Junior, do Passeando em Campo Grande, abre o jogo sobre a vida por trás da máscara
Mantendo a identidade em segredo, Junior do Passeando conta um pouco sobre o homem que dá vida ao mascarado que se tornou ícone da internet em Campo Grande
João Ramos –
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Não, ele não é um robô. Usando a imagem de um dos primeiros memes do Facebook, o Troll, para esconder o rosto, o icônico personagem campo-grandense Junior do Passeando, da página de humor Passeando em Campo Grande, é sim uma pessoa humana, como ele mesmo brinca: “Não sou eu ET”, garante. Em entrevista ao Jornal Midiamax, ele revela, pela primeira vez, detalhes de sua vida íntima, mas não abre mão de manter seu verdadeiro rosto em segredo.
Apesar de nunca ter mostrado a cara para seus seguidores e ter a identidade desconhecida em Campo Grande, o dono da página de memes regionais mais famosa de Mato Grosso do Sul tem mostrado, nas últimas semanas, um lado menos memeiro e mais orgulhoso.
A emoção compartilhada nas redes, quando algum artista vem a MS e aprecia a cultura local, respeita e enaltece o Estado, ou quando um famoso vem a Campo Grande e faz o mesmo, bem como o sentimento depositado em publicações que elevam o amor pela Capital, evidenciaram uma outra face de Junior.
É por isso que o MidiaMAIS foi tentar saber um pouco mais sobre quem é o homem por trás da máscara. Em conversa na Praça do Peixe, debaixo da sombra de uma árvore, a emblemática figura topou contar um pouco sobre a pessoa que dá vida ao Junior do Passeando.
Junior do Passeando por trás da máscara
Logo de início, ele revela que tem 37 anos e é mesmo nascido e criado em Campo Grande. O bairro e seu nome verdadeiro? “Deixa em off. Acham que eu sou do Nova Lima. Será?”, comenta.
Algum lugar preferido em Campo Grande? “Minha casa”, responde. “Mas, se viesse alguém eu levava aonde? Acho o Parque das Nações uma coisa de outro mundo, uma paz. O Aquário do Pantanal também”, entrega.
Nas horas vagas, o que o Junior gosta de fazer? “Hoje, depois de três anos, eu tenho hora vaga porque tenho uma equipe comigo. Eu era 24 horas mesmo, 7 dias por semana, totalmente com o celular na mão. Mas agora tenho quem cuida, então consigo ter à noite e fim de semana”, relata.
E é nesses horários que ele tira para fazer o que gosta. “Gosto de tomar cerveja, jogar videogame. Dá pra trabalhar jogando videogame, graças a Deus. Tomo tereré trabalhando, me divertindo. Antes de dormir, na hora que acordo, sou esse cara tererézeiro mesmo, nato, de verdade. Gosto muito”, detalha.
Ofício secreto
Em seguida, ele entrega que a estratégia de usar a máscara começou por necessidade. Quando o Junior do Passeando surgiu, em 2016, o campo-grandense tinha um emprego que não permitia, de forma alguma, que seu rosto viesse à tona. Nesse trabalho, que ele também prefere manter oculto, Junior lidava com pessoas e tinha uma rotina regrada. Resumindo, era conhecido por muita gente em Campo Grande.
Então, quando precisava evidenciar pontos críticos da Capital, colocava a máscara, o boné de aba reta, abria a câmera e empostava a voz, sem comprometer seu trabalho que lhe garantia o sustento. E foi assim, em uma live no Facebook em 2016, que o Junior do Passeando surgiu.
“A máscara veio em 2016. Até então, o Passeando era só com os memes. Em 2016 a gente fez uma live, um estúdio chamou a gente, e eu precisava da máscara. Porque eu não queria misturar meu ‘eu’ com o personagem”, diz Junior.
Depois de quatro anos conciliando o Junior do Passeando, a página Passeando em Campo Grande e o trabalho formal, em 2020 o mascarado campo-grandense deixou o ofício de sua formação acadêmica, saiu do emprego, e, desde então, vive apenas da franquia Passeando.
Marido e pai
Casado há 1 ano, Junior já teve outro casamento, do qual se divorciou. Do atual relacionamento, ele ganhou dois enteados, crianças de 8 e 10 anos, que considera como filhos. Eles sabem que o padrasto é o Junior do Passeando, mas demoraram um pouco a descobrir.
