Um dia qualquer da semana e Yvelaine Isabel dos Santos, de 42 anos, postou nas redes sociais uma foto com a hashtag “#depeitoaberto”. É justamente o que representa a jornalista, que passa por uma transformação de vida, de dentro para fora, há 5 anos enfrentando câncer, cuidando da família e ainda superando a perda dos pais durante a pandemia, em Campo Grande.

Mãe de meninas de 6, 9 e 11 anos, Isa, como é conhecida, divide a rotina cuidando delas e também trabalhando em prol das pessoas que lutam contra o câncer. Mesmo com toda batalha, está sempre com sorriso no rosto, usando em sua maioria roupas rosas, por conta de toda a simbologia que a cor envolve, além de ter sempre uma palavra amiga para quem a conhece.

“Tive diagnóstico em abril de 2017. Lembro que tinha acabado de deixar de amamentar minha filha caçula, fazia uns 40 dias. Fui fazer um check-up normal e, durante um ultrassom, os nódulos foram descobertos. Na época, lembro que o médico ficou muito preocupado, pediu um exame mais profundo e aí tive o diagnóstico: carcinoma invasivo ductal grau nuclear II”, relembrou Isa.

Conforme a jornalista, foi “bem assustador e difícil” ouvir aquelas palavras na época. “Levei os exames para minha ginecologista e ela confirmou o câncer, me encaminhando para uma mastologista. Passei por algumas, até chegar no meu mastologista, Orivaldo Gazoto, que me acompanha até os dias de hoje”, disse.

Jornalista passou por grande transformação e diz que “ficha demorou a cair”

Isa ao lado das três filhas. Foto: Isa Santos/Arquivo Pessoal
Isa ao lado das três filhas. Foto: Isa Santos/Arquivo Pessoal

No dia 19 de abril de 2017 Isa então passou por um “divisor de águas” e entendeu que uma grande transformação estava iniciando na vida dela. “Tinha uma vida antes e passei a ter outra depois, com três crianças, só que tive sempre estrutura familiar: pai, mãe e marido comigo. Ainda assim não digo que foi fácil, porque parece que a ficha demora a cair. Você acha que não é verdade”, argumentou.

Um mês se passou e Isa passou pelo primeiro procedimento, fazendo a mastectomia subcutânea no dia 18 de maio de 2017. “Foi retirada toda mama e feita a reconstrução com próteses. Foram retirados três linfonodos, já que o câncer estava em grau 2 e atingiu a axila também. Depois, fui para o tratamento. Passei 45 dias com amarrações, sem poder pegar na minha bebê e foi muito sofrido, principalmente porque não podia pegá-la no colo, tudo o que ela queria naquele momento, após fim da amamentação”, disse.

Isa passou por quimioterapia, radioterapia e, em seguida, chegou a pandemia

Passado este momento, Isa iniciou a quimioterapia. “Fiz 8 sessões e foi ali que realmente caiu a ficha. Você recebe uma droga do bem, para matar a célula cancerígena, só que ela acaba matando o paciente um pouco também. Mas fui encontrando forças em Deus, na família e amigos. Consegui fazer em quatro meses, sendo que o normal é em seis, a cada 21 dias o ciclo. No entanto, queria muito terminar o tratamento e minha médica concordou em fazer a cada 15 dias, principalmente se o meu corpo suportasse”, explicou.

O próximo passo foram as sessões de radioterapia, em novembro de 2017. “Teve início em novembro de 2017 e terminei em 26 de dezembro de 2018. Foram 28 sessões e, é claro, que tive sequelas como limitações e cansaço, mas, fiquei bem, fazia atividades físicas. Tudo foi bem até o ano de 2020, com a chegada da pandemia, um ano difícil para todo mundo”, argumentou.

Naquele ano, logo no início, Isa perdeu a mãe. “Ela faleceu em março e até hoje não sabemos se foi covid. Estava tudo no início. Isso deixou meu pai muito abalado. Mais de 50 anos de casados, então, ele ficou um tempo morando comigo, um tempo morando com meu irmão. Após dois meses, tive um novo diagnóstico de metástase óssea, ou seja, o câncer havia evoluído para coluna T12 e o sexto arco costal”, falou.

Em 8 meses, jornalista perdeu mãe, pai e teve reincidência do câncer

Jornalista ficou muito frágil com o tratamento e chegou a quebrar braço e fraturar coluna. Foto: Isa Santos/Arquivo Pessoal
Jornalista ficou muito frágil com o tratamento e chegou a quebrar braço e fraturar coluna. Foto: Isa Santos/Arquivo Pessoal

No ano de 2020, durante o novo tratamento, o pai da Isa também adoeceu. “Foi difícil. Meu pai doente, ainda enlutado, foi fazer uma cirurgia vascular e pegou covid em dezembro de 2020, falecendo no dia 3 de janeiro de 2021, então, em 8 meses, perdi minha mãe, pai e tive a reincidência do câncer. Fiquei tão frágil, até quebrei o braço”, lamentou.

Após um tempo, por recomendação médica do próprio oncologista, Isa voltou a praticar uma atividade que gostava, até como terapia. “Fui fazer vôlei de areia e, na terceira aula, fraturei a coluna. Fiquei 70 dias no colete e teve toda essa batalha de lidar com pandemia, luto de pai e mãe, reincidência do câncer e as 3 crianças”, disse.

Mesmo assim, Isa fala que o paciente oncológico consegue sobreviver e até ter qualidade de vida, principalmente se tiver foco na cura. “Estou nessa sobrevida há 5 anos. A gente tem limitações. Eu, por exemplo, fui colocada na menopausa há 2 anos, quando já estava com 40, então, as medicações travaram os meus ovários. Meu sistema imunológico e interno é de uma mulher de 40 anos, mas, passou para 60 sem eu ter esse processo de envelhecimento”, ponderou.

Recentemente, Isa fala da batalha com a coluna. “Foi tudo muito rápido esse processo, então, veio a osteoropose. Com isso, tive uma nova fratura na coluna e tomo muito cuidado para não levar tombos. Falo de tudo isso com leveza, vou encontrando força em Deus e acredito que todos nós temos um propósito, todos temos uma cruz. E não acho a minha tão pesada assim. Tudo o que acontece de ruim na nossa vida é para um aprendizado”, afirmou.

‘Vocês são anjos’: conversa com oncologista foi muito importante para jornalista

Em uma das consultas, em um momento de extrema dificuldade, a jornalista ressalta que uma conversa com a oncologista foi uma grande lição. “Eu achava que não ia aguentar, que ia surtar e ela disse: ‘Vocês, meus pacientes oncológicos, são pessoas abençoadas por Deus, porque possuem a chance de olhar a vida de outra forma. Acredito que são anjos, que Deus colocou a mão e vocês conseguem olhar a vida de outra forma’. É algo que sempre carrego comigo”, ressaltou.

Em momento de controle da doença, Isa faz acompanhamento, convive com o câncer e diz que vale a pena viver. “Precisamos ser fortes e corajosos, nos apoiar em Deus. A tempestade passa. Trabalhei como jornalista, fui para o empreendedorismo, nunca parei desde o diagnóstico da doença. Penso que o sol nasce e a gente continua”, finalizou.