Quem chega ao bairro Jardim Pênfigo, em Campo Grande, logo é recebido pela mensagem: “Seja Bem-Vindo – Jardim Pênfigo”, expressa em uma placa. De tamanho simbólico, o gesto resume a receptividade, as memórias e bom papo que se encontram facilmente ao adentrar aquela rua.

Um bairro alegre, cheio de vida e com muitas pessoas dispostas a contar os causos da região, nos deparamos com a história de quem fez do bairro sua terapia e construiu o seu legado: seo Paulo.

Figura conhecidíssima pelos moradores, Paulo morou por anos no bairro com sua família e, vendo que faltava um espaço de lazer que acolhesse os moradores nos momentos de folga, decidiu criar uma praça, em um terreno atrás de sua casa. E se engana quem pensa que o projeto é pequeno. O espaço conta com pista de cross, pomar, campo do terrão e vários bancos para que os moradores possam curtir uma boa tarde de tereré.

Campo do terrão que fica na praça construída por seo Paulo. (Foto: Kísie Ainoã/Jornal Midiamax)

Andando pela praça, encontramos Tereza da Silva Oliveira, de 74 anos. Morando há 20 anos no Jardim Pênfigo, ela afirma que seo Paulo construiu tudo sozinho e do zero. Todo seu esforço, cuidado e trabalho duro resultou em um centro de convivência que todos os moradores gostam de frequentar.

Porém, como nem tudo são flores, a praça é um respiro para os moradores que se sentem abandonados pela prefeitura, se queixam da falta de infraestrutura no bairro e do mau cheiro vindo do frigorífico que fica na região.

“O bairro é um lugar bom, a vizinhança é boa, mas o problema é o mau cheiro que vem do frigorífico. Quando bate o vento fica insuportável”, comenta Tereza. “Mas ainda é um lugar muito gostoso. Eu moro aqui desde que as ruas eram de terra”, acrescenta.

Tereza curtindo a sombra das árvores na praça. (Foto: Kísie Ainoã/Jornal Midiamax)

Outra moradora, de 73 anos, que não quis se identificar, é proprietária de um salão de beleza no bairro e conta que os moradores sofrem com a falta de esgoto, de creche, de posto de saúde e posto policial. Ela também reforça o mal-estar causado pelo cheiro do frigorífico. “Depois das 17h fica insuportável. Às vezes, eu preciso usar máscara”, afirma. E sobre a obra de seo Paulo, ela comenta. “Essa praça não tem nada da prefeitura, às vezes eles só veem pra cortar a grama”.

Apesar das insatisfações, a praça é a trégua que eles buscam após uma semana agitada. É uma obra iniciada por seo Paulo e “adotada” pelos moradores.

Infelizmente, em 2020, durante a pandemia, a esposa de seo Paulo faleceu e logo ele também adoeceu, devido a uma catarata. Sem conseguir cuidar da praça que construiu com tanto carinho, se mudou para o bairro Coophavila.

Vizinha por muitos anos de seo Paulo e moradora do bairro desde os 8 anos, Carinna Pinheiro, de 29 anos, se lembra da época em que ele ainda conseguia cuidar da praça. “Ele fazia porque gostava mesmo. Vivia carpindo, colocou as traves no campo”, comenta.

Hoje, o projeto virou ponto de encontro de gente de todas as idades. Amigos se juntam para uma boa partida de terrão, crianças correm cercadas por muito verde e famílias se encontram para descansar a mente. Ao se mudar, seo Paulo deixou a praça, a lição de comprometimento e um espaço para que os moradores criassem memórias.