIS.

Conforme Geraldo, a semente do ipê-púrpura (Tabebuia gemmiflora) foi diminuindo cada vez mais, com o desmatamento do cerrado. “É uma planta muito bonita. E eu comecei aqui em casa e depois fui plantando lá no Clube Estoril, há 20 anos. É uma área de um hectare e meio que eu fui plantando e depois o MP [Ministério Público] interditou, por conta de uma área de nascente. O espaço lá leva o meu nome e foi um trabalho que iniciamos juntamente com a ONG [Organização Não Governamental] Cerrado Vivo”, lamenta.

Geraldo diz que tem paixão por plantas desde a infância (Alicce Rodrigues/Arquivo Pessoal)

Durante a carreira como jornalista, Geraldo sempre esteve ligado às questões ambientais. “No ano de 1983 eu recebi um prêmio por denunciar que havia mercúrio no pintado. Foi um material amplo, que chamou a atenção do governo do Mato Grosso quando houve o 1° prêmio de jornalismo do Estado. Também falei do garimpo, que vinha pelo Rio Paraguai, além dos caçadores de jacaré e vários outros assuntos ambientais”, disse.

Maíra Lacerda, que é engenheira ambiental, diz que trabalhou junto com Geraldo na área verde do Clube Estoril. “O meu objetivo é sempre atuar em áreas degradadas. No início, a gestão do clube descartava até óleo da cozinha do restaurante no efluente, porém fizemos um plano de resíduos sólidos, onde este material começou a ser vendido por recicladoras e isso também gerou ganhos para o clube”, relembrou.

Com incentivo do próprio clube e apoio da ONG, ambos iniciaram o viveiro com produção de mudas nativas.

Área verde ganhou o nome do jornalista (Arquivo Pessoal)

“Com o passar do tempo foi possível observar que, a medida que as árvores eram plantadas/alimentadas, também houve aumento do volume de água nas nascentes. E sobre o ipê é realmente uma espécie muito rara. Com o aumento do desmatamento e falta de conhecimento da população, acabou entrando para lista de espécies extintas”, argumentou.

Além disso, Lacerda ressalta que existem pouquíssimos viveiros que trabalham com espécies nativas para o reflorestamento.

“Isso porque há pouco ganho econômico para esse tipo de viveiro, desestimulando a produção dessas espécies”, finalizou.