Nem as sucuris escapam do machismo da sociedade. O alvo da vez é uma fêmea em período de reprodução que acasalou com 4 machos em Mato Grosso do Sul.

A prática do sexo em grupo é comum para a espécie, que pode chegar a copular com até 12 machos de uma só vez. O flagra do acasalamento foi feito esta semana pelo guia turístico Vilmar Teixeira, no Rio Formoso, em Bonito, e chocou os sul-mato-grossenses mais conservadores que desconhecem como funciona a reprodução das sucuris.

“Safada”, “quenga”, “biscat*”, “gulosa”, “biscat* véia”, “depois vai querer exame de DNA”, “Que sucuri quente, um não é suficiente”, “danada”, “cachorra” e “galinha” foram alguns dos comentários preconceituosos e considerados machistas por parte da população, que se manifestou nas mídias sociais diante da notícia do acasalamento.

Assista ao vídeo:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=270&v=z-JOtYNphK0&feature=emb_title

As opiniões causaram choque e escancararam o julgamento para com a fêmea de uma espécie animal, da mesma forma como acontece com os seres humanos.

Apesar de surpreender pela quantidade de sucuris machos fazendo sexo com uma única fêmea ao mesmo tempo, o comportamento faz parte da natureza dessas majestosas rainhas do Pantanal.

Além de tudo, a fêmea ainda pode matar algum de seus parceiros e devorá-lo após o ato sexual, prática que é denominada como canibalismo sexual de sucuris.

Mais de 10

Especialista em sucuris-verdes, o biólogo, fotógrafo e jornalista Daniel De Granville conviveu com a espécie por mais de 14 anos em Mato Grosso do Sul e explica como essas cobras se reproduzem.

“As sucuris possuem um sistema de acasalamento chamado ‘poliândrico’, onde uma única fêmea copula com vários machos (às vezes mais de 12!) que se revezam no processo”, esclarece ele, em conversa com o Jornal Midiamax.

Há ainda quem confunda o grupão com uma mãe acompanhada de seus filhos. “Elas são muito maiores e mais pesadas do que eles, então, às vezes, as pessoas encontram este agregado e pensam que é uma fêmea com seus filhotes, quando na realidade é acasalamento”, pontua o fotógrafo que já flagrou uma fêmea acasalando com 10 machos em MS.

Veja:

Canibalismo sexual de sucuris

Alvo de fascínio, curiosidade e interesse geral, sucuris também são canibais – isto é, podem chegar a se alimentar da própria espécie. Conforme o biólogo Daniel De Granville, este comportamento não ocorre sempre, é algo ocasional, e leva o nome de canibalismo sexual de sucuris.

O termo “canibalismo sexual”, segundo De Granville, se deve ao fato da selvageria de se alimentar da própria espécie ocorrer após o acasalamento e ser praticado, especialmente, pelas fêmeas, que matam e devoram o macho assim que a cópula termina.

Mas, por que fêmeas matam e comem os machos depois do acasalamento? A explicação é bem simples. “Durante o período de gestação (que dura entre 6 e 7 meses), as fêmeas não se alimentam, pois precisam deixar espaço em seus corpos para o desenvolvimento dos filhotes, já que elas não botam ovos. Então, após o acasalamento, a fêmea pode se alimentar de um dos machos como uma última fonte de energia antes deste longo jejum”, esclarece Daniel ao Jornal Midiamax.

Primeira foto de canibalismo sexual de sucuris foi feita em MS

A imagem a seguir foi feita pelo fotógrafo Luciano Candisani, no fundo do brejo do Rio Formoso, em Bonito. De tão impressionante, o registro foi parar até na National Geographic.

Segundo a National Geographic, trata-se da primeira foto no mundo que conseguiu captar esse raro comportamento das sucuris: quando a fêmea mata e devora o macho após o acasalamento. A captura fantástica mostra uma sucuri-verde estrangulando o seu parceiro após a cópula. Confira:

Após o acasalamento, como agem as sucuris?

Além de devorarem seus parceiros e pais de seus filhos, as sucuris também não possuem qualquer instinto materno. “Pelo que se sabe dos estudos, não há cuidado parental. Os filhotes nascem e rapidamente já se dispersam, precisam começar a se virar logo após o nascimento”, pontua o biólogo.

Os pais, por sua vez, podendo ser assassinados, também não chegam a desenvolver laço afetivo com os filhos. “Em tese não há qualquer contato, já que os encontros entre as fêmeas e machos geralmente ocorrem apenas durante a época de reprodução. Durante a gestação, elas ficam solitárias e escondidas”, detalha o especialista em sucuris ao MidiaMAIS.

Filhote de sucuri solto na natureza - (Foto: Reprodução/YouTube/Terra da Sucuri)
Filhote de sucuri solto na natureza – (Foto: Reprodução/YouTube/Terra da Sucuri)

Por fim, um bebê sucuri precisa se virar sozinho: ele nasce e já é solto pela mãe na natureza. Seu pai pode ter sido devorado pela matriarca ou simplesmente ter “sumido” após o sexo. Mas, até para isso há uma explicação:

“Não existe aquele cuidado que a gente costuma ver em pássaros ou mamíferos, por exemplo, onde os pais (ou apenas a mãe, dependendo da espécie) fornecem alimento aos filhotes até que eles consigam sobreviver por conta própria. Este pode ser um dos motivos pelos quais as sucuris têm uma quantidade muito maior de filhotes (em média 30) do que um tucano ou uma onça, por exemplo, já que uma porcentagem pequena conseguirá atingir a vida adulta”, finaliza ele.

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