Uma lenda viva entre os automóveis que já rodaram pelo solo brasileiro pode ser encontrada em Campo Grande, no bairro Piratininga. Trata-se de um Gurgel BR 800 de 1989, que opera mecanicamente bem nas mãos da mesma família há mais 20 anos, transportando cargas, pessoas e histórias pelas ruas de Mato Grosso do Sul. Mas qual o segredo desse ‘legítimo brasileiro’? O Jornal Midiamax foi conhecer essa relíquia de perto para desvendar os mistérios guardados embaixo desse capô.
O carro pertence ao marido da dona de casa Maria Aparecida Lopes Cabanha, de 65 anos. Um dos filhos comprou o veículo há quase 20 anos e posteriormente vendeu ao pai. Hoje, ele é usado por toda a família. “Meu filho usa para ir trabalhar e a gente também vai para a chácara com ele. Já carreguei muita coisa com ele: mandioca, fruta e leite para vender na cidade”, disse ela.
Dona Maria só descobriu o peso histórico do carro recentemente, quando o filho começou a descobrir na internet. Depois de descobrir que o carro era de fabricação brasileira, o filho Luciano Lopes começou a se interessar mais pelo Gurgel BR 800 e a desbravar a sua história.
“Na época que compramos nós não sabíamos [da fama dele], depois a gente foi descobrindo e procurando informações. Na rua todo mundo passa e fica olhando. As crianças falam que parece um carro de brinquedo”, disse ele.
Mecânica invejável
Em relação a manutenção do veículo, Luciano explica que o custo para manutenção é baixo, e que o Gurgel BR 800 não é de dar problema. “Tem alguns reparos, como troca do cabo do acelerador e freio, amortecedor, mas são coisas básicas. Prejuízo não tem. Procuro muito pela internet e nos grupos. Tem várias peças de carro populares que servem para ele, principalmente de fusca”, disse ele.
Com seu motor 1600, a autonomia relatada foi de 12km por litro e uma engenharia de dar inveja. “Teve um período que ninguém estava usando ele, ficou parado por um ano. Demos partida nele e funcionou normalmente. Tivemos que fazer a parte de cima do motor por conta da idade, mas não chegou a fundir. É o mesmo motor do fusca”, detalhou.
Durante a visita da equipe de reportagem do Jornal Midiamax, o Gurgel BR 800 ficou ligado por 20 minutos sem apresentar oscilações no motor ou apagar, até ser desligado através da chave.
Paixão que ficará para a próxima geração
O marido de Maria, Felipe Cabanha de 67 anos, é pintor automotivo e até customizou o Gurgel BR 800 para a copa de 2000. “Na copa de 2000 meu marido pintou ele de verde e amarelo. Ele era só verde”, disse ela.
Além de ser usada para carregar pessoas e cargas, a família desenvolveu um vínculo emocional pelo veículo e pretender perpetuar a sua história para a próxima geração.
“Já ofereceram R$12 mil, mas recusamos. Quando compramos era as condições que a gente tinha. É o orgulho da gente, foi o segundo carro que a gente teve. Como ele é histórico pretendemos ir cuidando e deixar ele na família. Pro meu neto”, explicou.
