Supervisora e no comando de 30 pessoas, Priscilla é mulher trans que impõe respeito com exemplo e simpatia
Ela atua há 14 anos em hospital de MS, mas fala que ambiente nem sempre foi cordial e precisou ‘aprender a se defender’
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Mesmo com o vai e vem do hospital e os funcionários uniformizados, é difícil ela passar despercebida. De salto alto, com ‘make’ que mistura dois tons de batom, cabelo arrumado e sorriso no rosto, Priscilla Barbery, de 38 anos, é a supervisora da Santa Casa de Corumbá, de onde comanda 30 pessoas e impõe respeito com exemplo e simpatia.
Só que, em 14 anos de trabalho, o ambiente nem sempre foi cordial. Mulher transexual, Priscilla passou por muita luta e isso exigiu força e coragem para romper barreiras. Atualmente, ela é bacharel em direito e inclusive fez este curso para, como diz, “aprender a se defender” e garantir os seus direitos.
Na Associação Beneficente de Corumbá, a chamada Santa Casa, ela chega às 7h30. Na entrada, já vai conversando com os colegas da portaria, da recepção, até o que considera principal: levar acalento aos pacientes, aos familiares que aguardam por notícias e até orienta os funcionários, caso encontrem alguém mais irritado pelo caminho.
“Eu falo que é o momento em que os pacientes, os familiares, todos estão tristes e passando por um problema, então, nós precisamos estar bem e é até por isso que vou sempre arrumada e feliz. Falo para os meus colegas agirem da mesma forma e, talvez só um sorriso nosso, já ajuda a diminuir um pouco o sofrimento. Quando alguém xinga, digo ao funcionário que pode esperar que essa pessoa vai voltar e pedir desculpas. E eles me contam, isso sempre acontece. É o momento”, afirmou Priscilla ao Jornal Midiamax.
No decorrer do dia, Priscilla fala que resolve as demandas e percorre todos os departamentos do hospital. “Eu entrei aqui como telefonista, tinha o PABX na época. Depois, fui para recepcionista, passei pelo setor de faturamento e, com toda essa experiência, passei para a supervisão. Essas pessoas me conheceram como uma mulher trans e isso também ajuda até as pessoas homossexuais, trans, LGBT em geral, que passam pelo hospital. Todos são tratados com muito respeito”, argumentou.
Em 2011, no entanto, a supervisora passou por situações lamentáveis e que a fizeram até ser “rebaixada” de cargo e que tiveram de ser resolvidas na Justiça.
“Eu entrei na supervisão em 2011. Foi a primeira vez neste cargo, só que, em seguida, mudou a direção do hospital. Um dos diretores começou a me perseguir, de todas as maneiras possíveis. Ele me chamava no nome masculino para me atingir e tudo isso me fazia mal, a ponto de ter que tomar remédios antidepressivos”, relembrou Barbery.
Perseguição no trabalho e reviravolta
Na época, Priscilla fala que levou o caso ao MPT (Ministério Público do Trabalho) e recebeu parecer favorável. “Por conta de toda essa perseguição, eu entrei no curso de direito para aprender a me defender. Em 2013, ele me tirou do cargo. Continuei estudando, trabalhando, até que, em 2017, mudou a administração novamente e, após 6 meses, já voltei para o cargo de supervisora”, disse.
Emocionada ao relembrar a luta, Priscilla fala que se orgulha ao ter dado “a volta por cima”. “Sofri toda a perseguição, fui humilhada em alguns momentos e tive que sair do cargo. Mas, tudo isso me impulsionou para frente e eu até falo para as pessoas que agradeço o que ele [ex-diretor] fez comigo. Eu só não ficava na expectativa de ser mandada embora porque participava da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), então, ele queria que eu saísse e me dava motivos. Eu quase fiquei doente, mas, não desisti”, argumentou.
Neste ano de 2022, Priscilla está formada e prestando concursos. “Eu terminei a faculdade em 2019, só que aí veio a pandemia e eu diminuí os estudos. Chegava muito cansada do hospital, quase nunca saía no horário. Agora, voltei com o ritmo porque pretendo tirar a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e atuar na área penal, além de prestar concursos”, explicou.
Processo natural de mudança
Sobre a mudança, Priscilla diz que este foi um processo natural e que começou na adolescência. “Acho que, desde sempre, eu já me identificava desta forma. Só que, quando fui entender um pouco mais, comecei o meu processo: tomei hormônio, fiz a minha primeira cirurgia e aí pedi para ser tratada pelo meu nome social”, comentou.
Desde então, a supervisora fala que vive uma quebra de tabus na sociedade. “Não é algo fácil. Exige força e coragem e o que mais nos entristece é lutar por direitos que já existem em nossa constituição, porém, a sociedade nos coloca como diferentes ou minorias, mas usei tudo isso como combustível para seguir e jamais me vitimizar diante as adversidades”, finalizou.
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