Já dizia o sociólogo Max Weber que o ‘trabalho dignifica o homem’, colocando a função profissional numa das ações sociais mais nobres do ser humano. Para Newton Pereira de Oliveira, a premissa nunca foi tão válida. Completando 90 anos neste sábado (9), o empreendedor não larga a função por nada. Dono de uma distribuidora de castanhas do Pará há 26 anos em Campo Grande, ele afirma que trabalhar é o seu maior prazer. Apesar da idade avançada e de algumas limitações, o empreendedor sequer pensa em se aposentar. 

Essa história começa em 1996, quando Newton fundou a sua empresa na Capital. Inicialmente comercializava apenas guaraná, razão pela qual denominou o empreendimento de ‘Cacique’, fazendo referência à fruta presente na cultura indígena. Mas foi em 2004 que passou a vender castanhas do Pará até que, tempos depois, ela virou o carro-chefe de vendas. 

Castanha do Pará com casca
Castanha do Pará com casca, antes de processo de limpeza (Foto: Stephanie Dias/Midiamax)

A sede já passou por várias regiões e a última foi fundada em 9 de abril de 2019 — no mesmo dia do seu aniversário — e completa três anos hoje também. Atualmente, Newton atende várias lojas, supermercados e empórios de Campo Grande e interior. À frente de uma microempresa de regime familiar, ele afirma que o seu maior prazer na vida é, de fato, trabalhar. Ao MidiaMAIS, o simpático senhorzinho afirma ser um chefe mandão e gosta das coisas do seu jeito.

“Tem que trabalhar! O trabalho faz parte da vida, o trabalho faz parte da diversão da vida da gente […] às vezes a gente briga com os parentes, mas eu sou o dono então tenho que manter ali. Porque senão você começa, pega orientação de um, pega palpite de outro e você acaba não virando nada”, brincou ele. 

Idade não é limite para sonhos

Os 90 anos de idade não são nada limitantes para Newton. Lúcido e superinteligente, é ele quem limpa as castanhas, faz as entregas, mantém contato com os clientes e realiza as vendas. Além disso, afirma ter boa memória e não precisar de anotações.

Foi com os 26 anos de trajetória profissional que o empresário conquistou sua independência e, também, conseguiu ajudar no sustento familiar. Newton tem três filhos, dois netos e um bisneto. Para eles, é unânime: o icônico senhor trabalha para ajudar quem ama.

“Eu me sinto honrado, porque ganhar dinheiro eu não tô ganhando. Mas eu tô dando a assistência aos meus parentes, tô dando emprego para eles […] então eu vou morrer e não levar nada mesmo. O que eu fizer pra estar dando conta de pagar eles e as dívidas, está bom demais”, diz Newton.

Danielle, neta de Newton, na empresa
Danielle, neta de Newton, é grata pelas oportunidades dadas pelo avô (Foto: Stephanie Dias/Midiamax)

Eni da Silva Oliveira, de 52 anos, é uma das filhas. Ela começou a trabalhar na distribuidora 14 anos atrás com a proposta de levar novas ideias. Hoje, ela não atua mais na empresa, mas passou o posto para a filha, Danielle Oliveira Brito da Silva, de 28 anos. Desde 2013 no cargo, a jovem só tem a agradecer ao avô.

“É muito gratificante, ele ajuda muito a gente, não tem o que reclamar em questão disso. Ele paga a gente muito bem, o que a gente tem é graças ao emprego que ele dá pra gente”, disse Danielle.

Conquistas valeram a pena

Primeiro a chegar e o último a ir embora da empresa, o idoso fica emocionado ao recordar da sua história. Durante a entrevista, Newton conta com orgulho uma das suas primeiras conquistas que vieram com o suor do seu trabalho. 

“Eu comecei a abrir firma sozinho e foi o ano que já consegui ganhar um dinheirinho. Em 99 eu trabalhava sozinho, eu não tinha código de barra, não tinha telefone, não tinha computador, e dentro de um ano eu consegui comprar uma casa”, disse, com os olhos marejados. 

Sequer pensa em se aposentar

Dono de uma história emocionante e, também, de uma saúde de ferro, Newton atualmente só tem pressão alta e alguns problemas na audição. Mesmo assim, para ele, nada é motivo para largar o ofício. “A gente dá um jeito, o freguês não sai sem a castanha, não!”, conta, com bom humor. 

Questionado se pretende se aposentar em breve, Newton é sucinto ao afirmar que tem condições para continuar trabalhando. 

“Enquanto eu aguentar fazer alguma coisa, eu tenho que fazer. Quando eu não puder fazer mais nada, aí vou fazer o quê? Vai chegar um dia que vai ter que parar”, concluiu. 

No dia do seu aniversário, então, a comemoração é dupla: os seus 90 anos de idade e os três anos da sede nova da empresa, localizada no Parque dos Laranjais. 

Mesmo que a sua aposentadoria ainda seja uma incógnita, de uma coisa toda a família tem plena certeza. Newton construiu uma história de vida digna de aplausos. Em 90 anos de experiências inesquecíveis, a principal delas é o compromisso com o sonho. Um legado deixado por poucos, mas que, para Newton, é uma lição diária. 

Newton, filha e neta na empresa
Newton entre a filha, Eni, e a neta, Danielle (Foto: Stephanie Dias/Midiamax)

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