O criador de conteúdo não tem filhos biológicos e a experiência com os enteados tem lhe mostrado um pouco de como seria ser pai. “Eles são maravilhosos, eu sou fã das crianças. Talvez eu não tenha vontade de ter filhos não, mas de estar com eles, sim. É bom, bom de verdade. Eles vieram conhecendo o Junior do Passeando, assistindo a live com a mãe deles. E aí quando descobriram, ficaram assim, maravilhados: ‘ah, é você!’”.
O mascarado se considera um cara extrovertido, bem-humorado, que gosta de fazer as coisas acontecerem. “O Junior do Passeando é isso, ele gosta de transformar as coisas”. E atenção, ele sempre está em praças da cidade, sem a máscara. Será que alguém reconhece só pela voz? De acordo com o próprio, isso só aconteceu duas vezes em todos esses anos, mas ele negou até a morte que fosse o personagem.
Anonimato em Campo Grande: é possível?
Em Campo Grande, é possível ser uma figura pública e ainda assim ter sua identidade preservada da grande maioria? Ele afirma que sim. Contudo, é preciso ter um pouco de cuidado para a informação não vazar. “Deixo de ir em lugares a partir do momento que misturam o meu eu pessoal com o Junior, quando quem me conhece começa a me chamar de Junior se estou sem máscara”, dispara.
“O personagem fala mais rápido, tem uma voz mais malandra e anasalada. É a necessidade, até pra fugir da profissão que eu tinha. Pra não misturar. Eu não gosto que misturem o meu eu com o Junior. Quem me conhece como ‘eu’, eu gosto que me chama de ‘eu’, quem me conhece como Junior, gosto que me chama de Junior. Não gosto que fala ô fulano, se eu tô de Junior”, explica.
Por isso, para manter o segredo de sua identidade, é necessário se ausentar de algumas situações. “Evito sim de ir nos lugares porque o personagem é anônimo ainda. Já me perguntaram se eu me incomodo do Junior ser tão famoso e eu nada. A resposta é ‘não, não me incomodo nem um pouco’. Por mim que continue, por mim que seja isso”, afirma.
Algum dia, o Junior do Passeando pretende tirar a máscara?
“Não penso nisso, a menos que venha uma proposta. A vida está caminhando bem, pra que eu vou querer mudar a direção dela? Mas é plano de Deus”, garante ele quanto à possibilidade de um dia tirar a máscara e revelar sua identidade.
A imagem da máscara é do Troll, um dos primeiros memes da internet. Mais de 10 anos depois, apesar da figura ter ficado ultrapassada com o tempo, Junior também não pretende mudar o rosto de seu personagem.
“A menos que dê algum problema. Já virou a figura, já virou a característica. Se a gente muda muito a direção, pode ser perigoso o caminho que a gente toma. Eu já pensei em fazer uma máscara 3D, mas não acha”, acrescenta.
Amor por Campo Grande
As páginas de memes tiveram início como forma de lazer. Hoje, são o trabalho e representam 100% do ganha-pão de Junior. Toda sua renda vem do Passeando em Campo Grande.
Ele diz que o amor por Campo Grande sempre existiu, porém, a necessidade de mostrar e compartilhar esse sentimento nas páginas surgiu em 2018. Isso porque Junior começou fazendo críticas ácidas à cidade, mas sentiu um impulso ainda quando passou a enaltecer Campo Grande e suas belezas, espalhando uma espécie de patriotismo à Capital.
“Quero deixar florar esse amor do campo-grandense, despertar isso nas pessoas. Quando comecei a fazer isso, o jogo virou. Eu gosto de mostrar a verdade, mas também de mostrar que tem coisa muito mais bonita do que coisa feia”, afirma.
O feedback também é algo que motiva Junior, além do carinho pela cidade que nasceu e do dinheiro que ganha com isso. “Quando criei o Passeando, eu nunca imaginei que teria essa repercussão e que um dia se tornaria minha profissão”, relata.
“Tanto que eu larguei minha formação acadêmica pra viver disso, mas antes pensava que ia passar a vida toda conciliando. Já recebi mensagem de gente falando ‘seus vídeos mudaram meu dia’, ‘eu tava em depressão e seu conteúdo me alegrou’. Isso me deixa muito feliz. Eu vivo disso aqui, eu vivo do Passeando, eu vivo de Campo Grande”, finaliza o mascarado, sem revelar sua verdadeira identidade.
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