Mais de 90 jiboias vivem espalhadas pela UFMS em Campo Grande, mas Clotilde é a mais famosa
Saiba como evitar mordidas e o que fazer quando encontrar Clotilde e as outras dezenas de jiboias que moram na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
João Ramos –
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Nos galhos de uma embaúba, em frente ao bloco 11 na área de mata da UFMS, em Campo Grande, vive um animal peculiar. Camuflada por ser praticamente da mesma cor dos galhos da árvore, ainda assim, a jiboia é notada pelos universitários, professores e demais frequentadores do Câmpus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tão afamada que acabou por ser “adotada” pelos estudantes e até ganhou um nome da comunidade universitária: Clotilde.
Simpática e carismática aos olhos dos alunos, Clotilde tem sido acompanhada pela equipe de Pesquisa em Herpetologia da UFMS desde setembro de 2022. Nesse período, a jiboia que poderia provocar pânico está mesmo derretendo o coração de estudantes que até a consideram “fofa”. No entanto, como já era de se esperar, também há uma parcela de universitários que sentem calafrios só de saber que ali naquela árvore mora esse animal.
A cobra Clotilde, de fato, não é uma unanimidade no Câmpus. O Jornal Midiamax conversou com alguns acadêmicos da UFMS e as opiniões se dividem, ao mesmo tempo em que muitos têm dúvidas de como a Federal acompanha a serpente e se ela realmente representa algum perigo para quem frequenta a cidade universitária.
“Ela fica na espreita”, diz coordenadora sobre Clotilde
Vanda Ferreira, coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Herpetologia, que também é professora do Instituto de Biociências na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, revela ao MidiaMAIS que, além de Clotilde, mais de 90 jiboias vivem espalhadas pela UFMS. Ela detalha ainda sobre a forma como o Laboratório atua no monitoramento de Clotilde e as outras dezenas.
Em relação à Clô, que é a mais famosa de todas por ter criado hábitos que podem ser acompanhados diariamente pelos estudantes e por viver em uma área mais exposta, a coordenadora não soube informar a idade, a origem do apelido e o motivo pelo qual a serpente ganhou esse nome. Mas compartilhou com a reportagem outros dados interessantes.
“Chamamos ela carinhosamente de ‘Clotilde’. É um animal que está sempre por ali. Pedimos para que as pessoas não tentem capturá-la, nem mexam nos galhos da árvore, uma embaúba (Cecropia). Ela gosta de ficar nessa árvore por causa dos frutos que atraem passarinhos, e fica ali na espreita [esperando para dar o bote]”, pontua Vanda Ferreira.
Mais de 90 jiboias
De acordo com a coordenadora, o projeto do Laboratório de Herpetologia inclui o registro dos indivíduos de jiboias que são encontrados na Cidade Universitária e na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RNPP) Cerradinho/UFMS, em Campo Grande.
Em geral, os animais são capturados e avaliados quanto a sua condição corporal – muitas vezes podem estar machucados, por atropelamento, por exemplo. Os dados biométricos (tamanho e massa corpórea) e reprodutivos também são coletados através de exame de ultrassonografia no Hospital Veterinário da UFMS, com Dr. Paulo Andreussi. “Se fêmea, avaliamos o estágio de gestação, se macho, se ele está no período de atividade reprodutiva”, acrescenta a coordenadora.
Após essa análise, os animais recebem um microchip que é muito útil para reconhecer cada indivíduo ao longo dos anos. “Cada animal é solto próximo ao mesmo local onde foi capturado. Até o momento, temos pouco mais de 90 jiboias com microchip no Câmpus. Infelizmente, registramos alguns indivíduos que foram acidentalmente machucados por máquinas de jardinagem e obras e/ou atropeladas”, lamenta Vanda.
O que fazer ao ver Clotilde ou outras jiboias em situação de risco na UFMS?
Ela explica ainda que essas jiboias, que vivem aos montes pela Universidade, não apresentam riscos aos seres humanos e as orientações estão espalhadas pela cidade universitária. “Nosso projeto tem várias placas e cartazes distribuídos pelo Câmpus com os números dos nossos contatos telefônicos (67 992612159 ou 996675035) para que a comunidade possa contribuir”, garante.
“Nessas placas e cartazes solicitamos que, ao avistar uma jiboia, entre em contato conosco por telefone ou envie uma mensagem pelo WhatsApp para que a equipe possa se deslocar ao local e capturar o animal. Após a captura, realizamos todos os procedimentos descritos”, afirma.
Para que as jiboias, incluindo a carismática, querida e simpática Clotilde, não ofereçam riscos aos frequentadores humanos, alguns cuidados básicos são necessários. “Recomendamos que as pessoas não tentem capturar, tocar ou incomodar o animal. Mesmo após o contato com a equipe de captura, caso o animal esteja evadindo do local, pedimos que a pessoa não tente segurá-lo ou contê-lo e deixe-o seguir naturalmente o seu percurso”, informa a coordenação.
“É necessário reforçar que apenas pessoas autorizadas pelos órgãos ambientais podem manejar animais silvestres e que matar ou machucar animais silvestres é crime. Caso o animal esteja em risco de atropelamento, solicitamos que a pessoa sinalize, com segurança para si, para que os veículos possam desviar”, aponta Vanda Ferreira.
Como não ser mordido pelas jiboias, incluindo Clotilde?
Lembrando que são mais de 90 jiboias habitando o local e, por isso, pode ser corriqueiro se deparar com uma ou outra. Portanto, a coordenadora de Pesquisa em Herpetologia faz o alerta.
“Assim que a pessoa encontrar e entrar em contato conosco, a equipe irá orientá-la e se deslocará o mais rápido possível até o local onde a serpente foi avistada. Recomendamos que, se possível, a pessoa envie uma foto do animal pelo WhatsApp (contatos disponíveis nas placas e nesta reportagem) e faça a descrição do local para que a equipe possa encontrá-la com a maior brevidade possível. Pedimos ainda, que não se aproximem muito do animal, evite aglomerações a curta distância, para também evitar mordidas. A jiboia não é peçonhenta, mas a microbiota da boca dos animais silvestres é pouco conhecida”, finaliza ela.
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