Personagem sul-mato-grossense na ficção, o jovem Daniel (Johnny Massaro) acaba de ganhar o título de “defunto mais desrespeitado”. É que após morrer em “Terra e Paixão”, novela das nove da TV Globo ambientada em Mato Grosso do Sul, Daniel tem sua memória “maculada” todos os dias e os personagens que continuam vivos seguiram a vida, ignorando quase completamente a partida do advogado.

O show de horrores que as figuras de “Terra e Paixão” têm cometido sem esperar o “corpo” de Daniel esfriar no caixão tem feito o público sentir vergonha da condução do folhetim. As atitudes, especialmente, de Caio (Cauã Reymond), Aline (Bárbara Reis), Graça (Agatha Moreira) e Antônio (Tony Ramos) são de espantar qualquer um, justamente pela ligação que esses nomes tinham com o morto.

Mas, vamos aos fatos. Daniel morreu no capítulo do dia 6 de julho e, dois episódios depois, Aline, que namorava o advogado, já estava aos beijos com Caio, criado como irmão de Daniel, e por quem sempre afirmou não sentir atração alguma. O envolvimento relâmpago dos personagens e o fato de Aline, que antes morria de amores e dava a vida por Daniel, simplesmente não ter sofrido com a morte e já engatar um “pega-pega” com Caio logo em seguida não foi bem visto pelos telespectadores.

Além de se envolver com Aline, que era namorada não oficial de Daniel, Caio também “pegou” a noiva do irmão postiço menos de 5 capítulos depois da morte do rapaz. Isso porque, tanto ele como Aline pregavam o maior amor, admiração e consideração do mundo por Daniel enquanto o mesmo estava vivo, mas bastou morrer para os relacionamentos virarem uma “mistureba” e o personagem de Cauã ficar com todas as paixões do irmão.

Noiva, pai, irmão, cunhado e amante do “defunto”: que rolo!

Graça, que também gostava de Daniel, ainda que traindo o advogado com o delegado da cidade, mal enterrou o noivo e na mesma noite exigiu que Caio se casasse com ela. Em seguida, os dois deram um beijo e ela afirmou sentir um “fogo” pelo agroboy. Tudo isso no mesmo dia do enterro do noivo que dizia amar.

E tem mais. Antônio La Selva (Tony Ramos), que tinha Daniel como filho preferido e só descobriu no último minuto que o rapaz não era de seu sangue, tratou logo de transar com a amante na cama de outra falecida de “Terra e Paixão”, nas horas posteriores à partida do personagem de Johnny Massaro.

Numa atitude incomum e injustificada, Antônio foi até o bar de Cândida (Susana Vieira) e meteu os chifres em Irene (Glória Pires), a única que demonstrou sofrimento pelo falecimento do filho, e que estava em casa chorando a morte, enquanto o marido se deitava com Berenice (Thati Lopes), na cama que foi de Cândida, personagem de Susana Vieira que morreu no início do folhetim.

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Cheiro de cueca suada

Como se não bastasse tudo isso, no capítulo fúnebre que sucedeu a morte de Daniel, um diálogo bizarro causou revolta na web, que exigiu uma explicação do autor. Em uma cena considerada “de péssimo gosto” pelos internautas, a governanta Angelina (Inez Viana), que tinha adoração por Daniel e criou o menino como filho, decidiu expor, sem contexto algum, seu fetiche por “cheiro de cueca suada de homem”.

Irene (Glória Pires) se acabava no luto e se preparava para queimar a plantação de Aline, quando esbarrou com Angelina na cozinha e perguntou onde estava Ramiro (Amaury Lorenzo), que iria ajudá-la no serviço sujo.

Inexplicavelmente, Angelina começou a comentar sobre o dia em que lavou as roupas íntimas do capataz, dizendo que “a cueca era puro suor de homem”. “E por que esse interesse na cueca, o que eu tenho a ver com isso?”, indagou a personagem de Glória Pires.

