Dourados, em Mato Grosso do Sul, seria o destino final. Após uma missa, pontualmente às 13 horas, saía de Paranaguá, no Paraná, o padre Adelir de Carli, de 41 anos. A intenção era fazer um voo como forma de protesto para a situação de crianças carentes, além de ajudar caminhoneiros, buscando recursos para a “Pastoral Rodoviária”. A viagem frustrada, com corpo localizado meses depois, completou 15 anos nessa quinta-feira (20).
Um piloto especialista, que atua na aviação civil de Mato Grosso do Sul há 15 anos, ressaltou que o padre, infelizmente, fez “uma loucura” e “jamais chegaria em Dourados”. “Mesmo não sendo técnico, é algo que, a olho nu, seria uma coisa impossível. Não tem como navegar, é algo que cientificamente fica impossível porque ele subiu e ficou mais leve que o ar. Desta forma, não tem direção, o vento vai levando, podendo sofrer as intempéries da meteorologia, da natureza do espaço onde está”, explicou.
Conforme o piloto, neste caso não se trata nem do balonismo, que é um esporte aéreo praticado com um balão de ar quente. “Neste caso, o equipamento, que é o balão, é preparado, tem resistência e calor, consegue navegar com o vento, porém, é feito um planejamento para levantar. O piloto, neste caso, sobe e desce dependendo do calor. Existe um cesto embaixo do balão, que é um material resistente”. ressaltou.
No caso do balão com gás hélio, ainda de acordo com o piloto, é um material que não possui resistência. “O ar lá em cima é rarefeito. É por isso que uma pessoa, por exemplo, sente dor no ouvido quando sobe e desce muito rápido. O ar que está no nosso ouvido não consegue sair. São estudos que são feitos pelas leis da Física e Dinâmica da Meteorologia, sendo impossível a execução de um voo seguro naquelas condições”, finalizou.
Relembre o caso:
- Adelir iniciou a aventura no dia 20 de abril de 2008, decolando ao céu sentado em uma cadeira de plástico, suspensa por mil balões de gás hélio
- O voo tinha intenção inicial de ser por 20 horas, porém, com o tempo nublado, o padre atingiu uma altitude de 5.800 metros acima do nível do mar, muito mais rápido do que se esperava e logo perdeu contato
- Na ocasião, Adelir estava equipe com paraquedas, GPS, celular, colete salva-vidas, além de comidas e bebidas
- O último contato foi feito às 21h do mesmo dia, com o Graer (Grupo de Radiopatrulhamento Aéreo) de Joinville (SC), quando o padre disse que saiu da rota e estava pousando no mar
- Padre tinha desejo de bater um recorde de permanecer 20 horas no ar. A inspiração dele foi a história do norte-americano chamado Larry Walters, que em 1982 amarrou 42 balões de gás hélio a uma poltrona e arremeteu-se a 16 mil pés.
- Antes desta viagem o padre já tinha feito um voo com 500 balões até San Antonio, na Argentina, ficando cerca de quatro horas no ar. Isso tudo no mesmo ano, em 2008.
Desaparecimento
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Naquele período, foram feitas buscas intensas pelo padre, envolvendo a PM (Polícia Militar), FAB (Força Aérea Brasileira) e a Marinha. Após alguns dias, ainda conforme relatos na época, houve relatos de avistamento de balões em cidades litorâneas de Santa Catarina, então, o trabalho de resgate ficou concentrado ali.
Três meses depois, o corpo foi encontrado no Rio de Janeiro. Na ocasião, um rebocador que prestava serviço para a Petrobras, na costa do município de Maricá, encontrou os restos mortais de Adelir, ainda com a mesma roupa e mochila do dia do desaparecimento.
Após exame de DNA, foi confirmada a identidade e houve o sepultamento na cidade natal do padre, que é Ampére, a cerca de 520 quilômetros de Curitiba (PR).
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