Artistas de Mato Grosso do Sul, sensibilizados com a causa do Pantanal, estão usando as suas vozes, talento para escrever poesias, composições e até nas telas, para explicitar o sentimento de tristeza com o fogo que está assolando o bioma. Cada vez mais intensas, as chamas consomem e nós, atônitos assistindo a tudo, ficamos questionando o motivo de tamanha destruição.

“A última grande enchente que presenciei no Pantanal, foi em 1974, praticamente 50 anos atrás. E, de lá para cá, continuamente, vem a questão do fogo. Fogo não é natural, existe uma ação humana. E quando a gente vê, a cada dia, o fogo de maneira intensiva, a cada ano, repetidamente, e você vê a área hídrica do Pantanal sendo reduzida de maneira drástica…em 2020 foi praticamente a maior queimada do Pantanal, a maior destruição, quase 40% atingido pelas chamas”, afirmou ao MidiaMAIS Moacir Lacerda, integrante do Grupo Acaba.

Segundo Lacerda, estamos presenciando muitas agressões no bioma, como desmatamentos, substituição da pastagem natural e as queimadas anuais produzidas pelo homem. “Já vínhamos denunciando isso no nosso trabalho, quando levantamos a bandeira pantaneira, porém, o que está ocorrendo nos últimos cinco anos, é uma situação de calamidade pública. Se não levantarmos nossas vozes e denunciarmos estas agressões, o Pantanal tende a desaparecer, assim como já desapareceram rios, o próprio Rio Taquari, fruto de um desmatamento”, lamentou.

Ainda conforme o artista, vários pecuaristas envolvidos no desmatamento não foram punidos. “Falta punição. Tem um grupo de interessados neste fogo, então, temos que levantar as nossas vozes. E tenho realçado também o trabalho de poetas, escritores, compositores, é o mínimo que podemos fazer. Não podemos ficar insensíveis a este crime contra o meio-ambiente e também contra a humanidade. Se olhar bem, não vê bois mortos na queimada e sim outros: répteis, jacarés, antas, tudo fugindo da queimada, mas, não vê pecuaristas perdendo boi. Ou seja, é retirado boi e tocado fogo no campo. O estado do agronegócio precisa ter ações preventivas com a natureza também e a nossa nossa maneira é usar nossas vozes, cantar, dizer o nosso pensamento, todos unidos nesta bandeira da preservação”, finalizou.

A poeta Janet Zimmermann, de 64 anos, também ressaltou que os artistas estão engajados e unidos, levando adiante o grito de socorro através da arte. Assim, fez um poema e espera que o Brasil todo fique atento ao que está ocorrendo no Pantanal, um local “tão vasto e lindo”. Já Geraldo Espíndola resumiu a tristeza em poucas palavras: “É triste…rios secando”, lamentou.

O poeta e compositor Rubenio Marcelo, também secretário-geral da ASL (Academia Sul-mato-grossense de Letras), ressaltou que a preocupação referente às queimadas deve ser de todos, com engajamento dos artistas e de todos que habitam este planeta.

“Devemos repudiar qualquer tipo de agressão ao meio ambiente e, especificamente, no tocante ao triste fenômeno recorrente do fogo no Pantanal, que haja especial empenho dos órgãos responsáveis pela preservação deste sagrado bioma, com ações urgentes que identifiquem as causas e proporcionem o efetivo combate às chamas do Pantanal”, disse.

Confira a letra da canção “Tocha Humana”, dedicada a Francisco Anselmo de Barros, escrita por José Pedro Frazão e na canção de Moacir Lacerda e Antonio Luiz Porfirio:

“Seres de fibra, guardiões dessas matas,
Do bicho, do homem, das águas do rio,
Não fogem, não calam, não batem, não matam,
Mas trazem na alma verdes desafios:
Lutar pela Mata, morrer pela Pátria,
Com a Fauna e a Flora a chorar noite a fio,
No ardor do veneno, no ar, no sereno,
No sol, no terreno, no calor, no frio.

Oh, seres de folha, de ouro, de prata,
De couro, de nata, de amor, de Brasil,
Combatem as bestas humanas piratas
Que as árvores matam sangrando o verdil;
Que as aves sufocam, que a terra poluem,
Que matam florestas com fogo ardil,
Que chamas semeiam nas serras intactas,
Nas peles dos bichos, do homem gentil.

Clamam os animais, com a morte das matas
Nos rios e lagos, agonizam as vidas
Os seres alados nos ninhos queimados
O homem calado lambendo as feridas!

Oh, seres humanos, bioma, cristal,
Tutores da vida, anjos da criação,
Solidários na dor, de entrega total,
De vida imortal na mortal salvação;
Que o fogo não queima, mas brilha e inflama
E clama ao terror do pendor capital,
Aos cegos famintos de usinas de cana,
Que amam a gana e não o Pantanal…

Seres estrelas em sublime explosão
No céu da floresta, no ambiente da vida,
Bandeiras de gente, de deuses, de chão,
Que na escuridão cicatrizam feridas;
Espíritos-luz, esses seres de fogo
Se imolam na cruz contra o fel da vinhaça,
Afogando no cálice o vinho do engodo
Que afoga no lodo a pesca, a caça.

Oh, seres de chama, da terra, do céu,
Que rompem os véus da senil avareza,
Na mesa da lei do poder, do papel…
Troféu da maldade contra a natureza;
Demonstrem seu gênio de fogo da alma
Aos olhos incautos dos homens dementes,
Acendam suas tochas na carne, com traumas,
Tornando-se chamas humanas ardentes.”

Clamam os animais, com a morte das matas
Nos rios e lagos, agonizam as vidas
Os seres alados nos ninhos queimados
O homem calado lambendo as feridas!