“Me perdoe, mas é que eu nunca tinha sentido cheiro de cueca de homem. Quando os meninos eram pequenos, eu que lavava as roupas deles, mas depois que cresceram a lavadeira tomou conta de tudo. Sabe que eu fiquei até tonta com o cheiro da cueca do Ramiro?”, respondeu Angelina.

A sequência, minutos depois do enterro de Daniel, foi tão bizarra que até a atriz que interpreta a protagonista ficou sem entender. “Não entendi por que a Angelina cheirou a cueca do Ramiro. Por que, gente?”, publicou Bárbara Reis nas redes sociais.

O que está acontecendo com “Terra e Paixão”?

Estes são apenas alguns dos detalhes da extensa lista de mudanças que o autor de “Terra e Paixão” tem promovido desde que o personagem de Johnny Massaro morreu. Menos de uma semana depois, Caio já tinha se envolvido com os dois amores do irmão, o pai arrumou uma amante, a noiva desenvolveu “fogo” pelo cunhado, a governanta que era como sua mãe teve fetiches expostos e Aline, a mulher que mais amava e que também dizia o amar, já está envolvidíssima com o cunhado, a quem rejeitava veementemente desde o início do folhetim. Ela, inclusive, nem lembra de Daniel, atitude apontada como incondizente pelos telespectadores, pois a protagonista afirmava que o advogado era o amor de sua vida.

Todos esses entrechos esdrúxulos aconteceram sem que o “corpo” do personagem esfriasse, passando por cima de qualquer humanidade na história. “Acho que nem se o Daniel fosse uma pessoa ruim, as pessoas que ele mais amavam agiriam dessa maneira depois da morte. Completamente inverossímil com tudo que foi exibido na novela até agora”, opinou uma telespectadora nas redes sociais.

Aflito e pressionado com a má audiência da novela, o autor Walcyr Carrasco promoveu alterações significativas em “Terra e Paixão” na tentativa de levantar o Ibope. A mudança drástica do estilo da trama faz parte do pacote de modificações, que trouxe o “apimentamento” do folhetim, com mais cenas e diálogos sexuais, bem como o envolvimento forçado e relâmpago de Aline e Caio, sem Daniel ter “esfriado” direito.

No entanto, até agora, nada disso fez o Ibope reagir e os telespectadores estão reclamando cada vez mais do verdadeiro “show de horrores” e das cenas sem sentido que a trama ambientada em Mato Grosso do Sul se tornou. Vale lembrar que a morte de Daniel foi antecipada, também para erguer a audiência. O autor tinha programado o acontecimento para o capítulo 80, mas achou necessário adiantá-lo para o 50 e fazer o Ibope subir. Mesmo assim, a estratégia não surtiu efeito.

Para que tá feio?

Ainda no pacote das mudanças está uma novidade improvável: Carrasco decidiu que Agatha, a mãe de Caio está viva. Ressuscitar a personagem teria sido um pedido da direção da Globo para que a história de “Terra e Paixão” não fique parecida com o remake de “Renascer”, que sucederá a atual novela das nove no mês de janeiro.

Em “Renascer”, a história principal é de um pai que rejeita o filho e o acusa de ser o responsável pela morte de sua mãe. O motivo? A esposa do patriarca protagonista morreu ao dar à luz ao menino. Bruno Luperi, que escreve a adaptação para o horário nobre, reclamou que “Terra e Paixão” tinha a mesma história. Com as “costas quentes” e com o atual folhetim sem muita moral na emissora pelo fracasso, o neto de Benedito Ruy Barbosa teve o pedido prontamente atendido e a história de “Terra e Paixão” foi alterada.

Ainda prevista para terminar em janeiro, “Terra e Paixão” respira sob a ajuda de aparelhos. Sem uma trama consistente e com personagens tendo atitudes sem sentido, além de um rumo desconhecido que optou pela insanidade, o que restou a novela de Walcyr Carrasco e como ela chegará até o ano que vem? Será que tem salvação?