‘Em pé’ em poucas horas: conheça os bastidores do circo e como é a rotina de um circense

Megaestrutura é carregada em caminhões, de uma cidade a outra e circenses se desdobram entre as apresentações, ensaios e atividades no trailer

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Família de circenses no trailer em que mora, em Campo Grande. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Poucas coisas são tão nostálgicas na vida quanto um passeio ao circo: o formato circular das arenas romanas, a mistura de cores, a réplica de animais na entrada, a iluminação intensa, o cheiro de pipoquinha no ar e a expectativa pelos palhaços e números artísticos. Tudo, absolutamente tudo, é atrativo, independente da idade. Mas alguém aí, que “dormiu” vendo um espaço vazio e, do nada, passou por ele preenchido com esta megaestrutura, já imaginou como é a vida de um circense? Veja vídeo ao final da matéria.

Circo está instalado no estacionamento de um shopping. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Quando chegam ao destino, descansam um pouco e tudo recomeça. São horas exaustivas de viagem em caminhões com toneladas de equipamentos, além de trailers dirigidos por um artista, que também vende churros antes de cada espetáculo, ensaia, cuida do filho, ao mesmo tempo em que outro parceiro é quem equilibra as bolinhas, cuida da iluminação e faz ligação de vídeo para um parente que ama e que, por conta da correria, só consegue visitar uma vez por ano. Pois é, amor define. Doação pela arte define. Trabalho duro define.

E extremamente curiosa com os bastidores do circo, a equipe do MidiaMAIS foi assistir ao espetáculo do Circo Mundo Mágico e já buscou saber quem era o responsável por manter cerca de 50 pessoas nesta temporada, em Campo Grande. Com a entrevista marcada, dias depois retornamos para conversar com uma família circense, a qual inclusive já está sendo reconhecida pelo talento a nível nacional e mora em um trailer de 9 m².

Quarta geração da família: equilibrista nasceu no circo

Vitor é de família tradicional circense e nasceu no circo. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

“Eu sou de família tradicional circense. Minha história começa no circo Espacial, que é muito antigo e também tradicional no Brasil. Meus pais, avós e bisavós já trabalhavam em circo, então eu só dei continuidade e estou nesse meio desde que nasci. A minha primeira aparição, no caso, foi no Beto Carreiro, aos três anos. Fui palhacinho em meio aos palhaços. Aprendi tudo com os meus pais e hoje nós fazemos três apresentações: eu, minha mulher e meu filho. O circo está no meu DNA“, contou o equilibrista Vitor Santiago Júnior, de 35 anos.

Aos seis anos, mesma idade que o filho estreou nos palcos, Vitor disse que já tinha um número no circo. “Eu participava na hora da acrobacia em gangorra e, desde criança, fui me acostumando com esta rotina de ficar trocando de cidade. E aí tem os prós e os contras. Geralmente, quando a gente faz amizade na cidade, logo tem que sair. E quando a gente acostuma com o mercado, shopping, tudo, aí trocamos tudo de novo. Tem a fala também, porque uma hora estamos no nordeste e outra hora no sul do país, mas, a gente logo vai se acostumando”, comentou Santiago.

Vitor ensinou o filho a arte do malabarismo. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Sobre a apresentação, Vitor ressalta que “treina muito”, mantendo o ritmo com academia e “sentindo o aplauso do público”. “A gente se apresenta e vai vendo o que gostaram e o que não foi tão aplaudido. É este termômetro, que vem do aplauso, que nos faz ver o que estão gostando mais. Daí a gente vai só adaptando uma coisa ou outra, mas, é o público que decide sempre”, afirmou.

Ao falar da esposa, a bailarina e também equilibrista, Vivian Aparecida de Almeida, de 39 anos, Vitor disse que o número do casal nos palcos foi acontecendo naturalmente.

Casal circense no palco. (Letícia Moia/Arquivo Pessoal)

“Eu a conheci através de outra companhia, que tinha parceria com o circo onde eu estava e aí ela acabou deixando e vindo pro circo comigo. Depois, veio o nosso filho Felipe e ele, assistindo a gente, também ficava imitando e logo começou a ensaiar e trabalhar. Aos seis anos, mesma idade do meu primeiro número, ele começou a se apresentar”, relembrou emocionado.

Além dos palcos, o casal e toda a equipe do circo também divulgam o trabalho nas redes sociais. “Os circenses todo se conhecem e aí a gente vai postando uma coisa ou outra e acaba divulgando bastante o nosso trabalho também. Sempre tem alguém bem famoso na internet que nos filma, alguém que é televisão, site e aí acabam divulgando também”, explicou.

‘Deu match no circo’: bailarina se apresenta ao lado do marido

Vivian era bailarina, se especializou na arte circense e se apresenta há 11 anos. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Bailarina, equilibrista, circense, dona de casa e mãe orgulhosa. As múltiplas funções definem Vivian, que se tornou artista aos 3 anos. “Eu era do teatro e cheguei a me apresentar até em navio de cruzeiro, mas, circo mesmo nunca tinha trabalhado. Aí eu estava em uma companhia de teatro, há 11 anos, quando conheci o meu marido e aí fiz especialização para aprender números circenses e agregar ao circo. Hoje em dia temos números fixos”, afirmou.

Entre um intervalo e outros das apresentações, Vivian disse que a rotina é intensa. Já durante a noite, em algumas ocasiões, o grupo costuma fazer jantares comunitários, assando carne ou então cada um levando um prato.

Felipe durante apresentação no circo. (Letícia Moia/Arquivo Pessoal)

“Estamos 24 horas na nossa casa e no nosso trabalho. Não temos essa separação, então, é cuidando do filho, lavando roupa, fazendo almoço, ensaiando, treinando, espetáculo, volta, dá algo pro filho comer, leva para escola, busca, somos vendedores também, então, fazemos os nossos produtos, é intenso mesmo, mas, a gente gosta bastante. E aqui é um cuidando do outro”, contou.

Felipe em seu quarto no trailer. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Sobre a saudade da família, Vivian comenta que o filho, o estudante e malabarista Felipe Almeida Santiago, de 9 anos, aguarda ansiosamente pelo final do ano.

“Eu sempre viajei trabalhando, mas, antes do circo, voltava com mais frequência. Agora, a gente só vê os parentes uma vez ao ano. Os avós sentem bastante falta do Felipe, mas, só vamos pra casa em dezembro”, explicou.

Por fim, Vivian fala que a melhor notícia é ver o filho dando continuidade na história deles. “Todo mundo fala que dá pra ver no meu semblante o quanto estou orgulhosa. A rotina de estudos dele não é fácil, principalmente por conta da troca de cidade e aí precisa de reforço às vezes. Mas, ele é bem esforçado e é lindo ver ele conosco. É alguém que está seguindo com a gente e vou guardar isso para o resto da vida na minha memória e no meu coração”, falou.

‘Gosto de ser aplaudido’, diz filho de casal circense

Garoto aprendeu malabarismo com o pai. (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

O estudante e malabarista Felipe, comentou que, assim como o pai, se apresentou pela primeira vez ao lado dos palhaços. Em seguida, foi aprendendo vários truques com o pai e ainda acrescentou coreografias.

“Fui colocando no meu número isso e também as danças, que agradam bastante. Eu geralmente ensaio quando meus pais se apresentam ou então fico no trailer. Só vou para os bastidores quando é um número antes do meu. Aí já fico pronto e me apresento. Gosto de ser aplaudido. No palco eu sou o Michael Jackson”, finalizou.

Veja o depoimento dos circenses:

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